Até 2017, dinheiro não era problema para as entidades sindicais. As centrais e os sindicatos arrecadavam 3,6 bilhões de reais apenas com o desconto obrigatório do valor correspondente a um dia de trabalho de todo brasileiro que tinha carteira assinada. O caixa cheio financiava atividades políticas, greves, passeatas, viagens, mordomias de dirigentes e a comemoração do 1º de Maio — um evento tradicionalmente grandioso que contava com a participação de grandes artistas e sorteios de carros que atraíam dezenas de milhares de pessoas.
A reforma trabalhista aprovada no governo do ex-presidente Michel Temer, porém, extinguiu o imposto e acabou com a mamata. Sem o dinheiro fácil, as centrais foram obrigadas a reduzir suas despesas. A comemoração do Dia do Trabalhador deste ano deixou isso bem claro. Com a presença do presidente Lula, mas sem os artistas famosos, os ônibus alugados e os sorteios, o público que compareceu ao estádio do Corinthians, em São Paulo, foi diminuto.
Segundo cálculo do Monitor do Debate Político da USP, apenas 1.635 pessoas compareceram à festa. Lula reclamou. “O ato está mal convocado”,disse o presidente. “Nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar”. O fracasso vai ser usado pelos sindicatos como arma para pressionar o governo.
Centrais querem nova ‘taxa’
No exato momento em que Lula discursava no ato esvaziado, conforme mostrou VEJA, as centrais anunciavam a disposição do governo em enviar ao Congresso um projeto de lei criando um novo mecanismo para financiar as entidades. Histórico pilar de sustentação do PT e de Lula, os sindicalistas lembraram o presidente que esse apoio político precisa de uma retribuição.
A proposta que está sendo modelada no Ministério do Trabalho estabelece que os sindicatos passariam a ser financiados por uma “taxa” que seria negociada com os trabalhadores em assembleias. É um compromisso do governo.
Durante a campanha política, em 2022, Lula prometeu às centrais a criação de um novo modelo de financiamento dos sindicatos. O presidente da Câmara, Arthur Lira, porém, já avisou ao governo que não aceitará retrocessos nas reformas que foram aprovadas pelo Congresso.