No último dia 5, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) escreveu no Twitter que o PT cometeu crimes contra o dinheiro público, “destruindo a vida de milhares de brasileiros”. Junto do texto, postou um curto vídeo em que reforçava as críticas aos escândalos que marcaram os governos petistas. “Aí falam que o PT é socialista, tem pena de pobre. Não. Quanto mais pobre dependendo do Estado, melhor pra eles”, atacou o parlamentar. “Chega a ser vergonhoso você dizer que o Lula pode concorrer depois à Presidência da República. É bizarro.” Por conta dessa postagem, conforme revelou VEJA, a conta do filho Zero Três do presidente Jair Bolsonaro foi temporariamente suspensa. Depois, o Twitter reativou o perfil e alegou que a sanção foi tomada devido a um erro.
O episódio envolvendo o deputado reacendeu a discussão sobre o papel das plataformas na moderação do conteúdo publicado nas redes sociais. Até que ponto uma empresa pode interferir numa discussão eleitoral, bloquear o perfil de um parlamentar e até mesmo derrubar uma live do presidente da República? O ex-presidente Donald Trump, por exemplo, foi banido pelo Twitter após insuflar extremistas a invadirem o Capitólio, em um trágico episódio que resultou na morte de cinco pessoas. Esse tema deve ganhar um peso ainda maior durante as eleições deste ano, em meio à forte polarização política, à enxurrada sem fim de fake news e às ofensivas (de todos os lados) para destruir a reputação de adversários.
Procurada por VEJA, a Meta (dona do Facebook e do Instagram) afirmou que possui “milhares de revisores” e utiliza inteligência artificial para “detectar, analisar e remover conteúdos violadores das nossas plataformas em dezenas de idiomas, entre eles o português”. “Sabemos que o contexto local é relevante e, por isso, temos brasileiros trabalhando nessa área em diferentes países”, comunicou, sem detalhar como funciona o processo decisório na remoção do conteúdo indesejado. Segundo a Meta, as regras de conteúdo do Facebook e do Instagram “buscam garantir a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, um ambiente seguro para as pessoas”, sem tolerância para discurso de ódio, bullying, assédio ou conteúdos que possam colocar a vida das pessoas em risco. De acordo com a Meta, não cabe a “qualquer plataforma ou empresa privada moderar o debate político”. A empresa deixou recentemente a lista de dez companhias mais valiosas e já perdeu 230 bilhões de dólares de valor de mercado em um único dia.
Nenhuma das grandes empresas de tecnologia quis informar quantas contas de políticos e quantas postagens deles já foram removidas por ferirem suas políticas, nem detalhar o processo decisório na moderação de conteúdo. Segundo o YouTube, conteúdos que violam as regras da empresa representam uma pequena fração dos bilhões de vídeos assistidos na plataforma (entre 0,16% e 0,18% das visualizações totais). A empresa informou a VEJA que possui “uma combinação de sistemas inteligentes, revisores humanos treinados e denúncias de usuários para identificar material suspeito”.
Funciona assim: na primeira vez que um usuário violar as políticas da plataforma, ele recebe punição que começa com um simples alerta e pode evoluir para “avisos”, que limitam a possibilidade de o usuário utilizar ferramentas ou realizar ações em seu canal por um período de tempo, que pode chegar a duas semanas. Em um eventual terceiro aviso dentro desse mesmo período de 90 dias, o canal é removido permanentemente. “Às vezes, um único caso de abuso grave poderá resultar na remoção permanente do canal sem alerta. Mas sabemos que os sistemas nem sempre acertam. Por isso, é possível solicitar uma revisão humana sobre as decisões tomadas pelos mecanismos automatizados”, explicou o YouTube.
No caso de Eduardo Bolsonaro, o Twitter alega que a publicação do parlamentar foi identificada erroneamente por “sistemas automatizados” como estando em violação a nossas regras. A empresa diz trabalhar com uma “combinação de tecnologia e análise humana para identificar violações às nossas regras e tomar as medidas cabíveis”. “Temos uma equipe que trabalha ao redor do mundo, em idiomas incluindo o português, para essas análises e investimos de forma recorrente em nossos sistemas e em treinamentos de nossas equipes para aprimorar a detecção de potenciais violações e a tomada de medidas corretivas”, informou o Twitter.
A postura das plataformas é criticada pelo deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do PL das Fake News, que tenta criar regras mais claras na esfera digital. “A lógica das plataformas é que só elas decidem, o que pode criar um sistema privado de censura. É inaceitável, como é inaceitável você amordaçar as plataformas, impedindo que elas possam fazer a moderação. É preciso encontrar um caminho do meio”, defende Silva. RelacionadasPolíticaO que levou o Twitter a bloquear ‘por engano’ a conta de Eduardo BolsonaroEconomiaMeta, de Zuckerberg, fica menor e perde lugar entre mais valiosasPolíticaComo será o cerco do TSE às redes sociais, alavanca eleitoral de Bolsonaro