Em julho de 2021, com as investigações sobre as circunstâncias da morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega arrastadas há um ano e meio, peritos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal exumaram o corpo do ex-capitão do BOPE, assassinado em fevereiro de 2020 no município de Esplanada (BA) em uma suposta troca de tiros com a Polícia Militar da Bahia.
Diante da notoriedade do morto e da sensibilidade que o caso demandava, um perito ouvido sob reserva por VEJA disse que a entrada da PF no caso era uma última tentativa de se esclarecer se Adriano, um exímio atirador que, apesar disso, não havia acertado um único tiro em seus algozes, havia sido executado, como sempre sustentou sua família, ou abatido após receber as forças policiais à bala, tese dos PMs que o alvejaram.
Levado do cemitério do Caju, no Rio de Janeiro, para o INC de Ribeirão Preto, o corpo de Adriano da Nóbrega apresentava diferentes graus de decomposição e rigidez, registraram documentos a que VEJA teve acesso, mas um detalhe específico não passou despercebido pelo grupo de peritos instados a realizar novos exames do chefe do grupo de matadores de aluguel Escritório do Crime. No braço esquerdo, rodeado por áreas em decomposição, a tatuagem de uma caveira encravada por uma faca, símbolo do temido BOPE, estava conservada mais de 18 meses após o assassinato.
A Polícia Federal registrou assim a descoberta: “Após exame de imagens, o saco mortuário foi aberto, tendo sido identificados segmentos que diferiam entre fenômenos conservativos e destrutivos. A pele da face medial do braço esquerdo apresentava-se conservada, sendo possível identificar a tatuagem com imagem central de uma caveira com uma faca encravada de cima para baixo, duas armas de fogo cruzadas por trás da caveira e dois ramos de folhas verdes rodeando a imagem central”.
Nos exames após a exumação, o cérebro e a arcada dentária de Adriano também foram estudados, o corpo submetido a equipamentos de tomografia computadorizada e a testes para detectar traumas, e a ossada, desarticulada e limpa manualmente antes de ser reconstruída em cima de uma mesa de laboratório. Em conjunto, o Ministério Público da Bahia contava que as diferentes avaliações do Departamento de Polícia Técnica da Bahia, do Instituto Médico Legal do Rio e do INC pudessem enfim esclarecer as circunstâncias da morte, o que, como mostra a edição de VEJA que chega neste fim de semana às bancas e plataformas digitais, não aconteceu. O MP pediu o encerramento do caso.
Que segredos Capitão Adriano guardava?
Adriano integrou o Batalhão de Operações Especiais da PM e havia se destacado, entre outros pontos, pela destreza em treinamentos de tiro e de sobrevivência na mata. Acabaria expulso da Polícia Militar fluminense em 2014, quando já pairavam suspeitas de que o ex-aluno exemplar havia se convertido em um pistoleiro a soldo.
Seu grupo de matadores de aluguel chegava a cobrar até 500.000 reais apenas por um estudo de hábitos da vítima a ser abatida, e Adriano passou a trabalhar para uma conhecida família de bicheiros antes de ascender como mandachuva do Escritório do Crime. Homem de muitos segredos, ele também sabia quais contraventores financiavam clandestinamente campanhas políticas de figurões do estado, que autoridades do Judiciário estavam ou gostariam de estar na folha de pagamento do bando e os mandantes de homicídios até hoje não esclarecidos.
Por reunir características de um arquivo vivo capaz de implodir boa parte da República, o ex-capitão do BOPE sempre disse que jamais poderia se entregar. Acreditava que seria abatido sob custódia do Estado porque sua queda sem deixar maiores rastros levaria para o túmulo informações preciosas sobre autoridades corruptas, assassinatos contratados e métodos de atuação dos principais bicheiros do país. Não se entregou – e tampouco estava sem razão.