Deboche. É assim que o ex-chefe da Força-tarefa da Lava-Jato Deltan Dallagnol classifica o movimento de delatores do petrolão que cogitam questionar os próprios acordos de colaboração com a Justiça e pedir de volta o dinheiro que pagaram aos cofres públicos. A hipótese ganhou corpo após o decano no Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ter anulado investigações contra o empresário Walter Faria, dono da cervejaria Itaipava, alegando que mensagens hackeadas dos procuradores da Lava-Jato e do ex-juiz Sergio Moro mostravam que existia um “acordo espúrio” entre julgador e acusação e não se restringe aos casos do escândalo de corrupção na Petrobras.
Conforme revelou VEJA, o doleiro Hélio Laniado, julgado por Moro há mais de dez anos e preso por ordem dele nas investigações do caso Banestado, entrou com recurso de revisão criminal no Tribunal Regional Federal da 4ª Região argumentando, com base nas mensagens hackeadas, que foi perseguido judicialmente. O próprio Laniado fechou delação premiada e pegou cerca de 7 milhões de reais em multa, mas agora quer anular tudo.
“Quando pensamos que nada podia piorar no combate à corrupção no Brasil, com aqueles que investigaram grandes esquemas sendo punidos e perseguidos, vemos o absurdo de réus confessos tentarem voltar atrás em suas declarações. Se esse movimento prosperar, será o ápice da reação contra a Lava-Jato e pró impunidade no país”, disse Dallagnol a VEJA.
“O dinheiro foi roubado da sociedade e a Lava-Jato devolveu esses recursos ao povo brasileiro. Agora, querem roubar os brasileiros mais uma vez e devolver o dinheiro para os ladrões e corruptos. É um deboche com aqueles que sonham com um país melhor e mais justo”, completou.
Recentemente o ex-procurador foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a indenizar o ex-presidente Lula por ter usado um organograma feito em Power Point em que palavras desabonadoras eram relacionadas ao petista, na época denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro. Na última semana foi a vez de Sergio Moro, alvo de uma ação de deputados do PT, que querem que o ex-magistrado pague por supostos danos da Lava-Jato na economia do país.