O vice-presidente do PT e prefeito eleito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, admitiu, em entrevista ao programa Os Três Poderes, de VEJA, desta sexta-feira, 11, que o partido teve um resultado “razoavelmente fraco” nas eleições municipais deste ano e tem enfrentado dificuldade com o “povão mais pobre” e com os de “comportamento mais conservador na sociedade brasileira”.
“Para nós, o resultado não foi grandes coisas, foi razoavelmente fraco. Não podemos jogar a poeira pra debaixo do tapete, o resultado não foi um resultado pra um partido que governa o país”, afirmou Quaquá. “De fato, o PT vem se reconstruindo. A partir do impeachment da Dilma [Rousseff, ex-presidente] o partido entrou numa profunda crise, teve uma perseguição brutal que culminou com a prisão do presidente Lula. É um partido em reconstrução”, acrescentou o petista.
“Sobretudo nós perdemos voto nas grandes cidades, nas periferias, muito por conta também de opções que o partido fez em relação a suas temáticas. Isso tem um impacto sobretudo sobre o nosso eleitorado tradicional que era o periférico, pobre e tem migrado inclusive para a extrema direita”, opinou. “O PT tem virado um partido que discute menos as questões econômicas e sociais, menos as questões da luta de classe e discute mais comportamento. Tem virado um partido com temática de classe média e tem dificuldade de entrar no povão mais pobre, das periferias e que tem comportamento mais conservador na sociedade brasileira”, criticou o prefeito eleito.
Quaquá também afirmou que o partido deveria “ter a capacidade de entender que há um remodelamento do mundo do trabalho, um remodelamento da sociedade”, citando especificamente os evangélicos, que, segundo ele “precisam ser respeitados e entendidos” pela esquerda. Para ele, é preciso tratar de “empreendedorismo” e dos “pobres no Brasil que querem construir sua própria economia”. “Nós precisamos readequar a nossa prática à realidade brasileira”, disse.
Questionado sobre a autocrítica ao próprio PT, o político afirmou que se sente com “absoluta legitimidade de fazer crítica, porque fui criado na esquerda e a esquerda sempre foi um espaço de crítica e autocrítica”. “Eu tenho opinião crítica e sempre terei. Ninguém no PT tem autoridade de dizer o que eu falo ou o que eu deixo de falar. Portanto, eu vou continuar fazendo as minhas observações críticas”, salientou, citando o livro que lançou sobre o tema.
“O PT é o partido do povo brasileiro, precisa continuar sendo e deixar de ser um partido de classe média, que só incorpora pautas de classe média. O nosso partido não pode cair na hipocrisia, tem que ser um partido que tenha capacidade de se autocriticar pra fazer as transformações que o Brasil precisa”, completou um dos líderes da sigla.
Por fim, Quaquá também falou sobre as dificuldades do governo Lula, que, apesar de ter conseguido fazer um bom trabalho na economia, com crescimento maior do que o esperado do PIB, controle da inflação e taxa de desemprego baixa, não tem uma boa avaliação com a população e não refletiu esse bom momento do país nas urnas.
“O governo precisa ter um núcleo político. Tirando alguns bons ministros, nós temos um núcleo frágil, um núcleo de governo frágil. Um núcleo que não corre os estados, que não discute com as forças políticas do estado sejam ela de esquerda ou de centro. No Rio nós vivemos isso, uma dificuldade imensa de articulação política”, apontou.
“O governo tem pouco rumo e pouco comando. Um comando que não atua no dia a dia do país. A economia vai bem, o [Fernando] Haddad vem tocando bem a economia. O Haddad e o governo Lula vêm conseguindo aprovar as pautas econômicas. A economia está andando, mas falta articulação política e comando político no governo. Acho que o presidente Lula precisa construir um projeto de desenvolvimento nacional que possa ser um projeto de longo prazo, pra além do governo dele. Precisamos chamar o empresariado brasileiro, o centro político do Brasil, os partidos de centro, pra construir um projeto de 20 anos de crescimento”, finalizou Quaquá.
Outros temas
O programa Os Três Poderes, de VEJA, desta sexta-feira, 11, também abordou o início das disputas de segundo turno das eleições municipais pelo Brasil. Os colunistas Matheus Leitão, Robson Bonin e Ricardo Rangel analisaram as primeiras pesquisas nas principais capitais, os avanços do Centrão, da direita e do conservadorismo. O avanço da Câmara com pautas anti-STF também foi tema. A apresentação do programa foi de Ricardo Ferraz.
PRIMEIRAS PESQUISAS
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) lidera a corrida eleitoral no segundo turno em São Paulo com 52,8% das intenções de voto, contra 39% do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), segundo levantamento divulgado nesta quinta-feira, 11, pelo instituto Paraná Pesquisas. A primeira sondagem após a votação do último domingo mostra que há ainda um contingente de eleitores que não fizeram opção por nenhum dos dois candidatos. Segundo o levantamento, 4,8% dos entrevistados disseram que irão votar em branco. nulo ou nenhum, enquanto 3,4% declararam que não sabem ou não responderam. O instituto ouviu 1.200 eleitores.
O primeiro levantamento do Datafolha sobre o segundo turno em São Paulo mostra uma liderança folgada de Ricardo Nunes (MDB) contra Guilherme Boulos (PSOL). O atual prefeito tem 55% das intenções de voto, enquanto o psolista, 33%. Votos brancos e nulos somam 10% e 2% não souberam responder. Entre os eleitores de Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno, 84% agora declaram voto no emedebista, contra 4% que escolhem o deputado federal. A sondagem indica também que Nunes tem 85% dos eleitores de Jair Bolsonaro, e Boulos, 63% dos de Lula. Em Belo Horizonte, o Datafolha aponta que o prefeito Fuad Noman (PSD) lidera com 48%, contra 41% de Bruno Engler (PL).
O RECADO DAS URNAS
O resultado das eleições municipais frustrou a esquerda e criou novos problemas para Lula. Reportagem de capa de VEJA desta semana mostra que, apesar de o presidente e o PT terem feito um balanço positivo e falado em “vitórias simbólicas”, as urnas mostraram um avanço do Centrão, da direita e do conservadorismo no país. Até 2026, muita coisa pode mudar. O resultado num pleito municipal não tem necessariamente relação direta com o de um geral, mas não há como negar que, por enquanto, os ventos sopram numa direção contrária à sonhada pelo mandatário, que vê sua oposição cada vez com mais musculatura.
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