A boa e velha Petrobras já provoca tensão no governo Lula
Terceiro mandato do presidente reedita debate sobre o papel da companhia, que já foi símbolo da glória e da derrocada de gestões petistas
A Petrobras tem papel de destaque nos governos petistas. No segundo mandato de Lula, o presidente festejou a descoberta das reservas de petróleo do pré-sal, comparando-as a um bilhete premiado de loteria, que permitiria ao país acelerar seu passo rumo ao desenvolvimento. Já na gestão de Dilma Rousseff, a Operação Lava-Jato descobriu que os contratos da empresa eram superfaturados por um esquema monumental de corrupção, o petrolão, que contribuiu tanto para o impeachment de Dilma e como para a prisão de Lula.
Parte do protagonismo da Petrobras decorre de seu peso inegável na economia. Lançado em agosto, o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê 323 bilhões de reais em investimentos da companhia. Como no passado, as cifras são astronômicas, provocam preocupação sobre quanto o governo interferirá no plano de investimentos e nas decisões da empresa e já geram embates entre auxiliares poderosos de Lula.
Nos últimos dias, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, dedicou-se a pressionar o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Em público, o motivo do embate é o preço dos combustíveis. Com base numa queda circunstancial da cotação do dólar e do barril de petróleo, Rui Costa cobra a redução do valor da gasolina, que poderia ter impacto positivo na inflação. Prates resiste por entender que a Petrobras não deve repassar ao consumidor brasileiro toda e qualquer volatilidade do mercado externo, seja para encarecer ou baratear o preço. “Não faz sentido atuar por impulso ou açodamento”, declarou.
O peso dos combustíveis na inflação e no humor do eleitorado é inegável, mas o pano de fundo é outro. Em diferentes reuniões nas últimas semanas, inclusive com a participação de Lula, Costa reclamou do plano de investimento da Petrobras. De forma resumida, ele quer mais dinheiro desembolsado em um intervalo de tempo menor. Como Dilma, o ministro acredita piamente que a empresa tem de cumprir um papel de indutora do crescimento, o que em gestões anteriores do PT resultou em obras gigantescas, mas também serviu de terreno fértil para o petrolão.
Em meio à disputa, o site de O Globo divulgou que Rui Costa indicaria a Lula o nome de um subalterno de sua confiança para substituir Prates. O ministro não negou a informação e, depois que ela circulou, disse a um representante de uma empresa privada, numa conversa reservada, que não haveria troca no comando da companhia. O recado a Jean Paul Prates, no entanto, já estava dado. A tentação do uso político da Petrobras não acaba.