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Em reunião com secretários, Mandetta sinaliza flexibilização de quarentena

Após Bolsonaro criticar o isolamento em massa, ministro da Saúde diz que o Brasil tem dimensão continental e comporta realidades diferentes

Por Mariana Zylberkan Atualizado em 27 mar 2020, 18h14 - Publicado em 27 mar 2020, 18h10

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sinalizou em reunião com secretários estaduais de Saúde que irá flexibilizar a orientação de quarentena em estados onde há números mais baixos de casos de coronavírus em comparação com Rio de Janeiro e São Paulo, que concentram a epidemia no país.

As falas do ministro, que atribuiu o seu argumento ao fato de o Brasil ser um país continental, e, portanto, concentrar realidades diferentes, foram interpretadas pelos secretários como uma mudança de rumo nas orientações defendidas por Mandetta até então e um claro alinhamento ao discurso do presidente Jair Bolsonaro, que tem criticado a decisão de governadores de restringir a circulação de pessoas para tentar reduzir a disseminação do vírus.

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Na reunião, realizada em formato de videoconferência nesta quinta-feira, 26, Mandetta disse que alguns governadores têm tomado medidas extremadas em relação a decretos de quarentena e afirmou que elas devem ser revistas. Bolsonaro tem argumentado que a paralisia no comércio e setor de serviços irá levar a uma forte retração na economia e ao aumento do desemprego e, por isso, deve ser evitada.

Outra fala que chamou atenção foi a defesa de Mandetta de orientar os estados a manter a realização de cultos religiosos com até mil pessoas. O presidente já havia incluído as reuniões religiosas na lista de atividades essenciais que não podem parar em situações de quarentena. O número aleatório de participantes foi o que chamou atenção dos secretários porque basta uma pessoa infectada no mesmo recinto para espalhar o vírus.

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A medida foi entendida como um sinal de que o ministro tem cedido à pressão da bancada evangélica, base de apoio político de Bolsonaro e uma das responsáveis pela indicação de Mandetta ao Ministério da Saúde no início do atual governo. Um dos principais representantes da bancada evangélica, o deputado federal Marco Feliciano (PSC) tem usado as redes sociais com frequência para condenar decretos estaduais que limitam a circulação de pessoas.

A lua-de-mel de Mandetta com os secretários estaduais, vigente desde o início da epidemia e estimulada pelos elogios à transparência com que o ministro passou a tratar as informações sobre a pandemia no grupo de WhatsApp, entrou em crise também após o ministro acusar secretários do Norte, Nordeste e Centro-Oeste de não terem mandado endereços de onde os kits emergenciais de UTI seriam instalados nos estados.

Os equipamentos estão sendo esperados desde o fim de janeiro como uma das principais apostas para reduzir o colapso do sistema público de saúde diante do aumento progressivo de pacientes graves com sintomas de coronavírus. Por enquanto, apenas estados do Sul e Sudeste receberam os aparelhos. O argumento do ministro foi entendido como uma forma de despistar a dificuldade do ministério em obter os mil kits de UTI que foram anunciados. O anúncio de que os kits seriam transportados por via terrestre também incomodou os secretários, que exigiram uso de aeronaves do governo federal para reduzir o tempo de espera pelos equipamentos, o que foi acatado pelo ministério.

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Desde o aumento exponencial dos casos confirmados de coronavírus no país, que coincidiu com a constatação da transmissão comunitária, quando deixou de ser possível rastrear as contaminações, foi acirrado o embate político entre Bolsonaro e governadores. Enquanto o presidente passou a defender a quarentena apenas de idosos e pessoas com doenças prévias, e tratar o coronavírus como uma “gripezinha”, João Doria (PSDB), Wilson Witzel (PSC) e outros líderes nos estados continuaram a pedir para a população ficar em casa. Em reunião virtual entre Bolsonaro e governadores da região Sudeste, Doria e Bolsonaro chegaram a bater boca. Os dois políticos se preparam para disputar as eleições presidenciais de 2022.

Recuos

Alguns governantes têm começado a recuar. Em Santa Catarina, o governador Carlos Moisés (PSL) anunciou plano para flexibilizar gradualmente a quarentena a partir da semana que vem. Bancos e lotéricas reabririam já na segunda-feira 30, enquanto shoppings, bares, restaurantes e até academias voltariam a funcionar na quarta-feira 1°. A decisão também gerou polêmica e levou a hashtag #SCNaoQuerMorrer aos trendigs topics do Twitter nesta sexta-feira.

Apoiador de Bolsonaro, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), aprovou decreto que permite a abertura parcial do comércio na cidade a partir desta sexta-feira, 27. Outros estados anunciaram flexibilizações de quarentenas, como Roraima, Rondônia e Mato Grosso.

 

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