“Marina Silva amava PSB que amava Ciro Gomes
que amava DEM que amava PR que amava Jair Bolsonaro
que não amava ninguém”.
É provável que os nomes citados acima não gostem de estar em uma versão de um poema intitulado Quadrilha, como é o clássico do escritor Carlos Drummond de Andrade, mas a verdade é que nas últimas semanas o flerte entre pré-candidatos e partidos viu muitos amores e poucos casamentos. No próximo mês, daqui até o último dia das convenções partidárias para as eleições de 2018, em 5 de agosto, saímos da poesia modernista e começamos um reality show, um “namoro na TV”, ou melhor, um flerte pelo precioso tempo de rádio e televisão que vem embutido nas alianças.
Apesar de muito ter mudado, com as redes sociais ganhando cada vez mais relevância, os principais pré-candidatos à Presidência dão sinais cada vez mais claros de que ainda consideram o tempo de exposição nas emissoras como uma das principais formas de se fazerem conhecidos entre os eleitores. Neste ano, serão 121 minutos e 22 segundos diários para os partidos, entre os blocos de 25 minutos (candidatos a presidente terão 12 minutos e 30 segundos três vezes por semana) e as muitas inserções ao longo do dia, que vão compor a maior parte da divulgação de campanha e estão sob o critério das direções das legendas.
Nome que se fez basicamente pelas redes sociais, o deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato pelo pequeno PSL, “namora” com o tradicionalíssimo (e complicadíssimo) PR por uma aliança. O movimento faz todo o sentido. Se Bolsonaro conta hoje com apenas 2 minutos e 14 segundos por dia de exposição na televisão, aliado ao PR esse número saltaria para 11 minutos e 12 segundos, entre o tempo reservado aos partidos nos blocos diários de 25 minutos e nas inserções. Se ainda “casar” com o nanico PRP, que abriu suas portas para candidatos militares, fecha a conta em 11 minutos e 44 segundos.
Esse talvez seja um dos movimentos acompanhados com mais atenção, pelo potencial de aumentar em mais de 420% o capital midiático de um candidato que, a despeito da liderança nas pesquisas, é desacreditado justamente pela atual baixa estrutura de campanha. Mas outros namoros também prometem pontos altos de audiência para o reality, como as oscilações do chamado “Centrão”, que hoje namora os grandes Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), mas já flertou e agora é um amor platônico de outros, como Alvaro Dias (Podemos), Flávio Rocha (PRB), Henrique Meirelles (MDB) e Rodrigo Maia (DEM).
Abaixo, VEJA lista os principais pré-candidatos à Presidência e conta quem está de olho em quem e com qual intensidade, a partir das categorias “Amor platônico”, “Paquera” e “Namoro”. Foi também inserida a parcela a que cada legenda terá direito do Fundo Especial para o Financiamento de Campanha (FEFC), o chamado “fundo eleitoral”. O critério utilizado, tanto para o tempo quanto para os recursos, foi o total ao qual os partidos terão direito – na campanha presidencial, no entanto, o limite permitido de gastos é de 70 milhões de reais.
Os candidatos foram ordenados de acordo com as intenções de voto no cenário principal da última pesquisa do instituto Ibope, patrocinada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Para Bolsonaro, a aliança com o PR seria um casamento quase perfeito. Além de maximizar a exposição de televisão do pré-candidato, também traria um partido com densidade eleitoral, deputados, senadores e prefeitos, necessários para qualquer campanha em um país de dimensões continentais.
Jogam a favor desse “namoro firme” as intenções de voto do político do PSL, em uma via de duas mãos que pode favorecer as reeleições dos mesmos parlamentares. Contra, as suspeitas sobre o PR em escândalos de corrupção e as relações da legenda com outras à esquerda, como o PT. Completam as conversas as discussões sobre o nome do candidato à vice – se o atual namoro avançar, Bolsonaro deve ir para as urnas com o senador Magno Malta (PR); a alternativa é o general Augusto Heleno, que traria para a coligação o nanico PRP.
A pré-candidata da Rede está muito distante de repetir a razoavelmente sólida coligação de 2014, quando substituiu Eduardo Campos como candidata do PSB e contava, ainda, com PPS, PHS, PPL, PSL e PRP (sobre os dois últimos: sim, são os partidos que hoje estão ao lado de Bolsonaro), mas pretende melhorar um pouco a sua dramática situação. Se for sozinha, apenas com a Rede, ela terá 46 segundos por dia (9 segundos a cada bloco de 12 minutos), módicos 10 milhões de reais do fundo eleitoral e não terá participação garantida em debates.
