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Cotado para assumir o MEC, Renato Feder tem perfil oposto ao de Weintraub

Secretário de Educação do Paraná, o economista, de 41 anos, fala em construir pontes com estados e municípios e diz não ter ligação com olavistas

Por Roberta Paduan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 jun 2020, 17h45 - Publicado em 24 jun 2020, 17h10

O paulistano Renato Feder, de 41 anos, é um dos nomes mais fortes sobre a mesa do presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Educação, vago desde a saída de Abraham Weintraub, na sexta-feira 29. Secretário de Educação do Paraná, governado por Ratinho Júnior (PSD), é economista, formado pela Universidade de São Paulo (USP), e se diz um apaixonado pelo tema. Começou a dar aulas de matemática aos 16 anos para estudantes da sinagoga que frequentava (da época guarda o primeiro cheque que recebeu como pagamento). Também foi professor voluntário de turmas de jovens e adultos, e, mais tarde, acumulou a carreira de executivo com a de professor de administração e economia na universidade Mackenzie e de diretor voluntário de uma escola de ensino básico da comunidade judaica. “Sempre gostei de sala de aula, lousa, giz”, disse Feder a VEJA.

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Antes de entrar no setor público, trabalhou no Serasa, quando ainda estudava economia. Aos 23 anos, tornou-se diretor da Multilaser, empresa de tecnologia herdada pelo amigo de infância, Alexandre Ostrowiecki. Juntos, dividiram o comando da companhia até 2017. Depois disso, e com a vida financeira resolvida — ele é um dos herdeiros do grupo Elgin –, Feder decidiu se dedicar apenas ao ramo da educação. Antes de assumir a secretaria de Educação do Paraná, em 2019, já havia debutado como assessor voluntário na Secretaria de Educação de São Paulo, durante o governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Caso seja confirmado por Bolsonaro, Feder será o terceiro ministro de uma das pastas mais problemáticas do governo. Fora o desafio natural de elevar a qualidade da educação brasileira, que ocupa péssimas posições nos rankings internacionais, terá de se equilibrar em uma cadeia que vive sob intensa vigilância das alas mais radicais do governo, especialmente a dos seguidores do escritor de extrema-direita Olavo de Carvalho, de quem os os dois ministros anteriores (Ricardo Veléz e Weintraub) são discípulos. Educado, de fala empolgada e capaz de descer a detalhes dos programas implementados nas escolas paranaenses, Feder aparenta ter um perfil oposto ao de seus antecessores: só fala em técnicas pedagógicas, tecnologia, gestão, e não toca na palavra ideologia. A seguir, a entrevista que ele concedeu a VEJA:

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Qual é o grande objetivo do senhor, caso seja confirmado no ministério? Colocar o Brasil em postos mais altos no ranking do Pisa (teste internacional que avalia estudantes do ensino básico). O grande objetivo é preparar os alunos para a vida e para o mercado de trabalho, e o Pisa reflete isso. Subindo no Pisa, estaremos preparando melhor os alunos da escola pública.

O ex-ministro Abraham Weintraub costumava se definir como militante de direita e dizia que as universidades eram dominadas pela esquerda, que seria, inclusive, responsável pelo fracasso da educação no país. O senhor tem essa mesma visão? Olha, eu vou responder olhando para a frente. Acredito que a visão – e a conversa com o presidente Bolsonaro foi muito legal porque foi muito nesse sentido – tem de ser a seguinte: o que o Brasil precisa para ser uma potência educacional, para subir no ranking do Pisa. O Brasil precisa de boas aulas, professores com apoio em gestão de sala de aula, prova para saber se os alunos estão aprendendo ou não estão aprendendo, curso de gestão para os diretores das escolas e uma construção de pontes com as secretarias estaduais e municipais. Os alunos e professores que precisam de ajuda estão nas escolas municipais e estaduais, não estão no MEC. Então, o papel do MEC é construir essas pontes, e focar na linha técnica-pedagógica. Esse é o trabalho e foi isso que foi conversado com o presidente.

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“O Brasil precisa de boas aulas, professores com apoio em gestão de sala de aula, prova para saber se os alunos estão aprendendo ou não estão aprendendo, curso de gestão para os diretores das escolas e uma construção de pontes com as secretarias estaduais e municipais”

O senhor não tem, então, esse viés ideológico como seus antecessores? Acredito que quando outras discussões, de qualquer natureza, tiram o foco da questão técnica-pedagógica acabam atrapalhando. A gente tem tanto assunto importante na área técnica. Por exemplo, nos anos 1980, os alunos tinham uma característica. Hoje, a característica é completamente diferente, O desafio do professor ao entrar em uma sala de aula é muito maior. Ele precisa conhecer uma área que chama gestão de sala de aula e muitos professores não têm formação nessa frente. Isso envolve carisma, engajamento com o aluno, a atratividade da aula, o envolvimento do aluno na aula, habilidades sócio-emocionais, que treina o aluno a ter resiliência. Então, essa tem de ser a conversa.

