Combate à corrupção traz ‘infinita esperança’, diz Moro em SP
Em evento sobre a Lava Jato, juiz federal comparou combate à corrupção e redução da impunidade ao movimento abolicionista do século XIX
O juiz federal Sergio Moro comparou, nesta terça-feira, o combate à corrupção no Brasil com o movimento que aboliu a escravidão no país, no século XIX, e afirmou que “há boas razões para se manter infinita esperança”. Em uma analogia ao histórico de impunidade de corruptos brasileiros, agora alvos da Operação Lava Jato, o magistrado disse que o Brasil demorou a abolir a escravidão, mas o fez.
As declarações de Moro foram dadas em um fórum promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo Centro de Políticas Públicas (CDPP) para debater a Lava Jato e a Operação Mãos Limpas, investigação anticorrupção que se deu na Itália, nos anos 1990.
Em sua participação no debate, o juiz ressaltou que a Lava Jato produziu resultados positivos. “Processos foram julgados, pessoas que nunca imaginávamos que iriam responder pelos seus crimes foram condenadas. Há também aquelas que estão esperando julgamento de recursos. Portanto, já existe um resultado palpável. A grande questão é sobre como ir adiante”, afirmou Sergio Moro.
Para o magistrado, o combate à corrupção tal qual visto na Lava Jato passou a se dar de forma “mais incisiva” a partir do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que condenou e levou à prisão políticos como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT).
“Se olharmos a corrupção com cabeça fria, o que temos é que a Lava Jato se insere num ciclo iniciado de forma mais incisiva da ação penal 470 (mensalão) e há progressiva redução da impunidade. Há boas razões para se manter infinita esperança de que estamos no processo de amadurecimento da democracia e das leis”, declarou.
Questionado sobre a ausência de manifestações contra a corrupção no Brasil, Sergio Moro afirmou que, nos últimos anos, houve um movimento cívico que produziu resultados positivos. Para ele, a sociedade não deve perder as expectativas e tem de continuar “trabalhando”. “Tem que se confiar na Justiça, mas ela não é algo dado. É algo que se conquista no dia a dia, assim como a democracia”, concluiu.
Além de Moro, participaram do fórum o chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e os italianos Gherardo Colombo, ex-juiz, e Piercamilo Davigo, ex-promotor, ambos com atuação na Operação Mãos Limpas.