O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, declarou nesta segunda-feira que pretende escrever dois livros sobre o seu período de quatro anos no cargo. No primeiro, tratará de forma mais geral das suas memórias à frente da PGR, enquanto no segundo, ele vai focar as razões que o levaram a decisões importantes no cargo, citando o exemplo do polêmico acordo de colaboração premiada firmado com a JBS.
Ele fica no cargo até o dia 17 de setembro – depois, será substituído por Raquel Dodge. “Muitas das coisas que aconteceram a gente não pode veicular, e não foram veiculadas. Algumas eu poderei contar como memórias, outras terei que esperar um pouco mais para revelar. Acho que devo isso à sociedade brasileira, que quer conhecer um pouco do intestino de tudo isso”, afirmou, durante um evento do jornal O Globo, no Rio de Janeiro.
Questionado a respeito de uma possível omissão de crimes por parte dos delatores da empresa – entre eles os empresários Joesley Batista e Wesley Batista -, sobretudo relacionados aos governos do PT, o procurador disse que “a responsabilidade é deles [delatores]”. “O que vigora na organização criminosa é a lei do silêncio. Se esse colaborador omitiu crime de alguém, a responsabilidade é toda dele. Uma vez apurado [o crime], ele vai perder a premiação”, afirmou.
Investigação eterna
Sobre o andamento da Operação Lava Jato, Janot disse acreditar que esta não deve ser uma investigação permanente, que precisa ter um escopo fechado e que já é possível visualizar “até onde a investigação pode ir, e se espera que vá”. “A sociedade brasileira não pode ficar refém de uma investigação eterna”, justificou. Ele disse também que foi um “desgaste” comandar o processo de denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), que teve autorização recusada pela Câmara.
“Ajuizar uma demanda contra o presidente da República desgasta qualquer cidadão. Ninguém quer ver o presidente da República do seu país ser processado penalmente. O que posso afirmar é que fazemos profissionalmente e tecnicamente o que temos que fazer. Se não fizermos, é prevaricação”, afirmou.
‘Nem a síndico’
O procurador-geral também comentou as informações de que se prepararia para disputar um cargo eletivo na disputa de 2018, que ele negou e atribuiu a uma forma de “fazer pressão” de opositores. “Uma das formas de se fazer pressão a encarregados de órgãos de controle é tentar desqualificar sua atuação profissional, tentar vincular ao trabalho que faço hoje um jogo político futuro”, argumentou. “Eu já falei que não sou e não serei candidato a coisíssima alguma, presidente, governador de Minas Gerais, deputado, vereador, nem a síndico de prédio.”
Fazendo coro às declarações recentes do ministro do STF Luiz Fux, o procurador-geral disse acreditar existir sim uma reação do Congresso Nacional contra os avanços das investigações criminais, destacando a votação em que o pacote anticorrupção foi meio para o avanço de uma lei para punir abusos de autoridade. “A partir do momento em que as investigações prosseguem, reações acontecem”, afirmou, concluindo que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.
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(Com Estadão Conteúdo)