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Juiz abre ação contra Cavendish e Assad por obra no governo Serra

Denúncia aceita nesta terça-feira acusa operador e empresário de superfaturarem em mais de 70 milhões de reais uma obra na Marginal Tietê, em São Paulo

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 19h05 - Publicado em 8 mar 2017, 09h38

A Justiça Federal no Rio de Janeiro aceitou nesta terça-feira uma denúncia sobre fraude na licitação das obras de ampliação da Marginal Tietê, em São Paulo, e tornou réus em mais uma ação penal o empresário Fernando Cavendish, da Delta Construções, e o operador Adir Assad, além de outras quatro pessoas. A denúncia aponta superfaturamento da obra em 71,6 milhões de reais, pago pela estatal Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) ao consórcio Nova Tietê, liderado pela Delta.

A obra custou 360 milhões, sendo que o valor inicial era de 287 milhões de reais. O custo foi ampliado por um aditivo considerado ilegal na acusação formal. Após o pagamento desse aditivo, os valores seriam repassados para empresas de fachada, segundo os procuradores. A denúncia foi aceita pelo titular da 7ª Vara Federal Criminal, o juiz Marcelo da Costa Bretas.

As obras ocorreram entre 2009 e 2011, na gestão do hoje senador José Serra (PSDB-SP) no governo de São Paulo. À época da licitação, Paulo Vieira de Souza era diretor de engenharia da Dersa. Segundo a coluna Radar On-line, Souza – conhecido como Paulo Preto – desabafou a amigos que “Serra e Aloysio [Nunes] sabiam de tudo” que acontecia na estatal. Aloysio Nunes, que substituiu José Serra no Ministério das Relações Exteriores, foi secretário-chefe da Casa Civil durante o governo do aliado.

Assad propôs um acordo de delação premiada à Operação Lava Jato no qual afirma ter repassado cerca de 100 milhões de reais para Souza, entre 2007 e 2010, na gestão Serra. O operador de propinas admitiu ter usado suas empresas de fachada para lavar recursos de empreiteiras em obras viárias na capital e região metropolitana de São Paulo, entre elas as da Nova Marginal Tietê. Souza não está entre os denunciados desta terça-feira à Justiça.

‘Esquema nacional’

O esquema alvo da nova ação penal foi denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo no início do ano passado. O caso foi encaminhado para o Rio, onde já há investigações sobre os envolvidos. “Vislumbra-se que os crimes apurados neste procedimento são, em tese, parte de um grandioso esquema de âmbito nacional, praticado por uma mesma organização criminosa”, afirmou o juiz Bretas ao receber o processo de São Paulo.

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Inicialmente, o caso estava na 14ª Vara Criminal de São Paulo, mas foi enviado à 7ª Vara do Rio. A mudança na tramitação ocorreu porque os réus e os crimes são semelhantes aos da Operação Saqueador, deflagrada em junho do ano passado para apurar as suspeitas de lavagem de 370 milhões de reais em obras tocadas pela construtora Delta no Rio de Janeiro. O MPF no Rio reapresentou a denúncia.

Além de Cavendish e Assad, foram denunciados Mauro Abbud, Marcello Abbud, Sandra Malago e Sonia Branco. Eles são acusados de fraude à licitação, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e associação criminosa.

Apesar de citar a Dersa, que repassou 360 milhões de reais para a Delta referentes à obra, a denúncia não traz nenhuma acusação contra agentes públicos ou servidores do Estado de São Paulo. A licitação foi feita por um convênio realizado entre o Estado e a Prefeitura. Na época, o prefeito era o hoje ministro Gilberto Kassab (Comunicações).

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Rodoanel

Na semana passada, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela condução da Operação Lava Jato na Justiça Federal, autorizou o compartilhamento de informações obtidas a partir da quebra do sigilo das empresas de Adir Assad com a Promotoria de São Paulo. A permissão ocorreu relativa a um inquérito, que investiga uma obra no trecho leste do Rodoanel Mário Covas.

Em seu despacho, Moro cita trecho do Relatório de Análise da Procuradoria da República do Paraná que identificou depósitos da SPMAR (4,2 milhões de reais) e da São Fernando (2 milhões de reais), empresas ligadas à obra, em favor da Legend Engenheiros, de Assad. Ele é apontado como um dos maiores lavadores de dinheiro do país e responsável por movimentar cifras que ultrapassam a casa de 1 bilhão de reais

Defesas

O advogado Miguel Pereira Neto, que representa Adir Assad, Mauro e Marcelo Abbud, afirmou por meio de nota que “se pronunciará posteriormente” porque “ainda não teve acesso à denúncia”. A defesa de Cavendish não se posicionou.

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Kassab afirmou em nota que “a Prefeitura de São Paulo, por se tratar de obra de mobilidade urbana dentro dos limites do município, prestou apoio técnico e logístico pertinentes às suas atribuições legais desde o início até a conclusão das intervenções. Esse apoio compreendeu o monitoramento do trânsito, aprovação de adequações provisórias de tráfego e sinalizações necessárias durante a execução e, também, após o término das obras”. Kassab ressalta que “não coube à Prefeitura a realização de licitações, fiscalização ou pagamentos”.

A Dersa afirmou que “até o presente momento, não tem conhecimento dos termos da suposta denúncia apresentada pelo MPF-RJ” e que “portanto, não tem o que manifestar sobre o assunto”.

(Com Estadão Conteúdo)

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