Educação não tem ideologia, é isso? Essa é a linha que eu acredito.

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O senhor sabe que seus antecessores eram seguidores do Olavo de Carvalho, que é uma figura importante para uma ala do governo. O senhor conhece o Olavo? Lógico! Não conheço pessoalmente, mas conheço as ideias dele.

O senhor já fez algum curso, leu algum livro, é um seguidor? Não.

O senhor não teme que o viés ideológico olavista atrapalhe o trabalho? Eu acredito, novamente, nessa questão técnica, que o foco é trabalhar a gestão em sala de aula, trabalhar com metodologias ativas, com tecnologia, medir o aprendizado. Essa é a pauta.

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“Acredito que quando outras discussões, de qualquer natureza, tiram o foco da questão técnica-pedagógica acabam atrapalhando”

Como foi a conversa com presidente Bolsonaro ontem? Foi ótima. Foi muito centrada no lado técnico, de fazer o Brasil caminhar no sentido de ser um país desenvolvido na área da educação, de fazer a gente se aproximar da Coreia do Sul, do Japão, de Taiwan, do Canadá, que são os países que estão no topo do ranking do Pisa, e fazer essa caminhada é possível. Percebi que o presidente está realmente interessado nisso, em tornar o Brasil uma potência na área da educação.

O que o senhor pôde mostrar a ele? Mostrei o que estamos fazendo no Paraná e acredito que esse foi o motivo do convite. Os professores e professoras aqui têm feito um trabalho brilhante, e isso se reflete no aumento das notas do Ideb que grande parte das escolas tiveram. Mostrei, por exemplo, o programa “Presente na Escola”, que é um aplicativo que controla a frequência dos alunos por celular e que mostra ao professor e diretor quem faltou na aula, a média de frequência de cada turma. Isso é informação, que permite que a escola procure a família do aluno, que tome providências para reduzir as faltas. Conseguimos aumentar de 85% para 91% a média de frequência nas escolas do estado. Isso equivale a 60 mil alunos a mais por dia nas salas de aula. Outro programa importante, que implantamos em poucos meses, no ano passado, foi a “Prova Paraná”, que avalia trimestralmente todos os alunos da rede estadual. É uma avaliação muito mais frequente e mais ampla que as das provas nacionais, que são aplicadas a cada dois anos e apenas às séries finais de cada ciclo.

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O senhor pretende replicar esse tipo de programa, caso seja confirmado no MEC? Pretendo e é perfeitamente possível replicar. Mas o papel do MEC é elaborar as políticas públicas e oferecer às redes de estados e municípios. Elas têm de aderir, porque a maior parte dos alunos está nas escolas estaduais e municipais. Nosso papel é construir pontes com eles para ajudar os alunos e professores a caminhar para o topo da qualidade de educação. Acredito que essa caminhada é possível.

O senhor pretende ampliar as escolas cívico-militares? Essa é uma demanda de parte da população e o papel do governo é atender democraticamente a sociedade. As escolas militares são reconhecidamente boas. Elas têm uma estrutura diferente da das redes estaduais e municipais, o que gera um custo maior também, e têm o aspecto da seleção, para admitir os melhores alunos. Vamos ajudar os estados e municípios a implantarem as escolas cívico-militares na medida em que eles foram aderindo, mas elas não terão a seleção, como é hoje feita nos colégios militares, nem seria possível replicar a mesma estrutura desses colégios para toda as redes. De toda forma, acredito que a qualidade do ensino não depende apenas de recursos financeiros. Não acredito em escolas de marfim, mas em metodologia, professor motivado, dentro da sala de aula ou em contato com os alunos. Um ponto que é extremamente importante, que preciso dizer e acho que isso chamou a atenção do presidente, é a revolução que está acontecendo aqui no Paraná. Todos os nossos mais de 40 mil professores estão dando aulas virtuais. Conseguimos um fenômeno que a gente consegue ver quantas aulas virtuais foram dadas ontem. Temos dezenas de milhares de aulas dadas todos os dias. A gente posta lição de casa para o aluno e consegue ver se ele fez ou não fez, se ele acertou ou errou; nós informamos a escola quais não estão fazendo a lição de casa, quais não estão acertando a lição de casa. Então, hoje, no Paraná, a educação acontece.

Isso aconteceu por causa da pandemia? Vinha acontecendo de leve, mas a pandemia acelerou tremendamente.

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