Em discurso no plenário do Senado nesta terça-feira, o senador Fernando Collor (PTC-AL) reafirmou sua pré-candidatura à presidente da República, cargo que ocupou entre 1990 e 1992, quando sofreu impeachment. O ex-presidente elencou fatos positivos do seu curto governo, mas não mencionou, em pouco mais de vinte minutos, nem seu impedimento nem a denúncia criminal de que é alvo na Operação Lava Jato.
Collor se definiu como alguém com um perfil que reúne “vivência com coragem” e disse que “não podemos mais nos iludir” com radicalismos, buscando se colocar como um nome de centro. “Precisamos de moderação, de equilíbrio, de maturidade, de um caminho que ainda não se abriu e que aponta para um centro democrático progressista e liberal, capaz de promover as mudanças demandadas pelo povo brasileiro”, vaticinou.
Ele elencou um “portfólio de realizações incontestáveis” de seu governo, dando destaque ao processo de abertura econômica. “Quebrei monopólios, privilégios e reservas de mercado. Enfrentei grandes grupos econômicos e poderosos políticos da época. Tirei o país do atraso da revolução industrial de primeira e segunda gerações e o incluí na terceira geração, a da informatização”.
O senador também disse que pavimentou o caminho para que seu vice-presidente, Itamar Franco (falecido em 2011) e o respectivo ministro da Fazenda, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), realizassem o Plano Real. “Consegui índices econômicos favoráveis que permitiram a renegociação da dívida externa e o necessário lastro financeiro”.
Collor fez uma análise do cenário geopolítico mundial, que divide o mundo entre os países que “programam” e os que “são programados”. Ele ainda disse que é preciso “priorizar a excelência do governo para a educação, a abrangência pública pela saúde e a mão pesada do Estado na segurança pública” e atribuiu ao “destino” a sua postulação.
“Diante de tudo isso, o íntimo do meu sentimento público hoje me diz que seria covardia de minha parte renunciar à verdade e desviar de mais um desafio que o destino me impõe. Os temores da história não podem preceder os ardores da modernidade. Reunir a experiência, a coragem, o equilíbrio e a maturidade é uma dívida que não admite mais moratória.”
Impeachment
Em 1992, Pedro Collor, irmão do então presidente, apresentou, em entrevista exclusiva a VEJA, denúncias de corrupção envolvendo o governo e o ex-tesoureiro da campanha, Paulo César Farias. Pedro acusava PC Farias de utilizar empresas de fachada para ocultar o pagamento de despesas pessoais de Fernando Collor com dinheiro ilícito.
Ele foi afastado da Presidência em outubro do mesmo ano, renunciando dois meses depois a fim de tentar evitar ficar inelegível com o impeachment, no que não foi bem-sucedido. Sem relembrar o processo, disse apenas em seu discurso que “sentia profundamente” não terem lhe deixado terminar seu mandato.
Catorze anos depois do impedimento, conseguiu retomar a vida pública em 2006, sendo eleito senador em Alagoas. Depois de passar por outros dois partidos, filiou-se ao PTC, o sucessor do PRN que o elegeu para o Planalto em 1989.
Lava Jato
Collor se tornou réu na Operação Lava Jato sob a acusação de comandar um esquema de desvios na estatal BR Distribuidora. Advogado do senador, Juarez Tavares afirmou que “não há prova efetiva” de envolvimento do alagoano com os fatos de que é acusado.
“Não há uma prova efetiva de que o senador Collor de Mello tivesse recebido dinheiro dessas entidades às quais estaria vinculado, à BR Distribuidora e aos postos de gasolina ou às empresas privadas com as quais firmara contrato. Não há nenhuma prova de que os ingressos na conta do senador adviessem dessas empresas”, alegou o defensor.