O presidente Jair Bolsonaro comentou com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, o resultado das eleições para as presidências do Senado e da Câmara e disse que apenas torceu pelos seus nomes preferidos. “Os parlamentares, ao meu entender, escolheram bons candidatos. Eu apenas fiquei na torcida”, disse. Apoiados pelo goveno, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e o deputado Arthur Lira (PP-AL) foram eleitos para presidir as duas Casas do legislativo.
Não foi isso o que aconteceu, no entanto. Apesar de, durante a sua campanha eleitoral em 2018, Bolsonaro ter criticado a estratégia do “toma lá, dá cá”, que chamou de “velha política”, ele negociou nos últimos dias emendas e cargos com deputados e senadores para fazer principalmente com que Arthur Lira, líder do Centrão, derrotasse o candidato Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado por seu desafeto, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Entre outras iniciativas, foram realizados cadastros para inscrição de municípios em programas federais que contarão com verbas carimbadas por deputados, totalizando cerca de 650 milhões de reais. No final de 2020, a Câmara também aprovou o PLN 30, que dá um crédito extra de mais de 6 bilhões de reais a oito ministérios para serem repassados aos partidos da base. Quatro ministérios devem ser ocupados por membros do Centrão em uma provável reforma ministerial.
Dias antes da eleição para presidência da Câmara, que ocorreu na segunda-feira, 1°, Maia denunciou a operação para a compra de votos e trocas de emendas. Segundo ele, Bolsonaro liberaria 20 bilhões de reais. O deputado chegou a ligar para o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretária de Governo, que lidera as articulações com o Legislativo, para reclamar das interferências do Executivo no processo.
“A forma com que o governo quer formar maioria não vai dar certo, porque essas promessas não serão cumpridas em hipótese alguma. Não há espaço fiscal”, afirmou Maia. Já Baleia Rossi chegou a dizer durante a disputa que Lira “joga sujo” e que o governo está “coagindo e perseguindo deputados de forma ostensiva, não só com cargos, mas com emendas orçamentárias”.
O próprio presidente admitiu, na semana passada, a intenção de interferir na eleição após uma reunião com deputados do PSL sobre o tema. “Vamos influir na presidência da Câmara”, afirmou Bolsonaro.