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Bolsonarista radicada nos EUA articula para forçar saída de Regina Duarte

Amiga da família presidencial e influente no governo, Geralda Gonçalves, a Geigê, luta para colocar no lugar um nome ligado a Olavo de Carvalho

Por Edoardo Ghirotto e Maria Clara Vieira
Atualizado em 5 Maio 2020, 18h42 - Publicado em 5 Maio 2020, 15h51

O esvaziamento das funções de Regina Duarte na Secretaria da Cultura tem as digitais de Geralda Gonçalves, conhecida como Geigê. Ex-faxineira radicada há mais de duas décadas nos Estados Unidos, ela nunca engoliu o embarque da atriz no governo e articula há tempos um movimento para conseguir demiti-la. Geigê é influente no Ministério do Turismo, pasta à qual a Secretaria da Cultura está subordinada, e construiu uma relação com a família Bolsonaro a ponto de ter um canal de comunicação direto com o presidente.

Na primeira semana de trabalho da atriz, Geigê disparou telefonemas para que pessoas ligadas ao polemista Olavo de Carvalho endossassem uma conspiração contra Regina. Há quem diga que ela já apresentou à família Bolsonaro um nome para suceder a secretária. A indicação de Geigê é ligada ao núcleo olavista e teria como objetivo mobilizar a militância bolsonarista no momento em que o presidente aposta na radicalização do seu discurso.

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Na manhã desta terça, 5, Regina foi surpreendida com a recontratação do maestro Dante Mantovani para presidir a Funarte. Um olavista que teve a entrada no governo avalizada por Geigê, Mantovani foi um dos primeiros demitidos quando a atriz assumiu a secretaria. Regina se tornou alvo de ataques olavistas nas redes sociais assim que tentou expurgar funcionários que estavam na pasta por questões ideológicas.

Geigê também foi a responsável pela indicação do antecessor da atriz na secretaria, o dramaturgo Roberto Alvim. Ele foi demitido do cargo por ter plagiado um discurso do ministro nazista Joseph Goebbels ao anunciar um prêmio voltado para as artes.

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A recontratação de Mantovani mostra que Geigê voltou a ser ouvida no Palácio do Planalto. Também foi decisiva para a readmissão do maestro a articulação de Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois do presidente, e do assessor da Presidência Filipe Martins, considerado o aluno número um de Olavo na administração federal. Mantovani também mantinha conversas frequentes com Luciano Querido, um ex-assessor de Carlos que hoje foi nomeado como diretor-executivo da Funarte.

O plano de Martins e dos filhos de Bolsonaro não se encerra com a recontratação de Mantovani: a ideia é forçar a demissão voluntária de Regina com a redução de seus poderes. Novas nomeações serão feitas sem o aval da secretária, enquanto suas indicações continuarão sendo vetadas pelo presidente.

Bolsonaro criticou Regina na semana passada por ela ter optado por cumprir a quarentena pelo novo coronavírus em São Paulo, onde está localizada a sua casa. A atriz tem 73 anos e está no grupo de risco da doença. Diante da reclamação, a secretária viajou para Brasília nesta semana e espera ter um encontro com o presidente até sexta-feira, 08.

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A decisão de Regina de ter enviado uma mensagem privada de pesar aos familiares do músico Aldir Blanc, morto na segunda, 4, também parece não ter agradado Bolsonaro. Blanc foi um ferrenho opositor da ditadura e escreveu a música “O Bêbado e a Equilibrista”, que se tornou um dos hinos de resistência ao regime na voz da cantora Elis Regina.

No mesmo dia da morte de Blanc, Bolsonaro se encontrou em seu gabinete no Palácio do Planalto com o coronel da reserva do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura. O militar foi um dos responsáveis pela repressão à Guerrilha do Araguaia e admitiu publicamente que o Exército executou 41 militantes fora do campo de combate, quando já não ofereciam riscos aos soldados da ditadura.

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