Após acertar na semana passada o apoio ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial, os dirigentes do Centrão reivindicam agora uma participação efetiva na coordenação de campanha e na elaboração do futuro programa de governo do tucano. O bloco partidário, formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB, pretende indicar o nome do coordenador de campanha e defende a proposta de que seja alguém com trânsito em todos os partidos.
O Centrão deve anunciar oficialmente na quinta-feira, em Brasília, a aliança com Alckmin. As siglas indicaram o nome do empresário Josué Gomes (PR) como vice na chapa, sugestão que foi acatada pelo presidenciável do PSDB. Havia expectativa da campanha tucana de que a dobradinha com o empresário mineiro – filho do ex-vice-presidente José Alencar, que morreu em 2011 –, fosse anunciada nesta segunda-feira, mas as primeiras conversas não foram conclusivas. Alckmin se reuniu em São Paulo com Josué e o ex-deputado Valdemar Costa Neto, líder informal do PR.
O presidente da indústria têxtil Coteminas disse, conforme relatos, que o ex-governador deveria ficar à vontade se quiser procurar outro nome do bloco para o posto de vice que acrescente eleitoralmente. O teor de parte da conversa foi transmitido por Costa Neto ao líder do PR na Câmara, José Rocha (BA).
Para aliados de Alckmin, a reticência do empresário pode ter explicação na sua relação com o PT. Josué filiou-se ao PR a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso na Lava Jato. Ele era considerado por petistas como o vice ideal do candidato do partido.
A expectativa é de que o empresário só se decida após uma conversa com o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT). Segundo a assessoria de Pimentel, um encontro entre os dois está previsto para esta terça-feira 24 na capital paulista.
“Não sei quem será meu vice, mas a indicação do Josué me honra muito. Se ele for o nome, ótimo. Se não, vamos escolher juntos”, disse Alckmin no programa Roda Viva da TV Cultura.
‘Conselho político’
Para os dirigentes do Centrão, a aliança com Alckmin precisa avançar além da vaga de vice e o comando de sua campanha não pode ser “exclusivamente tucano”. Eles reclamam da condução política da pré-campanha, hoje sob a chefia do ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB). Uma das exigências do DEM nas negociações com Alckmin foi a saída de Perillo do posto. O pedido foi feito pelo senador Ronaldo Caiado (DEM), adversário do ex-governador goiano.
Alckmin vai criar um conselho político com representantes dos dez prováveis partidos que estarão na coligação. “A expectativa é ter um grupo mais amplo para discutir os rumos da campanha e o programa de governo”, disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP).
Os aliados, porém, acham pouco e temem que o colegiado não tenha poder de fato. “É fundamental que haja não somente um conselho político, mas que os partidos da aliança possam discutir de forma conjunta a construção do plano de governo para os próximos quatro anos. Não queremos que nosso apoio seja meramente eleitoral. Não é esse o objetivo. Se essa fosse a intenção, teríamos outras opções. Queremos sentar à mesa para governar juntos”, disse à reportagem o presidente do PRB, Marcos Pereira.
“Um grande nome para coordenar a campanha é alguém que tenha experiência de campanha majoritária, vivência para além de São Paulo, e onde Alckmin seja mais fraco, e que possa maximizar o potencial do candidato. Alguém que tenha trânsito em todos os partidos”, afirmou o deputado e ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM-PE).
O apoio do Centrão ao tucano já vem sendo explorado por adversários na disputa presidencial. “O condomínio do Alckmin é agora o condomínio que era da (presidente cassada) Dilma (Rousseff) em 2014”, disse a presidenciável da Rede, Marina Silva, em evento com filiados da sigla em Piracicaba (SP).
No entorno de Alckmin, a avaliação, porém, é de que esse debate não alcança o “povão” e “vale o desgaste” em função da injeção de tempo de TV. Do tempo de Alckmin no horário eleitoral, cerca de 40% se deve à aliança com o Centrão. O discurso para blindar o tucano está pronto: ele precisa de ampla coalizão para ter força no Congresso e promover reformas.