Hoje, Marina conversa com legendas de pequena a média proporção na tentativa de ao menos robustecer sua participação e garantir o palanque dos encontros organizados pelas emissoras. A pré-candidata iniciou uma conversa com o PPS, que poderia indicar o ex-ministro Roberto Freire para ser vice, mas o partido segue mais próximo da órbita de Geraldo Alckmin. No radar de Marina, neste momento, aparecem ainda o Pros e o PHS. Com as duas legendas, ela iria para 4 minutos e 37 segundos. Mas sonho mesmo – cada vez mais distante – é contar novamente com o PSB, que, sozinho, disporia de mais 5 minutos e 49 segundos.
O pré-candidato do PDT não sofre tanto quanto Marina Silva e Jair Bolsonaro por vir de um partido mais estabelecido no cenário nacional. A legenda garante a Ciro partir de 4 minutos e 33 segundos e 61,4 milhões de reais. Outra vantagem do ex-governador do Ceará sobre Marina é estar muito mais perto de “casar” com o PSB, que já deu vários sinais a favor de uma aliança com ele. Juntas, as legendas poderiam isolar o PT à esquerda e ocupar espaço considerável na televisão.
Por outro lado, enquanto conversa com os socialistas, Ciro também abriu as portas para o amorfo Centrão, capitaneado pelo DEM. Com a exceção do PRB, que lançou Flávio Rocha e tem restrições ao ex-ministro, os demais partidos são mais simpáticos à ideia, principalmente o Solidariedade e o PP. O PTB está mais próximo de Geraldo Alckmin e o PR, como já dito, de Bolsonaro.
Esses dois grandes namoros do pré-candidato do PDT não aparentam ser, no entanto, conciliáveis, dada a demanda do PSB por uma plataforma de esquerda, que não é exatamente a do Centrão. Uma coligação PDT/PSB contaria com 10 minutos e 22 segundos, já uma conformação PDT/DEM/SD/PP viria com 27 minutos e 41 segundos.
Nesta quarta-feira 4, Alckmin se reuniu com as lideranças do Centrão, em uma tentativa de acerto que poderia preencher dois objetivos: 1. impedir os partidos do grupo de se coligarem a Ciro Gomes; 2. trazê-los para a chapa tucana. Ainda não se sabe o real impacto, mas algo é certo: para chegar lá, o tucano vai precisar passar da atual marca de intenção de voto, que em nenhum levantamento recente chegou a dois dígitos.
Alckmin parte de uma legenda grande, maior que a de Ciro, e conta com namoros muito adiantados com outras legendas de estatura, como PSD, PTB, PV e PPS. Se fechar “apenas” com elas, já serão 25 minutos e 43 segundos. Se ainda por cima, trouxer o Solidariedade, o PP e o DEM, serão impressionantes 48 minutos e 51 segundos. A cereja do bolo seria fechar com o MDB, de Henrique Meirelles, o que levaria Alckmin a contar com uma propaganda a seu favor de quase uma hora por dia. Impossível dizer se isso tiraria o tucano da posição estacionada em que está há meses, mas é de se imaginar que seria de grande ajuda.
Concorrendo à Presidência pela primeira vez, o senador paranaense ostenta índices mais elevados que pré-candidatos de partidos maiores, fato este que o levou a ser cogitado como uma possível opção do Centrão.
Sozinho com o Podemos, Dias estará exposto na televisão por 3 minutos e 43 segundos, sendo que seu partido contará com 36 milhões de reais na divisão do bolo do fundo eleitoral. Se eventualmente, conseguir uma reviravolta e DEM, PP, Solidariedade, PTB e PR o abraçarem, pode chegar a 39 minutos e 19 segundos.
Oficialmente, Fernando Haddad não é pré-candidato à Presidência – o PT mantém o discurso da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto. No entanto, para além da briga jurídica que Lula precisaria enfrentar para reverter a inelegibilidade em razão da Lei da Ficha Limpa, ele também completa três meses preso no domingo, dia 7, e não tem perspectivas de mudanças no curto prazo.
