Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Cunha distribuiu propina em dinheiro vivo, diz delator

Em seu acordo de colaboração, o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto também revelou que o doleiro Lúcio Funaro tinha um bom relacionamento com toda a cúpula do PMDB – e que costumava citar o ministro Geddel Vieira Lima e o ex-ministro Henrique Alves

Por Thiago Bronzatto, de Brasília
5 jul 2016, 19h46

O roteiro da corrupção costuma ser invariável: via de regra, o beneficiário do esquema é um agente público ou um político, responsáveis por destravar a máquina pública. Fugindo à regra, o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é acusado de embolsar comissões sobre recursos desviados da Caixa Econômica Federal e também de distribuir propinas em dinheiro vivo. De acordo com a delação premiada do ex-vice-presidente do banco estatal Fábio Cleto, o parlamentar “entregou diretamente ao depoente 40.000 reais em espécie em 10/08/2012, no apartamento funcional dele”.

Cleto também recebeu dinheiro de Cunha. O ex-vice-presidente da Caixa relata em sua delação ter recebido do parlamentar 520 000 reais em espécie. Desse valor total, 120.000 reais foram entregues em Brasília, entre 2012 e 2013. O restante, 400 000 reais, foi acertado em abril de 2014, quando um “portador indicado por Eduardo Cunha” deixou uma sacola com dinheiro na portaria do prédio onde morava Cleto em São Paulo. Esses recursos faziam parte de um negócio espúrio entre Cunha, Cleto e o doleiro Lúcio Funaro — que cobravam pedágio dos empresários que pleiteavam recursos do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), administrado pela Caixa e que investe o dinheiro do trabalhador em projetos de infraestrutura.

Eduardo Cunha
Eduardo Cunha (VEJA)

Acerto com o governo Dilma – A origem do esquema de desvio de recursos bilionários da Caixa teve início em meados de 2011, com a nomeação de Fábio Cleto à vice-presidência do banco estatal. O ex-executivo entrou na cota do PMDB após a indicação de Funaro, que trabalhou diretamente com Cleto, e a anuência de Eduardo Cunha e do ex-deputado federal e ex-ministro Henrique Alves (PMDB-RN). O delator disse que ouviu de Funaro que “o PMDB tinha direito a alguns cargos no governo federal, no recém-iniciado governo da presidente Dilma”. “Entre esses cargos estaria a vice-presidência da CEF; que na época Funaro também mencionou a presidência do Basa – Banco da Amazônia”, afirmou Cleto em seu depoimento. A sociedade formada entre PT e PMDB na Caixa permitiu que fossem fraudados ao menos doze projetos do FI-FGTS, que somam mais de 6 bilhões de reais.

Lucio Bolonha Funaro
Lucio Bolonha Funaro (VEJA)
Continua após a publicidade

Outros políticos – Em sua delação, Fábio Cleto também revela que o doleiro Lúcio Funaro costumava dizer que tinha um “bom relacionamento com toda a cúpula do PMDB” e com políticos de outros partidos. Entre os nomes citados pelo suposto operador de Eduardo Cunha estão Henrique Alves e o atual ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo. Cleto não esclarece em quais circunstâncias os peemedebistas foram mencionados — e qual era a relação deles com Funaro. “Acredita que havia uma troca de benefícios recíprocos entre os políticos e Lúcio Bolonha Funaro”, afirmou o ex-vice-presidente da Caixa.

Ao esclarecer como foi indicado para o banco estatal, Cleto contou que o seu currículo foi repassado por Funaro para Eduardo Cunha, que o encaminhou para Henrique Alves, então líder do PMDB na Câmara em meados de 2011. Chancelado pelo partido, o currículo de Cleto foi parar nas mãos de Antonio Palocci, então ministro da Casa Civil e coordenador da eleição da presidente Dilma Rousseff em 2010. Em poucos dias, o ex-executivo foi chamado para uma entrevista com o então ministro da Fazenda Guido Mantega, em seu gabinete em Brasília. “A conversa foi mais técnica e não se abordou a questão da indicação política”, relatou Cleto. Alguns dias depois, “Funaro tinha informações de que Palocci tinha entrado em contato com Henrique Eduardo Alves, confirmando que o currículo havia sido aceito”. Dali em diante, foi implantado um esquema “de corrupção e lavagem de dinheiro relacionado à Caixa Econômica Federal”, conforme relatou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em sua denúncia apresentada contra Eduardo Cunha, Henrique Alves, Lúcio Funaro e Fábio Cleto.

Procurado, o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha diz que “não tem o que falar” e que “desmente o fato”. Além disso, afirmou que não conhece o conteúdo da delação de Fábio Cleto. O ex-ministro Henrique Alves negou as acusações e disse que a indicação de Fábio Cleto para a vice-presidência da Caixa foi feita pela bancada do PMDB. “Como líder naquela época, apenas formalizei. O nome dele foi submetido ao Ministério da Fazenda”, disse. “Nunca tive qualquer relação com ele (Fábio Cleto)”, afirmou Alves. O ministro Geddel Vieira Lima e o advogado Daniel Gerber, que defende Lúcio Funaro, não retornaram.

Lucio Bolonha Funaro
Lucio Bolonha Funaro (VEJA)
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.