Doria: se prenderem o Lula, será pior ainda, vai incendiar o país
Prefeito diz a empresários que prisão em meio ao processo eleitoral ‘seria um erro histórico’; ele também criticou a ‘fragilidade’ das ideias de Bolsonaro
A eventual prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em plena corrida eleitoral seria um “erro histórico”, uma vez que incendiaria o país, declarou nesta quarta-feira (4) o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). “Mesmo que Lula não seja candidato, ele vai ter um preposto e serão dois a fazer campanha”, disse o tucano, em almoço com empresários franceses e brasileiros na capital paulista. “Se prenderem o Lula, pior ainda, porque ele vai se vitimizar e aí incendeia o país.”
O ex-presidente foi condenado a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro no processo envolvendo a posse de um triplex no Guarujá, que seria de Lula e fruto de propina da OAS decorrente de contratos na Petrobras. O petista nega a acusação e recorre ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) – se for condenado em segunda instância, ele pode ser preso e ficar inelegível.
“Seria a pior hipótese a Justiça, embora totalmente soberana para decidir, aprisioná-lo em meio ao processo eleitoral. Seria um erro histórico”, prosseguiu o tucano, que, no entanto, defendeu que “a Justiça faça justiça”. “Mas tenha sensibilidade também de não emitir uma sentença durante o processo eleitoral. Creio que para o país seria arriscado ter uma liderança como a do ex-presidente preso. Poderia criar uma conturbação muito grande.”
Doria disse ainda que o processo eleitoral já começou de fato. “A meu ver, fazer campanha e seguir até outubro é algo que seria democraticamente aceitável. Se vier a ter alguma sentença, que seja após as eleições.”
Creio que para o país seria arriscado ter uma liderança como a do ex-presidente preso. Poderia criar uma conturbação muito grande
João Doria (PSDB), prefeito de São Paulo
Na última pesquisa Datafolha, divulgada no domingo, Lula aparece em primeiro lugar em todos os cenários pesquisados, com no mínimo 35% dos votos. Já Doria oscila de 7% a 10% dependendo da situação. Nos bastidores, ele disputa a candidatura pelo PSDB com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Ainda de acordo com o prefeito de São Paulo, a candidatura de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) terá muita dificuldade de se sustentar nos primeiros lugares das pesquisas de opinião à medida em que se aproximam as eleições presidenciais de 2018. Segundo o Datafolha, o parlamentar é o segundo colocado em todos os cenários, com percentuais de votos que vão de 15% a 19%. Para o tucano, a tendência é que Bolsonaro “desidrate” por causa de suas ideias.
Na visão de Doria, o lugar de destaque de Bolsonaro nas pesquisas hoje se deve ao fato de ele ainda “estar fora da mídia”. “Não quero fazer nenhuma observação negativa em relação a ele, mas a fragilidade de suas ideias tende a desmotivar parte desse público que hoje vota nele.”
Durante o almoço com os empresários, o prefeito ainda analisou o cenário para 2018 e disse que uma eventual fragmentação de candidaturas de centro deverá favorecer os nomes dos extremos do espectro político, de ambos os lados. No entanto, é mais provável que a esquerda seja mais beneficiada nesse processo.
“O sentimento lulo-petista tem mais chances de cativar parte do eleitorado, principalmente as pessoas mais pobres nas regiões Norte e Nordeste, que tem menor quantidade e informação, de debate e que ainda tem grau de confiabilidade surpreendentemente elevado num personagem como esse, que tem nove indiciamento criminais”, lembrou.