A indefinição é um dos principais fatores que têm dificultado as alianças do PT. O PR, que cogitava indicar o vice da chapa de Lula, hoje está muito mais próximo de uma aliança com Jair Bolsonaro. O único partido que manifestou apoio até agora, o PCO, é contra a substituição do ex-presidente por um “plano B”. O PSB, o PCdoB e o PSOL conversam, mas hoje o primeiro está mais próximo de Ciro Gomes, enquanto os outros dois lançaram os nomes de Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos.
Se precisar ir às urnas sozinho, o PT teria 12 minutos e 58 segundos de tempo de televisão, mais 212,2 milhões de reais. O PCO acrescentaria mais 32 segundos diários.
Situação idêntica à de Alvaro Dias. O empresário foi lançado pelo PRB e chegou a ser cogitado como a opção do Centrão, mas essa possibilidade se reduziu nas últimas semanas. No caso de Rocha, uma das explicações é a dificuldade de engatar nas pesquisas e sair do patamar de 1% das intenções de voto.
Com o PRB sozinho, Rocha teria até 4 minutos e 33 segundos de exposição diária na televisão. A legenda tem direito a 66,9 milhões de reais do fundo eleitoral.
Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), pré-candidato à Presidência pelo PSOL, é, ao lado de João Amoêdo (Novo), um dos dois candidatos que já anunciaram seu companheiro da chapa – no caso dele, a líder indígena Sônia Guajajara (PSOL) será a vice. Boulos tem garantido o apoio do PCB, mas deve ser só isso, já que ser “o escolhido” do ex-presidente Lula e do PT é um sonho distante.
A coligação entre PSOL e PCB deve ter um espaço de apenas 2 minutos e 8 segundos na televisão. Somadas, as cotas das duas legendas no fundo eleitoral são de 22,4 milhões de reais.
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, pré-candidato pelo MDB, ainda não fechou nenhuma aliança, e não tem as melhores perspectivas. Ele conquistou seu partido ao prometer se autofinanciar – o que libera os estratosféricos 234,2 milhões de reais do fundo para os candidatos ao Congresso e aos governos dos estados –, então seu principal ativo pela legenda deve ser o tempo de televisão do partido, de 10 minutos e 52 segundos ao longo do dia.
Meirelles ainda tenta atrair o Centrão – e até o PSDB em um sonho distante –, mas sua baixa intenção de voto, em torno de 1%, e a percepção de que é ligado ao presidente Michel Temer (MDB), com recordes de impopularidade, afastam possíveis interessados.
O empresário e fundador do Partido Novo já avisou: só vai fechar alianças com partidos que não utilizam dinheiro público – ou seja, nenhum. O Novo promete dar aos 980 691 reais a que tem direito do fundo eleitoral o mesmo destino que dá ao fundo partidário: depositar em uma conta até que a legislação permita a devolução aos cofres públicos (atualmente, a regra diz que, se um partido desistir de receber, o valor deve ser redistribuído entre os demais, o que a legenda rejeita).
Sozinho, o Novo terá direito a 32 segundos de exposição diária na televisão. Amoêdo anunciou o cientista político Christian Lohbauer (Novo) como pré-candidato a vice-presidente.
A deputada estadual do Rio Grande do Sul foi a única entre os principais pré-candidatos da esquerda a ensejar desistir em torno de uma candidatura única. Como o movimento não ganhou força, recuou e afirma que se manterá na disputa. Seu partido vem sendo cortejado para eventuais coligações com Ciro Gomes (PDT) ou com um candidato que será lançado do PT.
Sozinho, o PCdoB de Manuela D’Ávila tem direito a 2 minutos e 27 segundos de exposição diária na televisão. Apesar de altamente improvável, uma eventual escolha da pré-candidata do PCdoB pelo PT e pelo ex-presidente Lula faria esse número saltar para 15 minutos e 25 segundos. Os comunistas têm direito a 30,5 milhões de reais do fundo eleitoral.
Neste momento, a possibilidade de Rodrigo Maia ser, de fato, candidato é considerada baixa, mesmo entre seus correligionários do DEM. Maia estaria se mantendo no páreo apenas até o partido definir qual será sua posição na disputa.
Sem fechar alianças, o DEM sairia com consideráveis 9 minutos e 36 segundos de exposição diária. Como o partido integra o bloco de legendas do Centrão, uma reviravolta em que essas siglas apoiassem Maia faria o presidente da Câmara saltar para 35 minutos e 36 segundos. O DEM tem direito a 89,1 milhões de reais do fundo eleitoral.