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Líder caminhoneiro nega apelo por folga para voto no 2º turno: ‘Absurdo’

Para o presidente da Associação dos Caminhoneiros, medida defendida por bolsonaristas contra a abstenção não vai vingar nem driblar frustração da categoria

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 out 2022, 21h47 - Publicado em 22 out 2022, 21h27

Em meio a um segundo turno disputado voto a voto, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro passaram a defender, como uma frente para diminuir a abstenção, que os caminhoneiros recebam uma folga no dia 30 de outubro para estarem liberados a irem às urnas.

A estratégia foi verbalizada na última segunda-feira, 17, quando um grupo de cantores sertanejos foi ao Palácio da Alvorada para reforçar o apoio à reeleição de Bolsonaro. No encontro, o locutor de rodeios Cuiabano Lima fez um apelo para que as transportadoras liberem os funcionários no domingo de eleições. A medida, disse, abriria caminho para cerca de 3 milhões de eleitores irem votar. “E 95%, 98% dos caminhoneiros do Brasil é Jair Messias Bolsonaro”, disse Cuiabano.

Em 2018, de fato, a categoria embarcou na candidatura do então deputado federal. À época, Bolsonaro se aproximou dos caminhoneiros durante a greve no governo de Michel Temer prometendo uma série de concessões.  Mas agora, segundo José da Fonseca, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), o apoio não está tão firme quanto já foi no passado. Isso porque há uma “frustração” com o presidente e o voto nele não está vinculado à liberação ou não do trabalho.

“Eu acho absurdo um negócio desse, não faz sentido. Acaba com toda a logística da empresa ficarem 200 caminhões parados. É difícil de acontecer”, disse, a VEJA, o presidente da associação. Ele reforça ainda que, no caso dos trabalhadores celetistas, eles já não trabalham aos domingos, já que dificilmente há entregas locais neste dia. Já se forem transportes a longa distância, o caminhoneiro não vai afetar a data de entrega prevista para ir votar, o que poderia trazer prejuízos.

“A vida do caminheiro está muito difícil, muito complicada. Ele não vai ficar um dia parado. Nunca ficou em dia de eleição e não vai ser nessa”, afirmou.

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Uma das mais estridentes vozes durante a greve dos caminhoneiros que praticamente parou o país e abalou o governo de Michel Temer, Fonseca afirma que a associação a que representa tem cerca de 800 mil filiados. Internamente, diz, o apoio a Bolsonaro virou uma “torre de babel” e “cada um fala uma coisa”.

“O pessoal está muito decepcionado. O cara [Bolsonaro] falou que ia fazer e não fez nada até agora. Olha o preço do diesel. Nessa situação, cada cabeça é uma sentença. Aquele que está revoltado pode votar de um lado. Aquele que está bem pode votar do outro”, disse Fonseca.

Nem mesmo o Auxílio Caminhoneiro, criado por Bolsonaro na véspera da campanha e que tem duração até o fim do ano, serve de alívio para as críticas. O vale de 1.000 reais mensais para a categoria, segundo Fonseca, não é suficiente para encher um tanque de gasolina nem para compensar eventuais prejuízos durante uma viagem.

Para Fonseca, as empresas que vão liberar os caminhoneiros serão principalmente aquelas ligadas ao agronegócio, setor considerado um dos fieis apoiadores de Bolsonaro. “Se juntar todas  as empresas, deve dar uns 10 mil caminhões. Dez mil fazem muito barulho. Mas o caminhoneiro autônomo, aquele que tem o próprio caminhão, está fora de toda essa situação”, diz.

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