Em entrevista no fórum Amarelas ao Vivo, organizado por VEJA nesta quarta-feira 19, em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, intensificou o tom na pregação pelo voto útil para evitar um segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que lideram as pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto. O tucano classificou as possíveis eleições de Bolsonaro e Haddad como “equívoco”, “salto no escuro” e “escuridão” e afirmou que é “óbvio que vai dar problema” caso um dos dois seja eleito.
“Nós vamos mostrar os dois equívocos que o Brasil pode trilhar, um que é a escuridão, o PT, nós já conhecemos e não podemos errar de novo. A responsável pelos 13 milhões de desempregados é a Dilma. Aliás, quem escolheu o Temer foi o PT. Do outro lado, você tem um salto no escuro, inimaginável, alguém que passou 28 anos na Câmara votando sempre pelo corporativismo, votando com o PT, é o mesmo DNA”, afirmou Alckmin aos jornalistas Fábio Altman e Ricardo Noblat.
O diagnóstico feito pelo ex-governador de São Paulo é o de que os eleitores antipetistas que pretendem votar em Jair Bolsonaro erram ao avaliar que ele é o candidato ideal para derrotar Fernando Haddad. O deputado federal tem 28% da preferência do eleitorado, conforme a pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira 18, enquanto o petista apareceu com 19%.
“Entendem que Bolsonaro pode derrotar o PT e acham que ele é o caminho, e é o contrário. Ele é o passaporte para a volta do PT. A eleição é em dois turnos. O primeiro tem treze candidatos, no segundo ficaram dois e é a menor rejeição. Ele [Bolsonaro] perde para todos os candidatos. Vamos ter essas semanas para dizer que é um equivoco. Tem uma parte do eleitorado que está com o Bolsonaro porque não quer o PT, mas ele perde para o PT”, declarou o tucano, para quem “o PT já está no segundo turno”.
Segundo as projeções de segundo turno feitas pelo Ibope, contudo, Bolsonaro e Haddad empatam numericamente, com 40% das intenções de voto pra cada um, com 15% de votos brancos e nulos e 5% de indecisos. No quesito rejeição, um indicador importante na disputa do segundo turno, quando o voto por exclusão ganha força, o capitão reformado do Exército é o líder, com 42%, seguido pelo ex-prefeito de São Paulo, com 29%.
Para Geraldo Alckmin, a polarização entre Bolsonaro e Haddad foi favorecida por “dois fatos supervenientes”: o lançamento tardio da candidatura do petista, em substituição à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE); e o atentado sofrido pelo deputado em Juiz de Fora (MG).
“O PT criou uma divisão, nós contra eles, e o Bolsonaro é o resultado dessa divisão, é o espelho do outro lado. Você está frente ao extremismo e dois fatos supervenientes: o PT escolhendo candidato há cinco dias, na porta de uma penitenciária, e o atentado ao Bolsonaro, vitima de um ato vil e covarde, mas uma coisa é você se solidarizar com o candidato, outra coisa é escolher o presidente da República”, disse o candidato do PSDB.
Apesar de seu fraco desempenho em pesquisas eleitorais – ele tem 7% da preferência, segundo o Ibope – Alckmin diz estar “firmíssimo” e que a “eleição é por ondas”. “Quantos por cento tinha o Haddad há quinze dias? Hoje ele cresceu e já está em segundo. O que vale é a última onda, a onda da última semana, estou firmíssimo”, disse ele.
Governo Temer
Questionado sobre a autocrítica feita ao PSDB pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de que o partido errou ao entrar no governo do presidente Michel Temer, Geraldo Alckmin afirmou “endossar” a posição do correligionário e buscou se distanciar do emedebista, citando ter sido contra a participação dos tucanos no governo.
“Quando houve o impeachment eu falei ‘olha, o PSDB deve votar a favor de todas as medidas que o Brasil precisa e não deve ter ministério, vai ficar em um cantinho e vai ser responsabilizado por um governo que não é dele’. A maioria do partido decidiu, também não vejo problema, indicou bons nomes, agora, por mim, não teria participado”, declarou.
Alckmin ainda classificou como “inacreditável” que Fernando Haddad, citando o mea-culpa de Tasso, responsabilize o PSDB por desestabilizar o governo Dilma Rousseff por meio do pedido de recontagem dos votos da eleição de 2014 e do apoio a “pautas-bomba” no Congresso.
“O candidato do PT usou uma avaliação que eu diria sincera e honesta do Tasso de forma desonesta. Querer achar que o PSDB é o responsável pela crise do governo do PT é inacreditável. O PT não propôs reforma da Previdência, trabalhista, do Estado, o PT não propôs absolutamente nada, criou um déficit gigantesco e a população foi pagando o preço”, disse o tucano.
Reformas e privatizações
Na entrevista ao Amarelas ao Vivo, Geraldo Alckmin prometeu que, caso eleito, proporá reformas políticas, com voto distrital e cláusula de barreira; de Estado, com diminuição de cargos públicos e profissionalização da gestão de agências reguladoras; previdenciária, com a igualdade entre previdência privada e pública; e tributária, com a unificação de cinco impostos (IPI, ISS, ICMS, PIS e Cofins), em um só, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
Sobre privatizar estatais, o candidato do PSDB disse que o governo “não tem dinheiro para investir e não pode ser empresário, ele tem um forte papel planejador, regulador e de fiscalização” e que privatizaria, por exemplo, o setor de refino da Petrobras, mas preservaria a área de exploração de petróleo da estatal.
O tucano classificou como “muito ruim” o reflexo da greve dos caminhoneiros na concessão de subsídios ao diesel pelo governo Temer e classificou como “quebra da regra” o estabelecimento de um preço mínimo ao frete rodoviário.
Segurança
Ressaltando a redução no número de homicídios em São Paulo de cerca de 13.000, em 2001, para cerca de 3.000, em 2017, período em que o PSDB governou o estado, Geraldo Alckmin defendeu o “endurecimento de penas para casos mais graves” e prometeu implantar grupos especiais de investigadores e policiais nas 150 cidades mais violentas do país, além de criar a Guarda Nacional. Para ele, o crime organizado e o tráfico de drogas na fronteira devem ser combatidos com “tecnologia, gente, inteligência e interação”.
Sobre a intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro, que termina no início de 2019, Geraldo Alckmin defendeu a ideia de que o fim dela deve ser negociado com o novo governador fluminense, em uma transição. “Intervenção tem que acabar, mas claro que não pode ser no dia 1º de janeiro. O novo governador assume e tem que ter transição. Se o governo fosse fazer intervenção em todos os estados que têm problemas, teria que intervir em vinte estados “, disse Alckmin.