Os líderes do PSDB fizeram de tudo na convenção nacional deste sábado para convencer a militância e a si mesmos que estão unidos. Mas, poucos minutos antes de louvar a unidade em discursos, a cúpula do partido estava reunida em Brasília em busca de uma solução para uma divergência.
O ex-governador José Serra barganhou até o último minuto por mais espaço dentro da executiva. Queria a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), cargo que já havia sido prometido (e foi entregue) a Tasso Jereissati. Ficou com o comando do recém-criado conselho político. As negociações estavam emperradas por causa da inflexibilidade de Serra: ele queria garantias de que, no conselho, teria influência sobre o processo de escolha de candidatos.
Serra passou a manhã em negociação com Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Sérgio Guerra. A convenção já tinha se iniciado havia quatro horas quando os caciques do partido bateram o martelo. Chegaram, aliás, todos juntos ao local da convenção. “O Serra é um homem de ideias firmes. Convencê-lo não é fácil”, admitiu Guerra, que foi reeleito neste sábado para a presidência do partido.
O ex-governador de São Paulo relutou em admitir o recuo. “Eu nunca pleiteei a presidência do ITV ou quis concorrer com quem quer que seja. Seria ridículo”. De acordo com Serra, seu nome foi sugerido por Geraldo Alckmin. “O ITV foi uma hipótese levantada. A outra hipótese, do conselho, eu achei preferível”, completou. Tasso Jereissati minimizou as consequências do embate: “Houve realmente uma época de disputa, mas agora nós temos um objetivo maior e está tudo harmonizado”.
Imagem – Resolvido o impasse, a cúpula do partido fez o que pôde para passar a imagem de união. Após ser eleito, Guerra garantiu: “O PSDB nunca esteve dividido. Essa afirmação é uma fraude”. Nos discursos dos principais nomes do partido, entretanto, a quantidade de referências à palavra “unidade” era um sinal de que a coesão está longe da ideal.
Os tucanos buscaram atribuir a agentes ocultos as notícias a respeito da desunião do partido. Começou pelo senador Aécio Neves (MG): “Apostaram na nossa divisão. Instigaram rupturas, disseram que PSDB colocaria projetos individuais à frente da nossa responsabilidade com o Brasil. Mas os brasileiros vão acordar amanhã sabendo que, mais do que nunca, o PSDB está unido e pronto para enfrentar os desafios que temos pela frente”.
Serra seguiu o mesmo caminho: “A nossa união enfraquece o adversário. A nossa desunião esteriliza nossas ações. Nossas diferenças são normais, mas elas não podem falar mais alto que a nossa união”, afirmou. Questionado sobre quem seria responsável pelos boatos a respeito da divisão do partido, ele desconversou. O único a admitir que os agentes da discórdia estão dentro do próprio partido foi Sérgio Guerra: “Quem tomar a agenda da divisão deve ser punido, porque é contra o Brasil e contra o povo”, ameaçou. FHCpôs panos quentes: “Nós brigamos muito, antes. Mas estamos aqui unidos”.
Palocci – Além da propalada união, o assunto mais presente nos discursos foi a situação do governo federal. José Serra foi enfático: “Cada vez mais, a ocupante da presidência governa cada vez menos. E aquele que não foi eleito governa cada vez mais”, afirmou. O ex-governador não citou, entretanto, o escândalo envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
Fernando Henrique resumiu a atuação do Executivo: “É fracasso atrás de fracasso. Só falatório”. E criticou a postura submissa do Congresso “Se antes era ‘sim, senhor’, agora é ‘sim, senhora’. Só mudou o gênero, mas continuou a subserviência”. Sérgio Guerra também bateu pesado: “Os petistas não têm competência, experiência e nem liderança para conduzir o país”.