Escolha de vice de Bolsonaro deve se arrastar até junho
Presidente insiste em Braga Netto, mas aliados querem convencer que nome ligado a política pode agregar mais votos
A definição do vice para compor a chapa do presidente Jair Bolsonaro (PL) deve se estender até junho, às vésperas das convenções partidárias que definem os caminhos das legendas na eleição. A escolha do nome ainda é uma incógnita: por enquanto, o chefe do Executivo insiste em compor com o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, repetindo a fórmula de se unir com um militar e que o levou ao Palácio do Planalto em 2018.
A estratégia do presidente é, no entanto, criticada por aliados no Congresso e na Esplanada dos Ministérios, que destacam que o pleito de 2022 será bem diferente do anterior. Desta vez, afirmam, a campanha terá mais influência do horário eleitoral gratuito, menos relevância das redes sociais e o presidente não poderá se vender como novato na cena política.
Em dezembro, o coordenador da campanha à reeleição, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tratou abertamente sobre a necessidade da composição política da chapa. Em entrevista a VEJA, afirmou que o é importante escolher “algum vice que agregue a simpatia de um percentual do eleitorado” que rejeita o presidente. “Imagina que legal uma mulher, evangélica, negra do Nordeste. É um perfil que vamos buscar, mas é difícil alguém que agregue isso tudo”, disse o filho Zero Um do presidente.
Senadores e deputados da base do governo criticam a insistência de Bolsonaro em relação a Braga Netto. “Tem como dar certo isso?”, reclama um aliado de primeira hora. O general não agrega voto, não tem base política para mobilizar e tampouco consegue atrair financiamento para a campanha, destacam parlamentares.
“Já conversei com o presidente. Acho importante o vice ser de algum estado importante, um grande colégio eleitoral, como Minas Gerais, Bahia, São Paulo. Principalmente Bahia, que pega o Nordeste, e Minas Gerais. De preferência mulher. São dois colégios importantes, que puxariam mais votos. O PT já comanda a Bahia há muitos anos e tem mais força lá. Um baiano poderia equilibrar isso. As costuras que ele está fazendo com os partidos são importantes nesse processo. Ele achou interessante”, diz o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), integrante da tropa de choque do governo na CPI da Pandemia e pré-candidato ao governo gaúcho.
“Braga Netto é um excelente nome, se ele seguir na mesma linha que escolheu o general Mourão. Mas politicamente, a minha posição é outra, prefiro um perfil mais político, ligado a esses Estados que podem ajudar na reeleição do Bolsonaro. Alguém que agregue. Outra questão são os Estados que também têm de tomar uma providência. Os palanques estaduais já estão sendo organizados”, acrescenta.
A queda de braço entre o militar e o centrão pela vaga de vice já provocou ao menos um efeito concreto: Braga Netto não faz parte da lista que circula no Palácio do Planalto com nomes de 11 ministros que devem sair do governo em abril para concorrer em outubro. Ele precisaria se desincompatibilizar do cargo até 2 de abril para compor a chapa com o presidente.
Um aliado de Bolsonaro diz que, neste momento, ele está focado em mapear os candidatos nos Estados para formar palanques e organizar a campanha. As decisões do mandatário estão sendo discutidas com a coordenação política da campanha, composta pelos ministros da Casa Civil Ciro Nogueira, das Comunicações Fabio Faria, do Trabalho e Previdência Social Onyx Lorenzoni e pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, além de Flávio Bolsonaro.
Auxiliares dizem que é possível convencer o presidente a mudar de ideia, apesar de sua insistência no nome militar. E recordam como uma vitória o fato de Bolsonaro ter sido convencido por seus conselheiros políticos de que não seria possível ele mesmo definir os 27 senadores que vão subir no seu palanque nos Estados, como queria inicialmente.
Outra conquista creditada ao grupo é de haver convencido o chefe do Executivo a aceitar um marqueteiro profissional para coordenar a campanha —o nome ainda não está definido, mas ele aceitou deixar o filho Carlos Bolsonaro (Republicanos – RJ) responsável apenas pelas redes sociais, enquanto o profissional terá liberdade para elaborar estratégias de comunicação.
Aliados do governo repetem há meses que o governo se vende mal para a população e que a comunicação de massa precisa melhorar; e que um vice com experiência na política ajudaria a transmitir a mensagem positiva ao eleitor. “Bolsonaro considera o vice militar um ‘seguro’ contra impeachment – aliás, foi esse o critério já utilizado por ele quando escolheu o general Hamilton Mourão”, aponta o cientista político Paulo Kramer, que ajudou a formular o plano de governo de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. “O critério tradicional para a escolha do candidato a vice é: ele ou ela é capaz de chegar aonde o presidenciável não é, como trazer o Nordeste para Bolsonaro ou unificar o agro para a reeleição.”
Nesse sentido, avalia Kramer, os ministros Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, ou Tereza Cristina, da Agricultura, poderiam em tese agregar mais votos, embora o general Braga Netto “faça mais sentido” como seguro anti-impeachment. “Braga Netto é homem da mais alta confiança de Bolsonaro. Contudo, não tem voto. Mais lógico seria um político apoiado pelo Centrão que garantisse a governabilidade”, concorda o cientista político Jorge Zaverucha, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).