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Antes de posse, Bolsonaro fica com familiares e tem apoiadores em vigília

'Bolsonaro, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver', gritavam bolsonaristas em frente à Granja do Torto, residência oficial onde o eleito passou o dia

Por João Pedroso de Campos, de Brasília
Atualizado em 31 dez 2018, 19h51 - Publicado em 31 dez 2018, 19h32
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  • Jair Bolsonaro passou o dia que antecede sua posse como o 38º presidente do Brasil cercado de familiares e aliados na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República em Brasília, deixada à sua disposição durante o período de transição do governo. A mãe do presidente eleito, Olinda, de 91 anos, e Renato, um dos irmãos de Bolsonaro, chegaram hoje ao local, onde a família deve passar a virada do ano. O pesselista não saiu da Granja nesta segunda-feira e se dedicou, segundo seu irmão, à preparação dos discursos que fará amanhã na Câmara dos Deputados e no parlatório do Palácio do Planalto.

    Mesmo com o presidente eleito entocado dentro da casa de campo de 37 hectares, dezenas de seus apoiadores, oriundos de diversos estados do país, concentram-se em frente ao portão branco da residência oficial, que só abre para carros registrados e é guardado por um soldado, armado com uma cartucheira calibre 12.

    “Ô Bolsonaro, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”, gritavam os bolsonaristas, que, no entanto, tiveram de se contentar com as breves passagens de Renato Bolsonaro e do deputado federal eleito Hélio Bolsonaro (PSL-RJ) – que utiliza o sobrenome sem ter parentesco com o futuro presidente – pelo local. Ambos foram tratados como pop stars e receberam inúmeros pedidos de selfies, atendidos pacientemente.

    A indumentária dos entusiastas do presidente eleito em sua vigília pré-posse tem como principal peça as já tradicionais camisetas amarelas – muitas delas estampando o rosto de Bolsonaro, algumas envoltas por bandeiras do Brasil. Há ainda bonés personalizados em homenagem ao presidente eleito, bonecos do pesselista e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, modelo batizado por antipetistas de “Pixuleco”. Faixas criadas em inspiração de Bolsonaro e adesivos com seu nome, que chegam a ocupar toda a lateral de carros estacionados por ali, também fazem parte da paisagem.

    O advogado Meron Luiz Vaurek, de 43 anos, a mulher dele, Iole, de 38, e a filha adolescente do casal, Maria Beatriz, chegaram a Brasília neste domingo, 30, dezessete horas depois de terem partido da cidade de Goiorê, no noroeste do Paraná. Vaurek era um dos que vestia camiseta amarela, enquanto Iole optou por um modelito de cor rosa-choque, com o rosto do presidente eleito e a mensagem #EleSim, resposta dos bolsonaristas à campanha #EleNão, criada por opositores durante a campanha presidencial.

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    Apesar do árduo percurso até a capital, em que, pelas contas de Vaurek, apenas 20% das estradas eram duplicadas, o advogado conta ter aproveitado sua primeira experiência no chamado “turismo cívico” para conhecer o interior de São Paulo e o de Minas Gerais. Mesmo com as limitações de locomoção em Brasília, resultado do inédito esquema de segurança para a posse, ele se diz satisfeito. “Minha filha vai poder contar para seus netos que em 2019 esteve aqui nesse momento histórico”, afirma.

    Embora tenha feito campanha para Bolsonaro em sua cidade, Vaurek diz não ter “político de estimação” e cita o caso de Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que teve transações consideradas suspeitas pelo Coaf. “Que se verifique e que se puna, que pegue todo mundo. Não temos político de estimação, nem fanático por esse ou por aquele, mas sim por uma ideia de patriotismo, de Brasil”. “E de família”, acrescenta Iole, ao que o marido concorda.

    A também advogada Eliana Rabello, de 41 anos, faz parte de um grupo de treze pessoas que voou de Colatina (ES) a Brasília no último sábado, 29. Todos, incluindo duas crianças de 7 anos, ostentavam bonés verde-oliva em que se lê “JB17” em letras brancas bordadas, ao lado de uma mini bandeira do Brasil.

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    As passagens aéreas para Brasília, conta Eliana, foram compradas na internet logo depois da vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial. Uma das “coordenadoras” informais da campanha bolsonarista em Colatina, a advogada capixaba diz orgulhosa que ajudou a organizar grupos de WhatsApp na cidade, além de passeatas e carreatas com até 2.000 carros, conforme relata. Bolsonaro recebeu 72% dos votos dos colatinenses.

    “Falamos, ‘ah, essa posse nós temos que ir’ e compramos logo em seguida. Como já vínhamos, pensamos em chegar dois dias antes para conhecer Brasília”, diz Eliana, que vai madrugar nesta terça-feira para conseguir um bom lugar na Praça dos Três Poderes.

    Enquanto a advogada falava à reportagem, estacionou a poucos metros dali um ônibus que acabara de chegar de Corumbá, cidade próxima à fronteira entre o Mato Grosso do Sul e a Bolívia, após 26 horas na estrada. “Ainda vêm vindo mais dois”, disse um dos 33 ocupantes do coletivo, projetando a cabeça para fora da janela. Depois do desembarque dos corumbaenses, não demorou para que os dois grupos de desconhecidos, capixabas e sul-mato-grossenses, passassem a trocar impressões sobre a posse de Jair Bolsonaro. Ambos levavam faixas.

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    Entre os bolsonaristas de Corumbá estava José Carlos de Oliveira, de 63 anos, autodeclarado “pantaneiro e pescador”, dono de uma empresa de turismo na cidade. Trajando uma camiseta amarela estampada com o rosto de Bolsonaro, ele diz ter sido intervencionista, ou seja, defensor de uma “intervenção militar constitucional”, mas que já não é mais.

    “Eu deixei de ser intervencionista e passei a apoiar Bolsonaro a partir do momento que o general Mourão aceitou o convite para ser vice-presidente. Muitos intervencionistas também saíram, fizeram o mesmo”, disse Oliveira, com uma voz muito semelhante à do ex-presidente Lula, que ele passa a atacar em seguida, citando a notícia falsa de que o petista alegou que a ex-primeira-dama Marisa Letícia ficou rica como revendedora de produtos da marca Avon.

    Sobre o novo governo, o empresário de Corumbá avalia que Bolsonaro “não vai consertar tudo” porque “não tem maioria na Câmara e no Senado”. A advogada Eliana Rabello também entende que “não tem como Bolsonaro fazer um plim plim e tudo mudar”. “Mas ele vai buscar melhorar a segurança, a economia, geração de empregos e o fim da corrupção. Política, econômica e moralmente, não tinha como o PT continuar no governo. Ninguém é perfeito, mas ele tem propostas boas”, afirma.

    Já Maron Vaurek, o advogado de Goiorê (PR), vê com bons olhos a edição de um decreto que facilite a posse de armas, sobretudo no campo. “Eu tenho uma tia que mora na Suíça e um amigo que mora nos Estados Unidos. Minha tia tem um fuzil em casa, meu amigo tem a arma que ele quiser comprar. Nós não somos menos que americanos e suíços, então precisamos acreditar um pouquinho mais em nós, senão sempre seremos terceiro mundo, não teremos o que eles têm”, avalia.

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