Bolsonaro citou Barros ao ouvir denúncia sobre Covaxin, diz Luis Miranda
Deputado relatou pressões pela compra da vacina indiana e afirmou que Jair Bolsonaro reconheceu a gravidade dos fatos

A CPI da Pandemia ouviu nesta sexta-feira, 25 os depoimentos do servidor do Ministério da Saúde e ex-chefe de Importação do Departamento de Logística da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda e de seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). Ambos denunciaram possíveis irregularidades na compra pelo governo federal da vacina indiana contra a Covid-19, Covaxin.
Luis Ricardo relatou ao Ministério Público ter recebido pressões para acelerar o processo de aquisição do imunizante, fabricado pela empresa Bharat Biotech, com sede na Índia. Na CPI, ele mostrou mensagens para comprovar o fato. Segundo ele, foram recebidas ligações com questionamentos sobre o contrato. O servidor afirmou que Bolsonaro prometeu apresentar as denúncias à PF para investigação.
Já Luis Miranda, antes do depoimento, disse que alertou o presidente Jair Bolsonaro sobre as suspeitas, que por sua vez nega qualquer irregularidade. A negociação está sob suspeita em razão do alto valor de cada dose, em torno de 80 reais, e da participação de uma empresa intermediária, a Precisa Medicamentos.
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O requerimento convocando os depoentes foi do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL). Renan e o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), relataram preocupação com a segurança dos depoentes. Aziz solicitou à Polícia Federal proteção para os irmãos. Em pronunciamento na quarta-feira 23, Onyx Lorenzoni, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, atacou o deputado e anunciou processo administrativo disciplinar contra o servidor.
Já perto do fim da sessão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro citou nominalmente o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), ao ouvir denúncias de irregularidades na compra da vacina Covaxin.
A conversa entre Bolsonaro e Miranda ocorreu no dia 20 de março no Palácio da Alvorada, de acordo com o relato do parlamentar. Ao narrar o encontro à CPI, inicialmente, o deputado omitiu o nome de Ricardo Barros. “O presidente entendeu a gravidade. Olhando nos meus olhos, ele falou: ‘Isso é grave’. Não me recordo do nome do parlamentar, mas ele até citou um nome para mim, dizendo: ‘Isso é coisa de fulano’. E falou: ‘Vou acionar o Diretor-Geral da Polícia Federal, porque, de fato, Luis, isso é muito grave”, disse o deputado.
“Ele diz: ‘isso é coisa do fulano. [Palavrão], mais uma vez’. E dá um tapa na mesa”, relatou Miranda em outro momento. Durante horas, senadores pressionaram o parlamentar a dizer o nome citado por Bolsonaro e Luis Miranda repetia que “não se lembrava”.
Pouco antes das 22h, questionado pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), o deputado confirmou o nome de Ricardo Barros. “Eu sei o que vai acontecer comigo. A senhora também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou”, afirmou Luis Miranda. Simone Tebet insistiu: “O senhor confirma?” “Foi o Ricardo Barros, que o presidente falou. Foi o Ricardo Barros”, repetiu Miranda.
Pelo Twitter, Ricardo Barros negou as acusações.
“Vocês não sabem o que eu vou passar. Apontar o presidente da República que todo mundo defende como uma pessoa correta, honesta. Que sabe quem tem algo errado”, afirmou Luis Miranda. Depois continuou: “Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem tá fazendo errado? De quem desvia dinheiro público?”, completou.
A servidora Regina Célia Silveira Oliveira foi citada por Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda e chefe de importação do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, como a pessoa que deu aval ao avanço da papelada da Covaxin enquanto a área de importação apontava problemas.
Segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Regina Célia assumiu o cargo quando Ricardo Barros era ministro da Saúde. O senador defendeu que a servidora seja convocada pela comissão.
Na sua tradicional live nesta quinta, 24, o presidente Jair Bolsonaro confirmou ter se reunido com Luis Miranda em março, mas disse que o parlamentar não relatou suspeitas de corrupção na compra da Covaxin. O presidente, porém, negou as suspeitas levantadas por Miranda, e definiu as acusações de corrupção como “coisa ridícula”. Nesta sexta, o presidente afirmou que a Polícia Federal vai abrir inquérito para investigar a compra da vacina indiana.