Jair Bolsonaro nunca se furtou em utilizar o discurso do confronto como principal arma em sua cruzada por um novo mandato presidencial. Embora tenha partido dele, por exemplo, a ideia de uma auditoria própria das Forças Armadas nas eleições, auxiliares da estrita confiança do presidente sacaram uma nova – e controversa – explicação para justificar a obsessão do mandatário por atacar as urnas eletrônicas. Segundo esses assessores, com quem Bolsonaro troca impressões sobre a veracidade das pesquisas de intenção de votos e percepções sobre como motociatas poderiam alavancar votos, o presidente acredita mesmo que as urnas não são 100% seguras, mas estariam longe de ser fraudáveis com a facilidade com que bolsonaristas alardeiam.
Diante da impossibilidade de provar a tese sobre supostas vulnerabilidades, já que desde que foram utilizadas pela primeira vez, em 1996, não há vestígios de adulteração da vontade do eleitor, o ex-capitão teria decidido espalhar indiscriminadamente dúvidas sobre o sistema eletrônico de votação como uma espécie de antídoto contra falcatruas. Um blefe, portanto, contra adversários que estariam dispostos a tudo para vencê-lo no dia 30 de outubro.
Confira a apuração do resultado do segundo turno das eleições 2022
Na lógica bolsonarista, colocar o processo eleitoral em xeque pressionaria autoridades a reforçar a segurança das eleições, desestimulando eventuais fraudadores de voto. Os questionamentos de militares na Comissão de Transparência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estariam, neste sentido, inseridos na interpretação de que, quanto mais se falar da possibilidade de desvios de votos, mais as autoridades encarregadas de cuidar do pleito se certificarão de que barreiras de segurança impedirão qualquer desatino de candidatos.
Sob reserva, um assessor do presidente disse a VEJA que Bolsonaro joga “holofotes” sobre o tema porque, “gritando tanto o pessoal vai ficar com medo de fraudar as eleições”. No raciocínio, embora sem prova alguma, “pessoal” seriam integrantes da campanha do ex-presidente Lula (PT).
Autoridades do Judiciário, no entanto, estão convencidas de que, embora tenha perdido fôlego para a nova tese de que Bolsonaro foi prejudicado pelo TSE na divulgação de inserções de rádio, manter as urnas eletrônicas sob alguma suspeita funciona como discurso para convertidos em caso de derrota no domingo, ainda que órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo, já tenha comparado cerca de 4,5 milhões de informações colhidas de boletins de urna no primeiro turno e não encontrado nenhuma divergência com os resultados divulgados pelo TSE.