Ex-assessor de Lula diz que fazia pagamentos em dinheiro por obra em sítio
Rogério Aurélio Pimentel confirmou versão de delatores da Odebrecht sobre envelopes com valores em espécie entregues a fornecedores de Atibaia (SP)
O ex-assessor especial da Presidência da República Rogério Aurélio Pimentel, que ocupou o cargo entre 2003 e 2011, nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, admitiu nesta segunda-feira, 12, em depoimento no processo que investiga obras no sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que entregava envelopes com dinheiro a empresas que forneciam material para as reformas. Os valores eram repassados a ele por um engenheiro da Odebrecht.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin, esta última por intermédio do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, pagaram 1 milhão de reais em propina ao petista por meio das obras no sítio, propriedade do empresário Fernando Bittar e frequentado pelo ex-presidente e sua família. Réu nesse processo pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula será ouvido na ação na próxima quarta-feira, 14. Ele está preso em Curitiba há pouco mais de sete meses.
Pimentel disse à juíza federal Gabriela Hardt que foi incumbido pela ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva a acompanhar as obras na propriedade no interior paulista no fim de 2010, reta final do segundo mandato do ex-presidente. Em uma das primeiras vezes em que foi ao sítio de Atibaia, ele relatou que os trabalhos eram conduzidos por uma equipe contratada por Bumlai.
Depois que Rogério Aurélio Pimentel contou a dona Marisa que as obras “não andavam”, a ex-primeira-dama informou a ele que “Alexandrino” o procuraria e o colocaria em contato com um engenheiro. O homem a que a mulher de Lula se referia era Alexandrino Alencar, ex-executivo da Odebrecht, e o engenheiro que procurou Pimentel era Frederico Barbosa, também da empreiteira.
Inicialmente, segundo o ex-assessor de Lula, ele não sabia que Alencar e Barbosa trabalhavam para a Odebrecht. Ele relatou que foi ele o responsável por levar o engenheiro ao sítio pela primeira vez e repassar à ex-primeira-dama as obras que seriam feitas na propriedade.
Questionado pela magistrada se nunca se perguntou por que uma grande empreiteira tocaria as reformas e construções de benfeitorias no sítio, Pimentel respondeu que não.
“Eu não tenho autonomia, como qualquer outro empregado, de chegar para o patrão e dizer ‘onde você arrumou o dinheiro?’, ‘como é que tá sendo feito isso?’. Uma, porque dona Marisa sempre foi durona, exigente e reservada em relação a esse tipo de coisa. As pessoas falam ‘você era de confiança’. Eu era de confiança, assim, pra buscar um pão na padaria, pra comprar uma carne, pra levar a cachorra ao veterinário, pegar o filho dela na escola ou o próprio neto. Isso era a confiança. Mas da parte pessoal, financeira dela, não sabia”, relatou.
Ele confirmou os relatos do ex-diretor da Odebrecht em São Paulo, Carlos Armando Paschoal, e do também engenheiro Emyr Diniz Costa Júnior, ambos delatores, de que recebia envelopes com dinheiro e pagava fornecedores das obras. “Se a senhora me perguntar se tinha 5.000 reais, 10.000, 20.000, 200.000, eu não saberia dizer para a senhora”, disse o ex-assessor de Lula.
Segundo Diniz, o dinheiro era oriundo do setor de Operações Estruturadas da empreiteira, o departamento de propinas, e repassado a Frederico Barbosa dentro de envelopes, que eram entregues a Rogério Aurélio Pimentel. O ex-assessor de Lula também relatou que recebeu orientações dos funcionários da Odebrecht a não falar sobre a obra da empreiteira na propriedade.
Pimentel negou, no entanto, o conteúdo do depoimento de Carlos Rodrigues do Prado, dono da Rodrigues do Prado, uma empreiteira de pequeno porte subcontratada pela Odebrecht para as obras, segundo o qual o ex-assessor entregou a ele 163.000 reais em dinheiro vivo, em quatro parcelas. Os valores, de acordo com Prado, eram entregues dentro de um envelope em um posto de gasolina próximo do sítio Santa Bárbara.
Rogério Aurélio Pimentel relatou ainda que acompanhou obras de “suítes”, salas para armazenar bebidas, um reparo na lateral da piscina do sítio e do campo de futebol, e contou sobre o andamento delas a Marisa Letícia. A ex-primeira-dama morreu no início de 2017, vítima de um acidente vascular cerebral.
Defesa de Lula
Por meio de nota, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que os depoimentos colhidos hoje na ação penal — do empresário Fernando Bittar, do advogado Roberto Teixeira e do Rogério Aurélio Pimentel — “evidenciaram que o ex-presidente Lula não tinha conhecimento e não teve qualquer relação com intervenções realizadas nesse sítio de Atibaia durante o período em que exerceu o cargo de presidente da República. Toda a prova coletada na ação, inclusive depoimentos de delatores como Marcelo Odebrecht, demonstrou, ainda, que não existe qualquer relação entre contratos da Petrobras e o sítio e as intervenções realizadas na propriedade, tornando evidente o despropósito da acusação apresentada no processo e seu direcionamento à Lava Jato de Curitiba”.