A história já é velha conhecida, se repete a cada quatro anos nos dois meses que separam a vitória nas urnas da posse do novo presidente da República. Pressionado pelos partidos que o apoiaram durante a campanha eleitoral, o vitorioso precisa gastar infindáveis horas em negociações longuíssimas para tentar cumprir uma missão que parece impossível: agradar a todos. Com Dilma Rousseff, não será diferente. Eleita por uma aliança de nove partidos (PMDB, PCdoB, PDT, PRB, PR, PSB, PSC, PTC e PTN), fora o próprio PT, a nova presidente tem de montar o xadrez da distribuição dos cargos com perícia,como quem distribui suas joias mais preciosas para parentes sedentos e cheios de ambição.
Nesse jogo, nem todos os 37 ministérios, secretarias e órgãos com status de ministério têm o mesmo peso. Ou alguém duvida que um ministério da Fazenda, por exemplo, seja muito mais valioso que uma Secretaria de Igualdade Racial? Para entender como se define o peso de cada pasta, o site de VEJA ouviu especialistas que indicaram quatro critérios:
Orçamento – Primeiro item a ser considerado, é a verba que o órgão possui para empregar em políticas públicas ou em obras de infraestrutura. “Dinheiro é poder e define a própria capacidade do gestor”, comenta o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto.
Ele cita o exemplo do Ministério da Fazenda, que, em 2010, teve a maior fatia do Orçamento entre os ministérios (de acordo com dados do Siafi, divulgados pela ONG Contas Abertas). “Quando você dispõe de elementos para contingenciar o orçamento, dar o rumo da economia, aumentar, diminuir tarifas de importação, tem um poder imenso”, explica.
Com o dinheiro, porém, vem também a responsabilidade. “Alguns órgãos com muita verba, como Educação e Saúde, podem também ser uma bomba por causa dos problemas que carregam” analisa Peixoto. “Ninguém pensa nisso na hora de escolher.”
Importância política – Por isso, outro critério a ser levado em conta é a importância política. A Casa Civil, por exemplo, não tem orçamento volumoso. “Mas o chefe da pasta exerce naturalmente uma ascensão sobre todos os ministérios, por estar diretamente ligado à Presidência. É um cargo mais estratégico”, lembra o fundador e secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco.
Visibilidade – É o terceiro critério. Os ministérios do Esporte e do Turismo, por exemplo, que tiveram orçamentos reduzidos em 2010, serão visados e encorpados com robustos recursos graças à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016, que atrairão público, investimentos e olhares para o Brasil. Por isso, passam a ser joias mais valiosas no próximo governo.
Capilaridade – O último item a ser considerado é a capilaridade da atuação da pasta. Há órgãos e ministérios que, mesmo sem visibilidade ou orçamento alto, exercem influência sobre os demais e os ligam diretamente à Presidência. Nesse caso, o exemplo clássico é o do Planejamento.
O cientista político e diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo Fornazieri, destaca que a estratégia de Dilma deve ser diferente da utilizada pelo presidente Lula no início de seu mandato. “Será sensato da parte dela não criar nenhum super ministro, o que causaria atritos internos e enfraqueceria sua própria imagem”, acredita. “Os ministérios precisam ter uma equipotência, um equilíbrio de forças políticas e ela deve ser o centro de seu governo, com sabedoria”.
Observando os quatro itens identificados pelos especialistas, VEJA elaborou um ranking de jóias mais valiosas da coroa de Dilma. Confira:
(Colaborou Carolina Freitas)