Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Aborto e direito indígena a terras devem esquentar agenda de Rosa no STF

A presidente do Supremo divulga um calendário que sugere maior discrição do tribunal, mas os temas prometem recolocar a Corte no centro de polêmicas

Por Reynaldo Turollo Jr. Atualizado em 4 jun 2024, 10h48 - Publicado em 5 fev 2023, 08h00

Conhecida pelo perfil discreto e pouco afeita a declarações públicas, ao mesmo tempo que sustenta posições firmes em defesa da democracia e da legitimidade do Judiciário para arbitrar os grandes conflitos da sociedade, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, anunciou uma lista de julgamentos para o primeiro semestre que frustrou quem esperava o avanço de uma agenda progressista. A primeira pauta divulgada pela magistrada, que chefia o Supremo desde setembro, não embute nenhum caso capaz de provocar grande comoção. O gesto foi interpretado como uma forma de propiciar alguma distensão no cenário político ao tirar do foco o STF, um dos alvos mais visados na intentona golpista que varreu Brasília em 8 de janeiro. Mas poderá não ser como parece. Com previsão de ficar no cargo até setembro — ela completará 75 anos em 2 de outubro e terá de se aposentar —, a ministra deve pôr em discussão até lá dois temas com potencial para recolocar a Corte no centro de uma polêmica nacional.

Um desses assuntos é uma bola cantada desde que Weber assumiu a presidência. Ela poderia ter repassado o caso a outro ministro, mas manteve sob sua guarda um processo que discute a flexibilização da legislação sobre aborto, um tópico rechaçado pelo público conservador, que fez disso um dos temas da eleição. Weber é relatora de uma ação que pede a descriminalização da interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação. É dado como certo que a ministra — que fez audiências públicas para debater o assunto com especialistas e entidades da sociedade civil — não deixará a Corte sem apresentar o voto que vem preparando. Ainda que o julgamento não termine (algum colega pode pedir vista, por exemplo), Weber, que é a terceira mulher a presidir o STF, quer ter a oportunidade de deixar sua marca na história da discussão desse tema. Em 2016, ao julgar um caso específico, ela votou por descriminalizar a prática até o terceiro mês de gravidez.

Outra potencial polêmica é a demarcação de terras indígenas, que teve a sua temperatura elevada com a crise humanitária vivida pelos ianomâmis em razão da invasão de garimpeiros. Weber se comprometeu com entidades dos povos originários a concluir neste ano o julgamento do chamado marco temporal, o que deve impactar uma série de processos de demarcação. Pela tese, defendida por proprietários rurais e rechaçada pelos indígenas, estes últimos somente teriam direito às terras que já estavam em sua posse na promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. A análise começou em 2021 e foi suspensa por um pedido de vista de Alexandre de Moraes. Já votaram os ministros Edson Fachin (contra o marco) e Nunes Marques (a favor). Para ter uma ideia do potencial do caso, em maio de 2022, o presidente Jair Bolsonaro disse que, se o marco temporal fosse anulado, ele não iria acatar. “Tem uma ação levada avante querendo um novo marco temporal. Se conseguir vitória nisso, me restam duas coisas: entregar as chaves ao Supremo ou falar que não vou cumprir.”

POLÊMICAS - Protesto no Supremo pela rejeição do marco temporal (no alto) e ato em SP contra a interrupção de gravidez: os assuntos serão debatidos em 2023 -
POLÊMICAS - Protesto no Supremo pela rejeição do marco temporal (no alto) e ato em SP contra a interrupção de gravidez: os assuntos serão debatidos em 2023 – (Nelson Jr./SCO/STF; Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)

O esvaziamento político da pauta de Weber não quer dizer, no entanto, que os casos nela colocados não sejam relevantes. Há discussões importantes nas áreas tributária e trabalhista, sobre a correção monetária do FGTS e em relação a procedimentos de investigação criminal, como o acesso de policiais a celulares encontrados em locais de crime sem prévia autorização judicial. Nenhuma delas, no entanto, tem potencial para colocar o STF em choque com a parcela da sociedade que, embalada pela pregação bolsonarista, elegeu o tribunal como inimigo. O mais próximo disso é uma ação que discute a concessão de licença-maternidade para a mãe homoafetiva não gestante cuja companheira tenha feito inseminação artificial.

Continua após a publicidade

A elaboração da pauta do plenário, por onde passam alguns dos assuntos mais relevantes do país, é um dos instrumentos de poder do presidente do STF, que costuma levar em conta aspectos como a conveniência política e o ambiente social. Ao anunciar um calendário ameno neste início de ano, Weber quis evitar que ele fosse interpretado como uma resposta direta ao ataque golpista. A avaliação de que o momento deveria ser de pacificação é compartilhada por outros ministros. Apesar disso, Weber foi enfática ao assegurar que os responsáveis pelo quebra-quebra serão punidos. “Assevero, em nome do Supremo, que, uma vez erguida da Justiça a clava forte sobre a violência cometida (…), os que a conceberam, os que a praticaram, os que a insuflaram e os que a financiaram serão responsabilizados com o rigor da lei”, disse ao abrir o ano judiciário. Sejam quais forem os julgamentos, o importante é que o STF possa realizá-los com independência e sem ameaças. É o que manda a Constituição.

Publicado em VEJA de 8 de fevereiro de 2023, edição nº 2827

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.