A CPI da Pandemia ouviu nesta quinta-feira, 8, a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde Francieli Fantinato. A servidora pediu para deixar o cargo no fim de junho e foi exonerada na quarta-feira 7. Ela integra a lista de investigados pela comissão e já foi alvo de quebra de sigilos telefônico e telemático por parte da CPI.
O depoimento
Questionada por que deixou o cargo que ocupou desde 2019, Francieli alegou “questões pessoais” e citou os “últimos acontecimentos da politização do assunto em relação à vacinação”. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL), então, pediram mais detalhes sobre o que seria a politização. A enfermeira se referiu ao “líder da nação”, em referência ao presidente Jair Bolsonaro.
“Quando começa a se tratar o tema, em relação à vacinação, onde se coloca em dúvida essa prática, tendo o aval da Anvisa, tendo o aval em relação aos estudos, isso pode trazer prejuízos para a campanha de vacinação”, detalhou. “Ter uma politização do assunto por meio do líder da nação, que traz elementos que muitas vezes colocam em dúvida… qualquer indivíduo, qualquer pessoa que fale contrário à vacinação, vai trazer dúvidas à população brasileira. Então há uma necessidade de uma comunicação única, seja de qualquer cidadão, seja de qualquer escalão”, acrescentou.
A servidora também criticou a falta de doses de vacina e de campanhas publicitárias de combate à Covid-19. Segundo ela, “o maior programa de vacinação do mundo” teve dificuldades para executar o seu papel porque “faltou quantitativo suficiente para execução rápida de uma campanha, e campanha publicitárias para a segurança dos gestores, profissionais de saúde e população”. Para Francieli, “o PNI, estando sob qualquer coordenação, não consegue fazer uma campanha exitosa sem vacinas e sem comunicação”.
“Para um programa de vacinação ter sucesso, é simples. É necessário ter vacinas, é necessário ter campanha publicitária efetiva e, infelizmente, eu não tive nenhum dos dois”, salientou Francieli.
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O requerimento de convocação de Francieli foi apresentado pelo senador Otto Alencar (PSD-BA). Segundo o parlamentar, a servidora editou nota técnica aos estados, recomendando a vacinação de gestantes que tinham recebido a primeira dose da AstraZeneca com qualquer vacina que estivesse disponível, sem nenhuma comprovação de segurança ou eficiência disso nas grávidas. Para Otto, esse procedimento, que é chamado de intercambialidade, provocou mortes no Brasil.
Em 8 de junho, quando o ministro Marcelo Queiroga prestou depoimento à comissão, o assunto gerou uma discussão entre os dois. Otto disse que o fato era muito grave e que as pessoas “não podem ser usadas como cobaias”. Além disso, segundo o senador, a Pfizer traz em sua bula que não deve ser aplicada em gestantes.