Em 2021, ninguém fez oposição ao governo como Jair Bolsonaro. O presidente insistiu na postura negacionista com relação à Covid-19, intensificou a estratégia de intimidação do Poder Judiciário, como ficou evidente nas manifestações do feriado de Sete de Setembro, e não empenhou esforços pela aprovação de pautas prioritárias, como as reformas estruturantes. No caso da reforma administrativa, ele fez pior: determinou que o texto ficasse em banho-maria até a próxima eleição, por medo de perder os votos do funcionalismo público.
Apesar da crise econômica e dos desatinos em série, Bolsonaro ainda mantém o apoio de cerca de 20% da população, o que tem sido suficiente para lhe garantir, segundo as pesquisas de intenção de voto, um lugar no segundo turno na corrida presidencial de 2022. É para essa parcela da população que ele governa e fala. É com a ajuda dela e do antipetismo de outros segmentos que hoje desaprovam o governo que o ex-capitão acha que conquistará um novo mandato. Bolsonaro, reconhecem seus próprios aliados, nunca se preocupou em governar para todos os brasileiros.
Coordenador da campanha à reeleição, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente, até tenta moderar, na medida do possível, o pai. O Zero Um intermediou a entrada do Centrão no governo, mantém diálogo com representantes do Judiciário e defende a vacinação. Mesmo assim, não questiona a autoridade do presidente para definir suas estratégias. “Ele é um fenômeno. As decisões dele que hoje parecem erradas sempre se mostram acertadas lá na frente. Ele é muito mais inteligente do que vocês pensam”, afirma o senador.
O eleitor, pelo jeito, não tem percebido os acertos de Bolsonaro. Se mantém o apoio de cerca de 20%, o presidente tem sua gestão reprovada por mais da metade da população. Nas pesquisas de intenção de voto, a rejeição a seu nome é sempre a maior entre todos os presidenciáveis e ronda a casa dos 60%. Apesar disso, Bolsonaro insiste em decisões que, aos olhos do senso comum, funcionam como tiros no pé. Recentemente, ele se opôs à vacinação contra Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos de idade, aprovada pela Anvisa e adotada em países desenvolvidos.
Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI) costuma dizer que não há como mudar Bolsonaro, mas preocupado com a estabilidade do governo — e também com a campanha à reeleição — o ministro faz o que pode para moderar de vez em quando o chefe e municiá-lo com informações que permitam a ele falar de uma agenda positiva. Nem sempre dá certo. Nos últimos dias, Bolsonaro não aceitou suspender suas férias para visitar a Bahia, estado castigado pelas chuvas. Curtindo seu descanso, ele ainda anunciou que não levaria sua filha mais nova para vacinar. Parece só mais um desatino, mas não é. O negacionismo do presidente atrapalha o início da imunização das crianças contra Covid-19. Com um mandatário assim, a oposição — esta sim — pode ficar sem trabalhar.