As manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016, catapultaram para a vida pública uma série de pessoas e movimentos de trajetórias e propostas diversas. Dois anos depois da queda da petista, sem engajar as mesmas multidões, esses líderes vão migrando para a política “tradicional”, filiando-se a partidos e com planos de testar a popularidade nas urnas.
Neste grupo, encontra-se o empresário Rogério Chequer, fundador do Vem Pra Rua, um dos movimentos mais ativos nos protestos de rua do período que precedeu a queda de Dilma. Nos últimos meses de 2017, Chequer passou adiante o comando do movimento para se dedicar ao seu projeto pessoal: filiado ao Partido Novo, será candidato ao governo de São Paulo.
No final de fevereiro, ele se integrou à Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), grupo fundado pelo sócio da Natura Guilherme Leal, ex-candidato a vice na chapa de Marina Silva (Rede) em 2010, que dá apoio logístico e de formação a candidatos de diferentes partidos.
Em entrevista a VEJA, Rogério Chequer fala sobre a candidatura, critica seus potenciais adversários e reafirma o discurso do seu partido de expandir as privatizações no setor público. Entre os concorrentes, deverá estar o prefeito paulistano João Doria (PSDB), que anunciou a intenção de não concluir seu mandato à frente da prefeitura. Com discurso antipetista, o prefeito apoiou e foi apoiado entusiasmadamente pelos movimentos nos idos de 2015, mas agora o empresário se diz “frustrado” com o tucano: “Doria dispendeu tempo excessivo pensando em si mesmo”.
Leia a entrevista:
A maior parte dos que foram aprovados para integrar a Raps pretende disputar vagas no Congresso. Por que o senhor se colocou como candidato ao Executivo, ao governo de São Paulo?
Minha primeira decisão foi essa, entre Legislativo e Executivo. Acho que está mais alinhado comigo concorrer a um cargo executivo pelo meu passado de empreendedorismo. Comecei assim e continuei com negócios pelo Brasil, vendo técnicas de inovação, formação de time e estruturas de gestão. Outra razão é que eu passei muito tempo da minha vida analisando governos em 33 países emergentes e meu foco sempre foi a atuação do Executivo. Tenho a visão de que é possível oferecer serviços melhores, principalmente no governo de um estado, com seu trabalho em educação, saúde e segurança.
O senhor foi um dos que comandaram manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Quase dois anos depois, o sucessor, Michel Temer (MDB), enfrenta um problema crônico de popularidade. Se arrepende?
Eu faria tudo de novo. Nós não fizemos a revolução que nós fizemos no Brasil para colocar o Temer no poder. Fizemos para tirar do poder quem não estava trabalhando para a população. Os desastres trazidos pelo Temer são uma consequência da nossa Constituição e de quem o colocou como vice-presidente em 2014.
O senhor se destacou à frente de um movimento que tinha como principal bandeira a oposição ao modelo de governo do PT. Em São Paulo, boa parte desse sentimento é capitaneado há mais de 20 anos por outro partido, o PSDB. Como pretende quebrar esse domínio tucano?
Falando a verdade. Apesar de eles [PSDB] estarem no quinto mandato consecutivo, esses mais de 20 anos, ainda existem serviços de péssima qualidade. Ninguém está satisfeito com a segurança e com a educação. A saúde é precária. Eles provaram que, mesmo tendo 20 anos de poder, conseguiram melhorar algumas coisas, mas em ritmo muito inferior ao do resto do mundo. Não estamos nos comparando a outros estados no Brasil, temos que nos comparar com o resto do mundo. Eles tiveram a oportunidade que poucos têm, governar por tanto tempo, e fizeram pouco pelo estado.
Como o senhor vê a possibilidade de o prefeito de São Paulo, João Doria, ser o candidato do PSDB?
Eu fico muito frustrado. E desapontado pelo fato de ele ter prometido governar São Paulo e estar desistindo depois de um ano.
Como avalia sua gestão?
Houve coisas boas, o prefeito trouxe pessoas boas para algumas secretarias e algumas coisas novas para a cidade. Mas João Doria dispendeu tempo excessivo pensando em si mesmo, viajando pelo país em funções que não tinham nada a ver com a qualidade de vida do paulistano.
Outro provável adversário é o atual vice-governador, Márcio França (PSB), que terá o controle da máquina pública. Como o senhor se vê nessa disputa sendo oposição?
É interessante ver que eles [adversários] acabam seguindo o mesmo modelo de política velha. Já se sabe com meses de antecedência, declaradamente, que o Márcio França vai trocar as secretarias – e as estruturas das pastas – para ter maiores chances de se eleger. Mais uma vez, pensam em si mesmos e ninguém pensa na população.
O senhor, João Doria e o presidente da Fiesp Paulo Skaf (MDB) são candidatos simpáticos ao empresariado. Não é muita gente para um público tão restrito?
Não acho que seja possível ter excesso de diálogo. Diálogo é sempre muito positivo. Vamos conversar com os empresários e com o resto da população, porque é para ela que precisamos trabalhar. Os empresários são importantes, precisam de melhores condições para empreender e investir, mas o que sabemos é que, quem está aí e no modelo que está aí, não está funcionando.
O Partido Novo já tem alguma aliança programada aqui em São Paulo? Como driblar a falta de tempo de televisão?
Sempre estamos abertos ao diálogo desde que algum partido se adapte aos valores e à filosofia do Novo. Sobre o tempo de TV, ele é cada vez menos importante. Vai ser menos importante em 2018. Vamos trazer formas limpas e revolucionárias de fazer campanha.
O Partido Novo tem uma proposta de desestatização de equipamentos e empresas públicas. Categorias importantes do funcionalismo estadual, como os professores, se manifestam com frequência contra propostas do tipo. Como o senhor pretende lidar com esses segmentos?
De novo, com transparência. Conversando com eles e com a população, para descobrir o que é melhor. O alvo é sempre a população. Então, temos que abrir um diálogo para saber se é melhor com sindicato ou sem sindicato – e, mais, com qual papel os sindicatos deveriam operar, porque eles são estruturados de uma forma que os seus filiados não são quem mais se beneficia com a estrutura. Isso está ficando cada vez mais claro.
O senhor tem alguma proposta que já está divulgando publicamente?
Nós temos uma boa parte do programa em desenvolvimento. Só em termos de modernizar, tecnologia e estrutura, a gestão pública, nas principais áreas, já traremos benefícios muito grandes aos públicos mais vulneráveis e com pior qualidade de vida no Estado de São Paulo. Nosso plano é pensar como podemos trazer benefícios rápidos para esses grupos.