Bolsonaro: povo quer respeito à Constituição por parte de todos
Presidente diz que não é o momento de falar se algum dos três poderes saiu vitorioso no 7 de setembro e declarou que sentiu 'o calor da população' nos atos
Depois de uma tumultuada semana de embates políticos, verdadeiras declarações de guerra contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e um telefonema ao algoz da ocasião – o ministro do STF Alexandre de Moraes –, o presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado, 11, em uma solenidade na cidade de Esteio (RS) que não é o momento de se avaliar qual dos três poderes saiu “vitorioso” dos ataques retóricos do 7 de setembro, mas voltou a mandar recados de que “o povo quer respeito à Constituição por parte de todos”. O ex-capitão não mencionou nenhum juiz em particular e disse que “as coisas já começaram a se ajustar”.
“Vivemos momentos ainda um pouco conturbados, mas tenho certeza que as coisas já começaram a se ajustar. Não é hora de dizer se esse ou aquele poder saiu vitorioso. A vitória tem que ser do povo brasileiro. A vitória tem que ser de vocês, porque somente assim nós podemos viver em harmonia e sonharmos com um Brasil realmente bem melhor do que aquele que nós recebemos em janeiro de 2019”, discursou ao participar da feira agropecuária Expointer. “Peço que acreditem: nós estamos fazendo o possível pelo nosso país. Acima de cada um de nós, acima dos três poderes está o destino dessa grande nação”, completou.
O ex-capitão disse que parte dos brasileiros consideraram sua participação nos atos pelo Dia da Independência como um “momento de glória” e afirmou que a população foi às ruas para afirmar que “não aceita retrocessos”. Na verdade, as pautas principais dos atos do feriado giravam em torno de ataques do Supremo em geral e ao ministro Alexandre de Moraes em particular, à defesa de temas como o voto impresso, já rejeitado pelo Congresso, e a loas pelo retorno da ditadura.
“No dia 7 de setembro eu fui apenas um na multidão. Tive oportunidade de usar a palavra por duas vezes e senti o calor da nossa população, senti os reais motivos pelos quais esse povo foi às ruas. Em primeiro lugar foi para realmente dizer que não aceita retrocessos. O povo quer respeito à Constituição por parte de todos e acima de tudo eles sabem que não podem deixar de lado sempre a defesa e a luta pela nossa liberdade, o bem maior que um país pode ter”, disse. Depois dos ataques reiterados ao STF, o presidente divulgou uma nota no final da semana em que afirmou que as críticas a Alexandre de Moraes “decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”.
Em seu discurso, Bolsonaro voltou a atacar governadores e prefeitos por medidas como o fechamento de comércios na pandemia, elogiou produtores agrícolas, público para o qual falava, e disse que a iminente decisão do STF sobre o chamado marco temporal pode decretar “o fim do agronegócio”. O STF julga o processo sobre a disputa pela posse da Terra Indígena Ibirama, em Santa Catarina. A área é habitada pelos povos Xokleng, Kaingang e Guarani. Pela tese defendida por proprietários de terras no julgamento no Supremo, os indígenas somente teriam direito às terras que estavam em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial nesta época. Até o momento, apenas um ministro, Edson Fachin, votou no caso e rejeitou a argumentação apresentada pelos ruralistas.
“O STF volta a discutir uma data diferente daquela definida há pouco tempo e conhecida como marco temporal. Se a proposta do ministro Fachin vingar, será proposta a demarcação de novas áreas indígenas que equivalem a uma região Sudeste. É o fim do agronegócio. Simplesmente isso”, declarou o presidente.