O presidente Jair Bolsonaro se reúne na manhã desta sexta-feira, 22, com outros seis líderes sul-americanos durante sua visita oficial ao Chile. Entre as discussões do dia, está a possível criação de um fórum, o Prosul, uma versão reformulada de um antigo projeto, a Unasul.
Criada em 2008 com sede em Quito, a Unasul propunha a coordenação política, econômica e social da América do Sul entre seus 12 países-membros. A iniciativa é vista com maus olhos por governos sul-americanos recém empossados por ser uma “herança” dos últimos líderes de esquerda da região.
Na época de sua criação, ela foi endossada por líderes como Luiz Inácio Lula da Silva, Michelle Bachelet (a antecessora do atual presidente do Chile, Sebastián Piñera, anfitrião da visita de hoje), os ex-presidentes argentinos Néstor e Cristina Kirchner, o venezuelano Hugo Chávez e o ex-líder equatoriano Rafael Correa.
Atualmente, apenas Bolívia, Guiana, Suriname, Uruguai e Venezuela seguem no grupo. Desde abril de 2018, sete dos seus antigos integrantes suspenderam sua participação ou anunciaram a saída da Unasul por não concordarem com seus moldes. São eles que se reúnem nesta sexta.
Em uma transmissão ao vivo no Facebook, na noite de quinta-feira 21, Bolsonaro afirmou que o objetivo do Prosul é “botar um ponto final” na Unasul, que, segundo ele, serve como “nome fantasia” do Foro de São Paulo. O foro foi um grupo criado na década de 1990 por partidos progressistas da América Latina e já havia sido mencionado pelo líder brasileiro durante seu encontro com o americano Donald Trump, no início da semana.
A criação do novo fórum também ajudaria a isolar ainda mais o ditador chavista Nicolás Maduro, um objetivo comum a todos os líderes que visitam o Chile nesta sexta, apoiadores do presidente autoproclamado Juan Guaidó. Participarão do encontro, além de Bolsonaro, o presidente chileno, Piñera, e os chefes de Estado Mauricio Macri, Mario Abdo Benítez, Martín Vizcarra, Iván Duque e Lenín Moreno.
O argentino Macri, o paraguaio Abdo Benítez e o colombiano Iván Duque já tiveram encontros oficiais com o presidente do Brasil desde sua posse, há três meses, mas será a primeira vez que Bolsonaro conversará com o peruano Vizcarra e com o equatoriano Moreno.
Já o anfitrião do encontro, Sebastían Piñera, usa a visita para estreitar suas relações diretas com o governante brasileiro e ainda o receberá para um controverso almoço bilateral, que causou polêmica ao recomendar que as mulheres convidadas usem “vestidos curtos”.
Boicote
Além disso, setores políticos chilenos condenaram a recepção a Bolsonaro por causa de algumas de suas declarações, consideradas ofensivas e desrespeitosas aos direitos humanos. Entre elas estão os elogios do presidente ao regime do ditador chileno Augusto Pinochet, que deixou mais de 40.000 mortos no país. O ex-chanceler Heraldo Muñoz, ex-embaixador do Chile no Brasil, declinou do convite de Piñera para o almoço em homenagem a Bolsonaro. Muñoz foi acompanhado por uma lista importante de políticos chilenos, que boicotaram o evento e se negaram a sentar à mesma mesa do líder brasileiro, segundo o jornal La Tercera.
O presidente do Senado, Jaime Quintana, afirmou que não participará do almoço “por convicção política” e também por causa de um compromisso já confirmado. O deputado Matías Walker igualmente declinou. A mesma atitude foi tomada pelo socialista Alfonso de Urresti, vice-presidente do Senado, e pelo deputado Vlado Mirosevic, que considera Bolsonaro “um risco para a democracia” e “mau exemplo para o Chile”.
Segundo a agenda divulgada, os compromissos de Jair Bolsonaro nesta sexta começam às 11h20 da manhã, com a cerimônia de boas-vindas aos chefes de Estado e uma fotografia oficial. Às 11h30 começam as sessões de diálogo “para coordenação e colaboração na América do Sul”, que se estenderão até 12h30. Às 13h15 os líderes devem se reunir para as declarações aos jornalistas e seguem para um almoço oferecido pelo presidente do Chile aos chefes de Estado.