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Como vender uma revolução

A palavra escrita continua poderosa

Por Claudio de Moura Castro
Atualizado em 29 mar 2019, 07h00 - Publicado em 29 mar 2019, 07h00

Quase simultaneamente espocam dois movimentos de independência. Rebelam-se os colonos da Nova Inglaterra e os inconfidentes de Minas Gerais. Estamos no fim do século XVIII. Reclamam dos mesmos problemas, lá e aqui: excesso de impostos e pouca voz na administração pública, no governo. Em ambos os casos, as movimentações são fruto da burrice e arrogância de burocratas das metrópoles, Inglaterra e Portugal. O sucesso de um caso e o fracasso do outro são irrelevantes para o tema deste artigo.

Os inconfidentes eram intelectuais, poetas e escritores de boa cepa. Quem melhor do que eles para empacotar de forma convincente as mensagens que sacudiriam as Minas Gerais? Mas a eloquência de suas palavras tinha pernas curtas. A imprensa estava proibida, e nem 5% do povaréu sabia ler. Sobrava o boca a boca. Coube a missão a Tiradentes, mascate, dentista ambulante e militar experimentado. Perambulando pelas precárias trilhas da província, ele foi incansável.

Por uma coincidência histórica, Lutero entrou em cena, pouco depois do magistral invento de Gutenberg. A imprensa criou um canal para disseminar as ideias da Reforma. Na Igreja do papa, ler a Bíblia era proibido — sob risco de ser queimado vivo! Em contraste, para os protestantes era essencial ler e discutir a Bíblia. Sendo assim, havia que aprender a ler. Fugindo das perseguições da Igreja, protestantes alfabetizados povoaram as colônias da Nova Inglaterra, que, à época, ganhou as taxas de escolarização mais elevadas do mundo.

Diante de um iminente confronto entre os colonos e as tropas inglesas acantonadas em Boston, na calada da noite, a impressora de um jornal local foi desmontada e transportada para uma cidade bem distante. Ao eclodir o primeiro choque militar, ela passou a ser usada, de forma eficaz, como meio de comunicação e mobilização. O jornal organizava e coordenava a resistência dos colonos, cuja preparação já se iniciara havia bom tempo. Ler virou um talento militarmente estratégico.

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Para os analfabetos das nossas Gerais, não mais havia do que os fatos transmitidos oralmente. Mas, ao longo da história, pipocaram novos estilos de marketing das ideias políticas. Na Nova Inglaterra, com eficiência e capilaridade, a palavra escrita cumpriu esse papel. Em décadas recentes, a televisão teve impacto devastador no embate Richard Nixon-John Kennedy. Inesperadamente, o rádio voltou a ter um papel relevante. Mas são todos derrotados pelo rolo compressor da combinação de smartphones com redes sociais. A jihad das primeiras décadas do Islã só contava com o boca a boca. Mas sua exumação nos dias presentes não pode dispensar a palavra escrita (combinada com vídeos sanguinolentos). Ironicamente, a jihad é disseminada pelos meios tecnológicos criados pela civilização que quer destruir.

Emprenha-se pelos sentidos, através da televisão e do rádio — que dispensam a alfabetização. Mas a palavra escrita continua poderosa, seja nos jornais e revistas, seja nos smartphones, embora se mantenha inerte para quem não lê.

Publicado em VEJA de 3 de abril de 2019, edição nº 2628

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