Criticado por ter pautado, em regime de urgência, a proposta que impede que candidatos a delator fechem acordos de colaboração com a Justiça, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) mirou sua própria sucessão ao decidir levar adiante a regra que, se aprovada, esvazia um dos mais relevantes mecanismos de investigação do país. A avaliação é de uma liderança do Centrão muito próxima a Lira.
Alguns fatores são elucidativos. O deputado decidiu pautar o tema das delações imediatamente após duas colaborações premiadas caras ao bolsonarismo, a de Mauro Cid e a do ex-policial militar Ronnie Lessa, que confessou o assassinato da vereadora Marielle Franco, com o objetivo de fidelizar bolsonaristas na Câmara e cabalar votos de seguidores de Jair Bolsonaro para o candidato que o atual presidente da Casa escolher para sucedê-lo.
“Para eleger o candidato dele, Arthur Lira precisa dos votos do PL, o partido de Bolsonaro. Ele já tem um bunker com 100 votos, mas precisa de mais 150. Esta é uma conta muito clara e ele está fazendo a parte dele”, resumiu o líder do Centrão.
Maior bancada da Câmara, o PL conta com 96 deputados federais, o que, em uma eventual votação em bloco na disputa pela Presidência da Câmara, seria um senhor apoio. “Somos as pessoas mais expostas do Brasil, aquelas que as pessoas querem demolir. Não dá para imaginar que vamos deixar a bola da delação quicando contra a gente”, completou o parlamentar.
Anistia e veto a delações de presos são apostas de Bolsonaro
Em um movimento adicional, o presidente da Câmara decidiu escolher o deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), filiado ao partido de Elmar Nascimento, um dos nomes fortes para a sucessão da Câmara, como relator da proposta de anistia aos presos do 8 de janeiro. O tema é apoiado abertamente pelo PL e aposta de bolsonaristas para virar a maré de decisões judiciais hoje desfavoráveis ao ex-presidente e a antigos integrantes do governo.
Não é segredo para ninguém que a equipe jurídica do capitão conta com um eventual cenário hostil a Lula, de preferência na seara econômica e às vésperas das eleições de 2026, para formalizar no Supremo a hipótese de se anular acusações contra o ex-presidente – seja por haver delações feitas por réus presos, seja pelo fato de o Congresso eventualmente aprovar uma anistia.