O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, criticou o quadro fiscal “deplorável” do país, disse que é preciso debater com a população de onde sairá o dinheiro para realizar as ações necessárias para “virar o jogo” da situação em que o país se encontra e prometeu que não haverá quebra de contratos. Aclamado candidato à Presidência da República pelo PDT nesta sexta-feira, 20, o ex-governador cearense afirmou que o país precisa de um novo projeto nacional de desenvolvimento.
“É preciso colocar também em debate uma outra agenda, muitas vezes omitida da consciência e do debate popular, mas que é indispensável, à medida em que nós precisamos responder, com seriedade, de onde virá o dinheiro para fazer o Brasil virar esse jogo”, disse Ciro em discurso. “Essa gente quebrou nosso país a pretexto de austeridade. Nunca o Brasil esteve tão fragilizado nas suas contas públicas”, afirmou.
Mencionando um rombo de 150 bilhões de reais neste ano nas contas públicas — a meta oficial do déficit primário para o governo central é de 159 bilhões de reais —, Ciro reclamou do grande volume de dinheiro usado para pagar os juros da dívida pública. “Somente com juros para a agiotagem oficialmente protegida pelo governo se gastaram, nos últimos 12 meses, 380 bilhões de reais, entregues a meia dúzia de plutocratas do baronato financeiro”, disse.
Ciro criticou ainda a alta dívida do setor público, que chega, segundo último dado disponível, a 77% do Produto Interno Bruto. Mas garantiu que a solução para o alto endividamento público não virá por meio de “aventura” ou “desrespeito” aos contratos. “Aqui, naturalmente, haveremos de ser severos, mas temos que ter clareza, não cabe aventura, nem ruptura, nem desrespeito aos contratos. Isso nunca resolveu problema de nação nenhuma.”
Coordenador da campanha de Ciro, seu irmão Cid Gomes, também ex-governador do Ceará, afirmou que não falaria sobre “possibilidades”, ao ser questionado sobre a adesão do Centrão ao tucano Geraldo Alckmin. Entretanto, minimizou o impacto ao dizer que a estratégia sempre foi buscar alianças “progressistas”.
Cid confirmou que o partido continua esperando uma aliança com o PSB que, segundo ele, seria mais alinhada com o perfil de Ciro. “Daria moldura à candidatura do Ciro, aquela que ele gostaria de ter, de um candidato progressista”, definiu. “Qualquer partido, que seja do arco progressista ou não, que se disponha a apoiar esses princípios será bem-vindo”, completou.
Língua solta
Ciro Gomes chegou à convenção ao som de Asa Branca, do compositor pernambucano Luiz Gonzaga. Ele quebrou o protocolo previsto pela organização e decidiu falar no palco principal à militância do partido, que gritava palavras de ordem: “Brasil pra frente, Ciro presidente”.
“Eu não queria mais participar da política brasileira de tão enojado que estava. É o Carlos Lupi [presidente do PDT] a quem eu devo neste momento a tarefa de levantar a bandeira do trabalhismo”, disse Ciro, citando Leonel Brizola, a principal liderança histórica do partido. Na sequência, voltou a fazer mea culpa em relação ao seu temperamento. “Minha ferramenta de trabalho é a palavra, isso me leva a cometer erros. Não sou imune a erros”, disse.
Lupi também falou à militância dizendo que “aquela não era a apresentação de um garoto-propaganda”, mas de alguém que estava disposto ao debate de ideias. De acordo com ele, a inspiração da campanha será Brizola. Ele também disse que “muitos criticam Ciro por ser duro no discurso”. “Mas como ser mole em um Brasil com tanta corrupção e golpistas?”, questionou.
Cid também defendeu o irmão das principais razões apontadas pelo Centrão para desistir da aliança: suas declarações públicas e divergências em questões econômicas. “Sinceramente acho que o povo brasileiro não tolera mais a falsidade, o discurso da promessa fácil. O Ciro tem tido uma postura franca e sincera e às vezes isso desagrada a alguns. Mas Ciro continua do jeito que é: franco, sincero e apaixonado por resolver os problemas do país”, defendeu.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)