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Livro revela bastidores da Lava Jato

Youssef começou vendendo salgadinhos a contrabandistas; Costa se traiu em meio a um engarrafamento. Os detalhes do enredo da operação que desvendou o maior esquema de corrupção no país

Por Thiago Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 jun 2016, 20h17

Responsável pela virada histórica na forma como a justiça brasileira investiga atos ilícitos dos poderosos, a operação Lava Jato não para de escancarar escândalos. Para quem anda perdido com tantas revelações, o livro Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil​ (Editora Primeira Pessoa; 400 páginas; 39,90 reais), a ser lançado na semana que vem pelo jornalista mineiro Vladimir Netto, tem o mérito de organizar e trazer à tona novos detalhes sobre o enredo do maior esquema de corrupção já desvendado no país e seus principais personagens. Repórter do Jornal Nacional, da rede Globo, Netto acumulou cerca de 70 horas de entrevistas com investigadores e protagonistas para, em linguagem ágil e direta, remontar cronologicamente a extraordinária sequência de acontecimentos, entremeada de lances de sorte, que construiu a Lava Jato. O resultado é um thriller político que já tem destino certo – os direitos foram comprados pelo diretor José Padilha e o livro vai virar uma série da Netflix, com estreia prevista para 2017.

Livro 'Lava-Jato', de Vladimir Netto
Livro ‘Lava-Jato’, de Vladimir Netto (VEJA)

Lava Jato não traz revelações bombásticas; é mais uma saborosa reconstituição da trama. Netto conversou longamente com dois homens-chave do esquema, o doleiro Alberto Youssef, principal operador do petrolão, e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da estatal – respectivamente o primeiro e o segundo na longa fila de envolvidos que fizeram acordos de delação. Em torno deles transcorrem os relatos mais reveladores. A avidez dos políticos fica evidente na sua insistência em pedir dinheiro a Youssef até quando ele estava no hospital, em repouso absoluto após um infarto. “Ligavam e falavam: poxa vida, tomara que se recupere. Mas então, tem aquele problema lá, aquele dinheiro …”, contou um policial que ouviu as conversas grampeadas. O texto relata ainda que a compra do carrão que o doleiro pagou para o diretor e que acabou por expor o vínculo entre eles foi um ato de impulso. Em maio de 2013, contou o próprio Costa, os dois estavam presos no trânsito em São Paulo, em frente a uma concessionária. Ele apontou para um modelo de que gostava e comentou que “um dia” compraria aquele veículo. “Um dia, não. Vamos comprar agora. Eu pago o carro e a gente desconta daquele dinheiro lá”, decidiu Youssef, num gesto não planejado que encrencaria a dupla.

A partir das informações que obteve, Netto calcula que, entre 2011 e março de 2014, Youssef movimentou 400 milhões de dólares em 3.500 operações no esquema do petrolão. Nem se desconfiava disso quando ele foi preso, em 2014, no decorrer de uma investigação de evasão de divisas – prisão esta resultado de um golpe de sorte. A polícia o procurava em São Paulo. Ele estava em São Luiz, no Maranhão, com o celular desligado para não ser localizado. Baixou a guarda à noite, para falar com a filha, e assim foi apanhado. Outra obra do acaso foi sua identificação. A quadrilha só o chamava de “primo”. Mas o delegado Igor Romário de Paula, ex-controlador de voo no Paraná, ao ter contato com as gravações reconheceu a voz do doleiro, a quem ouvia quando ele pilotava aeronaves usadas em contrabando, trinta anos antes.

Sobre a vida dos personagens pré-Lava Jato, o livro revela, entre outras coisas, que Youssef entrou para o crime quando vendia salgadinhos no saguão do aeroporto de Londrina e se aproximou dos contrabandistas que ali circulavam. O juiz Sergio Moro, comandante da operação, foi professor – dos mais exigentes – de Rosângela, sua mulher, na faculdade de direito da cidade paranaense. A história contada por Netto acaba no célebre diálogo entre Lula e Dilma Rousseff, em março passado, que expôs as manobras para livrar o ex-presidente da prisão. Com tantas pontas ainda soltas no andamento da Lava Jato, o autor não descarta uma continuação.

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