Dinheiro de Geddel ser lícito é ‘hipótese remota’, diz juiz
Vallisney de Souza Oliveira relaciona os R$ 51 milhões encontrados em imóvel com esquema de corrupção na Caixa, pelo qual ex-ministro é investigado
Responsável por devolver ao regime fechado o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira relacionou os 51 milhões de reais encontrados em um apartamento que seria utilizado por Geddel com um esquema de corrupção na Caixa Econômica Federal, pelo qual o peemedebista é investigado. Vallisney descartou a possibilidade dos valores terem origem lícita, mas ressaltou que, mesmo nessa “remota hipótese”, o ex-ministro cometeu o crime de lavagem de dinheiro, ao ocultar os valores no imóvel.
Entre 2011 e 2013, Geddel ocupou o cargo de vice-presidente de pessoa jurídica do banco estatal, período em que, segundo as investigações da Operação Cui Bono?, teria participado de um esquema criminoso ao lado do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do doleiro Lúcio Funaro e de outro ex-executivo do banco, Fábio Cleto. No período, o grupo teria obtido autorizações de empréstimos da Caixa para empresas privadas em troca do pagamento de propinas. Em depoimento, Funaro afirmou que apenas nos casos da J&F, de Joesley Batista, Marfrig e Bertin, o ex-ministro teria embolsado 20 milhões de reais.
O juiz relembrou que o fato de não haver ocorrência de lavagem foi uma das alegações usadas pelo desembargador Ney Belo na última decisão sobre o ex-ministro. Em julho, nove dias após a primeira prisão do peemedebista, o desembargador converteu a prisão de Geddel em domiciliar, o autorizando a ficar em Salvador sem utilizar tornozeleira eletrônica, em falta na Bahia. Para basear a tese de que os valores encontrados são mesmo do ex-ministro, o magistrado utilizou fatos apontados pelo delegado Marlon Cajado, da Polícia Federal.
Por conta disso, a prisão domiciliar, avalia Vallisney, “completamente ineficaz diante desse novo quadro, pois não garante a eficiência da medida, como se pode notar pela dinheirama encontrada (sem documentação e sem comprovação de origem) perto da residência em que se encontra cumprindo a prisão domiciliar decretada”. “Não há, diante dessas novas circunstâncias, nenhuma possibilidade de se assegurar que o preso domiciliar esteja cumprindo e possa continuar cumprindo rigorosamente todos os requisitos da cautela”, conclui.
De acordo com o relatório da investigação, foram encontradas, nas cédulas de dinheiro e nos materiais usados para armazená-las, impressões digitais de Geddel e do advogado Gustavo Ferraz, também preso na manhã desta sexta-feira. No local, os policiais encontraram também uma nota fiscal emitida por uma funcionária do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro.
No mesmo sentido, de confirmar o uso do apartamento pelo peemedebista, depuseram o dono do imóvel, o empresário Sílvio Silveira, e pela administradora do condomínio, Patrícia dos Santos. Silveira afirmou aos policiais que emprestou o imóvel para que os irmãos guardassem objetos herdados do pai, falecido em 2016, o que foi corroborado na fala de Patrícia.
Procurado por VEJA, o advogado de Geddel Vieira Lima, Gamil Foppel, afirmou, em nota, que “somente se manifestará quando, finalmente, lhe for franqueado acesso aos autos, especialmente aos documentos que são mencionados no decreto prisional”. “Pesa dizer que o direito de defesa e, especialmente, as prerrogativas da advocacia, conferidas por lei, sejam tão reiteradamente desrespeitadas, impedindo-se o acesso a elementos de prova, já documentados nos autos”, concluiu.