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Cabral admite compra de votos para escolha do Rio como sede olímpica

Ex-governador do RJ afirma a Marcelo Bretas que US$ 2 milhões em propina destinada a ele foram pagos a dirigente africano: 'fui eu que comprei'

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jul 2019, 18h48 - Publicado em 4 jul 2019, 18h35
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  • O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) admitiu nesta quinta-feira, 4, que houve compra de votos para a escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. Segundo Cabral, 2 milhões de dólares foram pagos a um dirigente da Federação Internacional de Atletismo, que em troca garantiu conseguir até nove votos a favor da capital fluminense no Comitê Olímpico Internacional (COI). De acordo com o emedebista, o dinheiro saiu de uma “conta” de propinas destinadas a ele e administrada pelo empresário Arthur Soares, o Rei Arthur, que já chegou a ter 3 bilhões de reais em contratos com o governo do Rio na gestão Cabral.

    “Fui eu que paguei”, disse o emedebista ao juiz Marcelo Bretas, em depoimento em uma ação penal da Operação Lava Jato no Rio. Preso desde novembro de 2016 e condenado a mais de 200 anos de prisão, ele passou a colaborar com a Justiça nas ações a que responde.

    Segundo o relato do ex-governador do Rio, ele foi procurado pelo ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Carlos Arthur Nuzman em agosto de 2009, a dois meses da escolha da sede olímpica. Nuzman teria lhe dito que o senegalês Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo, era uma pessoa “aberta a vantagens indevidas” e se comprometia a garantir “de cinco a seis votos” na primeira votação da fase final da eleição, montante que poderia “garantir” a chegada do Rio à segunda fase. As adversárias eram Chicago, Tóquio e Madri. “O Nuzman me deixava muito apavorado”, disse Cabral sobre a possibilidade de a cidade não vencer a disputa.

    A propina inicial supostamente pedida por Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack que falava em nome dele, teria sido de 1,5 milhão de dólares. “Falei: ‘Nuzman, qual é a garantia?’. ‘[Nuzman teria respondido] A tradição que ele tem é que ele vende esses votos e por aí ele tem, pode ser o risco de não passarmos para a segunda fase’”, declarou Cabral.

    “Eu disse a ele [Nuzman]: ‘presidente, não vou me meter, não conheço a família olímpica, vou confiar no senhor, vou arrumar um empresário de confiança que tem contas no exterior e ele vai viabilizar esse pagamento a vocês’. Chamei o Arthur Soares na minha casa e expus a necessidade do dinheiro para obter esses votos. [Soares teria dito] ‘Sem nenhum problema, isso entra na nossa configuração de compromissos’. Isso foi debitado do crédito que eu tinha com ele. Fui eu que paguei”, disse.

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    O ex-governador citou os nomes de pelo menos dois membros de um comitê de atletas junto ao COI que teriam recebido propina repassada por Diack para votarem pelo Rio: o ex-saltador ucraniano Serguei Bubka e o ex-nadador russo Alexander Popov, ambos campeões olímpicos.

    O valor teria chegado a 2 milhões de dólares a partir do momento em que Lamine Diack se comprometeu a conseguir entre oito e nove votos. Comunicado da mudança por Nuzman em setembro de 2009, em Paris, onde acabaria participando do jantar conhecido como “farra dos guardanapos”, Cabral voltou a falar com Soares e pediu que ele cobrisse a diferença de 500.000 dólares.

    “Falei ‘bem, pode garantir aí’. O Arthur Soares também estava em Paris, liguei pra ele e falei: ‘olha, o Léo [Leonaro Gryner, ex-diretor-geral de operações do Comitê Rio-2016] tá aqui e ele precisa sentar com você pra rearrumar, o valor aumentou e vocês precisam se reunir e isso precisa ser pago antes do dia 3 de outubro [quando seria a escolha da sede]. Se isso não entrar na conta, avisaram que não garantem’”, disse Cabral. De acordo com ele, o dinheiro foi pago aos Diack em 29 de setembro.

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    Sérgio Cabral disse ao juiz federal que sabiam da compra de votos, além de Nuzman e Gryner, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, o ex-secretário do COB Carlos Roberto Osório e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nuzman e Gryner foram alvos da Operação Unfairplay, deflagrada em outubro de 2017, e são réus no processo ao lado de Cabral.

    Segundo o emedebista, ele próprio contou a Lula sobre o esquema em 3 de outubro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca, em meio ao processo de votação para escolha da sede das Olimpíadas de 2016.

    A revelação ao ex-presidente, segundo o relato de Cabral, se deu em meio a uma crise de choro e pressão alta do ex-governador após o Rio passar pela primeira fase da votação, na qual houve o pagamento de propina. Como Lula não entendia o nervosismo do emedebista e ponderou a ele que ainda havia outra etapa de votação, o ex-governador decidiu explicar. “Falei ‘presidente, deixa eu te contar, meu medo era passar por essa fase, nessa fase eu tive um arranjo político assim, assim e assado’. Também não falei de Arthur, falei por alto, ele fingiu que não ouviu e falou: ‘bom, você me contou um troço que já aconteceu, tá bom, tá ótimo’. ‘Eu não queria falar nada pro senhor, é uma tratativa minha’”, afirmou.

    O ex-governador disse a Bretas que a passagem do Rio de Janeiro pela primeira fase da votação final foi construída com “política com P minúsculo”, isto é, compra de votos, enquanto a segunda fase, que confirmou a vitória, não envolveu pagamento de vantagens indevidas e foi ganha com base na “política com P maiúsculo” feita durante uma campanha ao redor do mundo.

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