Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou a disparar críticas contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nesta quarta-feira, em Paris, onde está em agenda oficial. Segundo o ministro, a denúncia oferecida pelo procurador contra os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, na terça-feira, e a provável denúncia que será apresentada contra o presidente Michel Temer (PMDB) são tentativas de Janot “fazer um grand finale“.
As críticas foram feitas após um compromisso oficial no Ministério das Relações Exteriores da França, onde Mendes discutiu temas como financiamento de campanhas eleitorais, controle de gastos partidários e corrupção no Brasil e na América Latina. Na saída da reunião, o ministro disse não querer fazer uma apreciação jurídica da denúncia feita contra membros da cúpula do PT, mas não se furtou a fazer o que chamou de “uma análise política”.
“Eu imagino que o procurador-geral pensou em fazer um grand finale, oferecer várias denúncias, inclusive a última contra o presidente da República. Mas acho que ele conseguiu coroar dignamente o encerramento de sua gestão com esse episódio do Joesley”, afirmou o ministro, de forma irônica. “Ele fez jus a tudo o que plantou ao longo de todos esses anos, e essa será a marca que nós vamos guardar dele, o procurador-geral da delação de Joesley, desse contrato com criminosos, dessa fita.”
O ministro acusou Janot de ter “tentado envolver” o STF nas denúncias de corrupção, o que, segundo ele, mostra “pouca qualidade institucional” do procurador-geral da República.
“A grande confirmação é de que a Procuradoria trabalhou muito mal nesse episódio, de que ela se envolveu, que tinha objetivos, a partir do próprio braço-direito do procurador-geral”, afirmou, referindo-se ao ex-procurador Marcelo Miller — suspeito de ter auxiliado o empresário Joesley Batista a organizar a gravação de conversas privadas, inclusive com Michel Temer, e a selar o acordo de delação premiada enquanto mantinha funções na PGR.
Para Mendes, a indicação de Janot para a chefia da PGR é um legado do “lulopetismo”. O ministro disse ainda que os supostos erros de Janot são de responsabilidade de Lula e do PT, que o nomeou para o comando do órgão. “Se nós fomos fazer um balanço do legado do lulopetismo, podemos pensar em duas marcas. Há muitas, mas temos duas marcas importantes: a indicação de Dilma Rousseff para a Presidência da República e a indicação de Rodrigo Janot”, disse, em mais uma ironia. “Elas são inesquecíveis.”
O ministro já havia declarado, na terça, que o acordo fechado pelo procurador-geral da República com a JBS é a “a maior tragédia que já aconteceu na PGR”.
(Com Estadão Conteúdo)