Bolsonaro quer que Macron ‘retire o que disse’ para analisar ajuda do G7
Planalto recusou 20 milhões de euros para combater as queimadas na Amazônia
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) condicionou uma eventual análise da ajuda de 20 milhões de euros oferecida pelo G7 para combater as queimadas na Amazônia a um gesto do francês Emmanuel Macron para “retirar os insultos” que o brasileiro reputa a seu colega europeu. “Primeiro ele me chamou de mentiroso. Depois, informações que eu tive, de que a nossa soberania está em aberto na Amazônia. Para conversar ou aceitar qualquer coisa da França, que seja das melhores intenções possíveis, ele vai ter que retirar essas palavras. Daí a gente pode conversar”, disse.
O presidente brasileiro também negou ele tenha rejeitado o dinheiro. “Eu falei? Jair Bolsonaro falou?”, questionou — na noite desta segunda-feira a informação foi confirmada pelo Palácio do Planalto. “Primeiro, ele [Macron] retira [as declarações]. Depois, ele oferece. Daí eu respondo”, reiterou Bolsonaro. Após o anúncio da ajuda, Bolsonaro já havia desdenhado da oferta, atacando o francês e colocando sob suspeita interesses de países ricos na região amazônica.
Na última sexta-feira, Macron afirmou que Bolsonaro mentiu sobre seus compromissos com o meio ambiente e anunciou que, sob essas condições, a França se oporia ao tratado de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul. A relação entre os dois piorou depois que o brasileiro comentou, em tom de deboche, a publicação de um seguidor que comparava a beleza da primeira-dama da França, Brigitte Macron, à de Michelle Bolsonaro. “Não humilha cara. Kkkkkkk”, respondeu o presidente. Macron afirmou que o comportamento foi “triste” e “extremamente desrespeitoso” e disse esperar “muito rapidamente” que os brasileiros “tenham um presidente que esteja à altura do cargo”.
Sobre a declaração, Bolsonaro afirmou que não quer levar para o lado pessoal. “Eu não botei aquela foto. Alguém que botou a foto lá e eu falei para ele [o seguidor] não falar besteira. Não quero levar para esse lado. A questão pessoal e familiar eu não me meto, sempre respeito o cara para não entrar nesta área”, disse o presidente brasileiro, antes de deixar a entrevista, irritado.
O Palácio do Planalto informou na noite desta segunda-feira, 26, que rejeitará ajuda de 20 milhões de dólares, equivalente a 83 milhões de reais, prometidos pelo G7. O Planalto não informou o motivo para recusar os valores. O governo tem dito que não há anormalidade nas queimadas e que países europeus tentam fragilizar a soberania do Brasil sobre a floresta.
Bolsonaro se reúne nesta terça com governadores dos estados da região amazônica para debater medidas contra queimadas na região. A chamada Amazônia Legal é composta por nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Um dos participantes do encontro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu que uma das ações a serem abordadas é a proibição de queimadas na floresta durante período de seca. Segundo o ministro, estão sendo avaliadas questões legais para que um decreto seja elaborado.