No entendimento do Ministério Público Federal (MPF), os documentos que embasam a operação Ad Infinitum, 60ª fase da Operação Lava Jato, corroboram as delações que apontam o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-presidente da estatal paulista Dersa, como “operador financeiro em favor de agentes ligados ao PSDB”.
Em especial, o ex-ministro das Relações Exteriores e ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), atual presidente da Investe SP, agência que integra a gestão do governador João Doria (PSDB). Um extrato anexado ao processo mostra que, em dezembro de 2007, foi emitido um cartão de crédito em nome de Aloysio ligado à conta Groupe Nantes, de propriedade de Souza.
O documento mostra que o cartão tinha previsão de ser entregue entre os dias 24 e 27 de dezembro daquele ano em um hotel onde o ex-senador, então secretário-chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, estava hospedado em Barcelona. O MPF diz que esse foi um registro entre diversos de cartões desse tipo, o que pode indicar um modus operandi de pagamento de propinas a outros políticos.
Um mês antes da emissão do cartão de crédito, a offshore Klienfeld Services, de propriedade da Odebrecht, transferiu 275.776 euros para esta mesma conta. A empreiteira, argumenta a Procuradoria, repassava recursos para contas de Paulo Preto no exterior em troca de valores em reais no Brasil, que utilizava para pagar propina a agentes públicos. Assim, os dois ganhavam: a Odebrecht tinha dinheiro “limpo” e que não passava pelas suas contas e o ex-presidente da Dersa conseguia uma forma fácil de “enviar” seus recursos para fora do país.
Paulo Preto presidiu a Dersa no mesmo período em que Aloysio Nunes era o principal secretário de São Paulo, na gestão do então governador José Serra (PSDB). No ano seguinte, a sua conta recebeu o valor aproximado de 1 milhão de dólares, oriundos de outras offshores controladas pelas empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, de acordo com a Procuradoria.
Na operação desta terça-feira, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em três imóveis no nome do ex-ministro, na incorporadora imobiliária SPE Nunes Ferreira, que tem o tucano como sócio, e na casa de Ana Flávia Pescuma, ex-assessora do gabinete de Aloysio no Senado Federal.
Segundo a coluna Radar, Aloysio Nunes não será a segunda baixa temporária no governo Doria. O atual chefe da Casa Civil, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), está licenciado para cuidar da sua defesa, intenção que Aloysio não tem no momento. A assessoria do Palácio dos Bandeirantes afirma que o ex-senador e o governador João Doria conversarão na tarde desta terça e, só depois, o governo paulista deve ter uma posição oficial sobre o tema.
VEJA entrou em contato com a Investe SP, que indicou um contato de uma assessoria de imprensa para tratar do tema. Procurada, esta assessoria não se manifestou até a publicação desta nota. Em rápida entrevista a alguns veículos presentes na Fundação FHC, onde concedeu uma palestra nesta manhã, Aloysio Nunes Ferreira afirmou não ter recebido o cartão citado e disse que tanto ele quanto seu advogado desconheciam o conteúdo do inquérito.