Governo tem um foco real de preocupação na CPI do 8 de Janeiro
Prioridade do Palácio do Planalto será evitar que depoimentos ou documentos sirvam de munição para uma crise com os militares
Pressionado a aceitar a leitura do requerimento de criação da CPI do 8 de Janeiro, o governo está certo de que controlará os trabalhos da comissão, com a ajuda dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Uma razão de otimismo, segundo os governistas, é o consenso existente entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) de que houve uma tentativa de golpe por parte de radicais bolsonaristas — e esta história, por mais que queiram os oposicionistas, não poderá ser reescrita.
Apesar desse diagnóstico, o governo tem uma preocupação específica com os trabalhos da CPI: quer evitar que ela descambe para uma crise com os militares ou ruídos na relação com as Forças Armadas. Por mais que haja evidências de omissão, por exemplo, por parte de integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), não está nos planos de aliados do presidente Lula qualquer tipo de caça às bruxas. Pelo contrário, a meta é manter o quadro de harmonia institucional obtido a duras penas nos últimos meses.
No último dia 19 de abril, Lula participou da celebração do Dia do Exército. A presença do presidente na solenidade seria usada pelo marketing oficial como uma demonstração de que as desconfianças de parte a parte estavam superadas, e uma crise com os militares — após a demissão do comandante do Exército, Júlio César de Arruda — devidamente superada.
Esse roteiro não pode ser cumprido à risca porque, no mesmo dia, foram divulgadas imagens que mostravam integrantes do GSI confraternizando com radicais bolsonaristas que depredavam o Planalto. O vídeo deu fôlego à CPI de 8 de Janeiro e devolveu para o colo de Lula a espinhosa questão militar.