Em nota divulgada na noite desta quinta-feira 16, a ex-presidente Dilma Rousseff anunciou que processará Jair Bolsonaro por calúnia e difamação. Mais cedo, ao receber prêmio de “personalidade do ano”, oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos em Dallas, nos Estados Unidos, o atual presidente, sem citar o nome de Dilma, fez referência a quem “há pouco ocupava o governo” e teve “as mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão”.
“No Brasil, a política até há pouco era de antagonismo a países como Estados Unidos. Os senhores eram tratados como se fossem inimigos nossos. Agora, quem até há pouco ocupava o governo, teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão, como eu sou capitão, naqueles anos tristes que tivemos no passado”, disse Bolsonaro a um público composto por brasileiros e americanos.
Dilma viu clara referência a ela própria na fala e diz que a declaração é “mentirosa e caluniosa”. “Jamais participei de atos armados ou ações que tivessem ou pudessem levar à morte de quem quer que seja”, salientou a petista.
“Os heróis e homenageados pelo senhor Bolsonaro que, durante a ditadura e depois dela, tiveram suas mãos manchadas do nosso sangue”, acrescentou a ex-presidente.
Em 2016, ao votar a favor do impeachment de Dilma, o então deputado Jair Bolsonaro homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, local onde ocorreram torturas e assassinatos durante o regime militar. Na ocasião, Bolsonaro disse que Ustra era o “pavor de Dilma”.
“O senhor Bolsonaro responderá no juízo criminal e cível por mais essa leviandade contra mim. Ele não poderá se escudar no cargo de Presidente da República e irá ser cobrado por suas mentiras, calúnias e difamações”, declarou Dilma Rousseff.
Confira, abaixo, a íntegra da nota divulgada por Dilma após a declaração de Bolsonaro nos EUA:
“O senhor Jair Bolsonaro, imerso em seu mundo de fake news mostrou mais uma vez seu despreparo para dirigir o País e representá-lo internacionalmente.
Impondo sua presença constrangedora onde não é bem-vindo, e nem sequer é convidado, este senhor que infelizmente dirige o Brasil fez, em Dallas, uma declaração mentirosa e caluniosa sobre minha história política.
Durante a resistência à ditadura — e muito menos no período democrático —, jamais participei de atos armados ou ações que tivessem ou pudessem levar à morte de quem quer que seja. A própria Justiça Militar — as auditorias, o STM e até o STF — em todos os processos que foram movidos contra mim, comprovaram tal fato. Os autos respectivos documentam isso. Ao contrário dos heróis e homenageados pelo senhor Bolsonaro que, durante a ditadura e depois dela, tiveram suas mãos manchadas do nosso sangue – militantes brasileiros e brasileiras – pelas torturas e assassinatos cometidos contra nós.
Minhas mãos estão limpas e foram fortalecidas, ao longo da vida, pela militância a favor da democracia, da justiça social e da soberania nacional. Foi esta luta que me levou à Presidência da República, cargo que honrei representando dignamente meu País, sem me curvar a qualquer potência estrangeira, respeitando todas as nações, da mais empobrecida à mais rica.
Se o senhor Bolsonaro quer se ocultar do “tsunami” das investigações que recaem sob seu clã, a partir da abertura dos vários sigilos, não me use como biombo, nem tampouco menospreze os cidadãos e cidadãs que foram às ruas do País em defesa de uma educação de qualidade.
Senhor Bolsonaro, as ruas estão cheias porque ao se dispor, com seu ministro desinformado, a destruir a educação, vocês estão tirando a esperança de melhores dias para milhões de estudantes já beneficiados e também os que poderiam sê-lo pela expansão e interiorização das universidades e institutos federais de educação. Oportunidades de acesso ao ensino superior que foram proporcionadas pelos nossos governos do PT em todo o País.
“Idiotas úteis” são aqueles que esquecem um ditado popular: “a mentira tem pernas curtas”. O senhor Bolsonaro responderá no juízo criminal e cível por mais essa leviandade contra mim. Ele não poderá se escudar no cargo de Presidente da República e irá ser cobrado por suas mentiras, calúnias e difamações.
Dilma Rousseff”