Uma reportagem da nova edição de VEJA mostra que líderes evangélicos pretendem apoiar uma candidatura competitiva ao Senado pelo Amapá a fim de impedir a reeleição do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que se tornou desafeto desse grupo religioso depois de retardar o quanto pode a sabatina e a votação da indicação do pastor presbiteriano André Mendonça para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Por enquanto, há pelo menos três nomes especulados para concorrer e consumar a desforra contra Alcolumbre.
Cotado para ser o próximo presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) costura apoio ao deputado Jorielson (PL-AP). Pastor da Assembleia de Deus, ex-presidente do sindicato da Polícia Federal no Amapá e ex-vereador por Macapá, Jorielson é suplente e assumiu o o mandato de deputado federal em dezembro passado, quando o titular da vaga, Vinícius Gurgel, seu colega de partido, se licenciou por 121 dias.
“Com a força que temos, queremos preencher a vaga, que hoje não nos representa. Pelo contrário, nos ignora”, diz Jorielson. “Estamos trabalhando o nome de Jorielson para viabilizar a possibilidade da candidatura. Dependemos de uma sinalização do Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e vamos trabalhar com as lideranças locais no Estado. Teremos com certeza um candidato em oposição ao Alcolumbre”, reforça Sóstenes.
O segundo nome cotado entre os evangélicos para disputar o Senado é o do pastor Guaracy. Filiado ao PTB, ele é uma liderança local e diz ter o apoio das maiores igrejas evangélicas do Brasil para concorrer. Guaracy ressalta, no entanto, que a tendência é o grupo lançar apenas um candidato ao Senado, e não pulverizar votos. “Alcolumbre é o maior interessado em várias candidaturas. É a única forma que lhe possibilitaria ganhar.”
A terceira opção aventada é a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, que ainda não definiu se e por onde se candidatará. Ela sinalizou que gostaria de disputar a cadeira por São Paulo, onde há grande quantidade de candidatos competitivos, mas, durante um evento, disse em tom de brincadeira que poderia sair pelo Amapá.
Alvo da fúria dos evangélicos, Alcolumbre foi deputado federal durante três mandatos, de 2003 a 2015, quando assumiu a cadeira no Senado. Em 2019, assumiu a presidência da Casa, ainda em seu primeiro mandato como senador. Em 2020, ele sofreu um importante revés quando não conseguiu eleger o irmão Josiel à prefeitura de Macapá.
O eleitorado do Amapá corresponde a 0,35% dos 147,9 milhões de votantes no país. O grupo que vai às urnas no Estado é jovem e, em boa parte, evangélico. Mais da metade das 517.102 pessoas aptas a votar em 2020 tinha menos de 39 anos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a estimativa é que cerca de 40% dos 887 mil habitantes seja evangélica.
“Do ponto de vista eleitoral, a situação do Alcolumbre se complicou. Além do derretimento que ele já vinha experimentando, 40% da população evangélica é um peso político bastante significativo. A segunda questão é que há outras figuras crescendo e indicam disputar a eleição para o Senado, em especial no campo da direita”, avalia o cientista político Ivan Silva, da Universidade Federal do Amapá.