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Com codinome ‘Águia’, Bolsonaro causa apreensão em seguranças

Agentes veem 'excesso de informalidade' do presidente, que já foi aconselhado a reavaliar sua postura

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 25 fev 2019, 23h53 - Publicado em 25 fev 2019, 10h20
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  • Uma ave desperta preocupação na capital federal. “Águia se aproxima”, diz um segurança do Planalto para os colegas pelo sistema de rádio. “Águia vai sair agora”, informa outro. O grupo de agentes que faz a escolta do presidente Jair Bolsonaro (PSL) só relaxa quando ele entra no Alvorada, residência oficial, para descansar: “Águia no ninho. Missão cumprida. Ok?”.

    Codinome de Bolsonaro usado pelos seguranças, a águia já foi símbolo da Presidência quando os chefes do Executivo despachavam no Palácio do Catete, no Rio, uma construção com estátuas da ave no telhado. Uma foto de Juscelino Kubitschek (1956-1961) no heliponto do prédio e na frente das asas de uma das águias do telhado do palácio marcou o governo do presidente “voador”.

    Com a transferência da capital para Brasília, as emas do Alvorada desbancaram a temida ave de rapina. Depois de generais “sisudos” e civis “espontâneos” ocuparem o poder, a águia está de volta à simbologia da Presidência da República.

    Não há uma regra para a escolha do apelido pelos seguranças do palácio. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o “Eclipse” – “o tempo fechava sempre”, relataram antigos agentes que atuam no Planalto. Já a presidente cassada Dilma Rousseff era chamada de “Cristal” – “se cair, quebra”, lembraram.

    No Planalto, o comportamento da “Águia” tem sido motivo de apreensão. A preocupação, segundo auxiliares, é com o que consideram “excesso de informalidade” do presidente e com questões de segurança.

    Embora seja oriundo do Exército e tenha redobrado o cuidado com sua proteção pessoal após o atentado a faca que sofreu durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em setembro passado, Bolsonaro não suportou muitos dias o ostensivo sistema de segurança ao chegar a Brasília.

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    Ainda no governo de transição, ele mandou dispensar os batedores da Polícia Militar que abriam o trânsito para sua comitiva e diminuir o número de agentes da Polícia Federal na sua escolta. Assim que assumiu o poder, a guarda dele, por norma antiga, passou para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sendo feita por militares do Exército.

    Um amigo do presidente disse que a equipe de segurança não esconde a preocupação quando Bolsonaro para na portaria do Alvorada para cumprimentar simpatizantes ou, nos aeroportos, ao entrar ou sair do carro, para dar a mão para os batedores ou para o “cara do tratorzinho do avião”. “Ele está tentando manter a autenticidade dele”, avaliou. “Vai acabar entendendo que terá de chegar a um meio-termo, mas não vai ser amarrado.”

    As quebras de protocolo na Presidência, comuns nos governos de Itamar Franco (1992-1994) e, principalmente, de Lula, foram interpretadas neste início de governo — até por aliados próximos a Bolsonaro — como quebra da “liturgia do cargo”, termo usado por José Sarney (1985-1990) para se referir às regras do cerimonial e do comportamento de um titular da Presidência da República.

    Chinelo e camiseta

    Na semana passada, auxiliares pediram à exaustão que Bolsonaro “reavaliasse” sua postura. Ele foi aconselhado a evitar o uso de chinelo e camisa de futebol em cerimônia oficial – o presidente vestiu uma camisa do Palmeiras no evento de apresentação da reforma da Previdência –, a abandonar de vez o Twitter e a separar questões familiares de assuntos de governo.

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    Para esses auxiliares, Bolsonaro “é um presidente que insiste em não se adaptar à estrutura do palácio” – batizada por políticos e jornalistas, ainda nos anos 1970, como a “máquina de fazer presidentes”. Ao ocupar nos primeiros dias de janeiro o gabinete do terceiro andar do Planalto, Bolsonaro não aceitou, por exemplo, o telefone criptografado entregue pelo GSI. Quando tentou usá-lo, percebeu que o modelo só permitia ligações para quem tinha um outro igual.

    Até agora, ele também reluta em deixar as redes sociais. Há poucas semanas, assinou decreto que passa a movimentação de suas contas no Twitter e no Facebook para uma assessoria especial do palácio. O grupo, como mostrou reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, era formado por indicados de seu filho Carlos Bolsonaro, que, na campanha, foi responsável pela área digital e, agora, exerce influência na Secretaria de Comunicação (Secom), dirigida pelo publicitário Floriano Barbosa de Amorim, homem de confiança da família.

    Telefone

    Interceptações e divulgação de conversas telefônicas causam temor ao governo. As primeiras crises do mandato de Bolsonaro ocorreram após telefonemas particulares virem a público. A equipe do general Augusto Heleno, chefe do GSI, pouco poderia fazer, observaram assessores do Planalto, já que, em um dos episódios, foi Carlos quem divulgou áudio da conversa do pai com o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Depois da exoneração de Bebianno, outros áudios vazaram.

    Nos últimos dias, Bolsonaro indicou que vai usar apenas o telefone criptografado cedido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para conversar com alguns ministros e o entorno palaciano. Mas continuará, vez ou outra, recorrendo ao telefone aberto.

    O esforço de tentar “moldar” o presidente opõe assessores que conhecem a estrutura do Planalto e a família Bolsonaro. O que é considerado defeito para os conhecedores da vida palaciana é “compromisso de campanha” para o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). “Os áudios vazados só comprovaram que @jairbolsonaro é o mesmo em público e na vida particular”, escreveu no Twitter na sexta-feira passada.

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