Às vésperas de ser indiciado pela Polícia Federal, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu permaneceu em silêncio na tarde desta segunda-feira durante depoimento aos agentes. Ele se recusou a dar esclarecimentos aos investigadores porque diz não ter conhecimento de todas as acusações que pesam contra ele. Pela manhã, na CPI da Petrobras, Dirceu também rejeitou responder a perguntas de parlamentares sobre o escândalo do petrolão.
O ex-homem-forte do governo Lula foi preso no dia 3 de agosto por suspeitas de coordenar um esquema de arrecadação de propina por meio de contratos falsos entre empreiteiras e a JD Consultoria, empresa de Dirceu em sociedade com o irmão. Nesta terça-feira ele deve ser indiciado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
“Ainda não tivemos acesso a todo o material. Não tenho como permitir que o Zé fale antes de conhecer a acusação”, disse o advogado Roberto Podval. Nos próximos dias, o defensor deve se encontrar com o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), para ter acesso pelo menos à parte da delação do empreiteiro Ricardo Pessoa em que Dirceu é citado. Até agora, todos os pedidos de acesso à colaboração de Pessoa foram rejeitados. “A defesa se vê censurada porque eu não consigo trabalhar sem conhecer o que tem e não consigo conhecer o que tem porque me é negado”, completou.
Segundo o Ministério Público, José Dirceu foi uma das pessoas que instituíram o esquema criminoso do petrolão, que movimentou mais de 6 bilhões de reais a partir de fraudes em contratos da Petrobras e do pagamento de propina a agentes públicos. No despacho que autorizou a prisão preventiva do ex-ministro no início de agosto, o juiz Sergio Moro disse que há indícios de que o petista praticava crimes de forma “profissional” e “habitual”. Uma das evidências, apontou o magistrado, é que Dirceu continuou a receber propina mesmo depois de já condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa no julgamento do mensalão.
De acordo com Moro, as provas recolhidas no âmbito da Lava Jato – e potencializadas com as revelações do lobista Milton Pascowitch de que os repasses a Dirceu eram propina – indicam que o ex-ministro “persistiu recebendo vantagem indevida durante toda a tramitação da ação penal, inclusive durante o julgamento em plenário”. A audácia do petista de embolsar dinheiro sujo enquanto tentava desqualificar o julgamento do mensalão pelo STF indica, segundo Moro, “acentuada conduta de desprezo não só à lei e à coisa pública, mas igualmente à Justiça criminal e a Suprema Corte”.