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Rodrigo Maia: “Posso ajudar o Lula”

O ex-presidente da Câmara flerta com o PT e defende a ideia de que os partidos de centro rompam definitivamente com o governo Bolsonaro

Oferecimento de Atualizado em 4 jun 2024, 13h29 - Publicado em 2 jul 2021, 06h00
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  • Derrotado na tentativa de eleger seu sucessor para a presidência da Câmara dos Deputados e, de quebra, expulso do partido ao qual foi filiado por vinte anos, o DEM (que preferiu votar no candidato do governo, Arthur Lira), o deputado Rodrigo Maia, 51 anos, explica que deu um passo atrás nas suas pretensões políticas, com a intenção de avançar várias casas no futuro. Atrelado a dois objetivos — escolher uma sigla para se abrigar e perder os quilos que acumulou no comando da Câmara (chegou a 117, desfez-se de 5 e tem mais 20 a derreter) —, Maia se reposiciona no jogo político, ciente de que o desgaste da saída do DEM inviabilizou sua aspiração de ser o candidato do “centro liberal” à Presidência no ano que vem. Nesta entrevista a VEJA, que concedeu no apartamento do pai, Cesar Maia, no Rio de Janeiro, o deputado defende a ideia de que os partidos de centro rompam definitivamente com o governo Bolsonaro e flerta com o apoio a Lula em 2022.

    O senhor esteve recentemente com o ex-presidente Lula. Alguma chance de apoiá-lo em 2022? Posso ajudar, sim. Foi um bom encontro, com a presença do prefeito do Rio, o Eduardo Paes. Disse ao Lula que tenho grande interesse em conversar com ele sobre o Brasil. Acumulei experiência e conto com pessoas no meu entorno que também podem cooperar. Eu me aproximei da esquerda já durante o segundo mandato de Dilma Rousseff, para dar força à pauta econômica. Depois da queda do Eduardo Cunha, o PT me apoiou para conquistar a presidência da Câmara.

    Então há chances de o senhor ir de Lula nas próximas eleições? Algumas pessoas que foram ao almoço disseram que Lula gostou do papo, mas não acho que isso vá se desdobrar em uma aliança. Agora, esse tipo de aproximação é um aceno necessário nos tempos atuais: todos no campo democrático devem conversar. O Lula está praticamente no segundo turno, é favorito em 2022 e nós, do centro liberal, não podemos ficar de fora, precisamos tratar do futuro do país. As instituições provaram resiliência contra o autoritarismo do governo Bolsonaro, mas podem vir a se enfraquecer na hipótese de um segundo mandato.

    Se o PT chamá-lo para aprofundar a conversa, o senhor vai? Claro que eu vou. Acho que consigo coordenar um grupo de pessoas qualificadas. Pode ser no PSD, no PSDB ou até contribuindo com o pessoal do PT.

    Nos bastidores, comenta-se que Eduardo Paes tende a fechar com Lula, mesmo havendo um candidato de centro. Procede? O Eduardo tem uma relação muito próxima com o ex-­presidente. O elo dos dois é tão forte que a probabilidade de apoio dele ao Lula ainda no primeiro turno não é pequena, caso o PSD, seu partido, não lance candidatura própria.

    “Não haverá candidatura de centro em 2022 se os deputados continuarem a priorizar sua reeleição e a embarcar no bolsonarismo em troca de cargos e verbas”

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    Como o centro vai conseguir ganhar espaço em um cenário tão polarizado entre Lula e Bolsonaro? Primeiro, combatendo a tese de que é preciso oferecer uma candidatura alternativa às de Lula e Bolsonaro. Pesquisas recentes mostram que Lula tem lugar garantido. Já Bolsonaro, gira em torno de 23% das intenções de voto porque não surgiu ninguém com mais de 10%. O candidato para derrotar o petismo deve ser um nome capaz de tirar votos do presidente. E eles se concentram na extrema direita, em uma parte do segmento evangélico e no eleitor de classe média ressentido com a falta de perspectiva. A verdade é que Bolsonaro encolheu.

    Qual seria esse nome ao centro capaz de subtrair votos do presidente? Em um cenário em que Doria tem 5%, Mandetta, 3%, e Eduardo Leite, 2%, não se vê favorito. Precisamos reconstruir um partido ou um bloco que represente o centro liberal, espaço que estava vazio e foi ocupado por Bolsonaro em 2018. Seu DNA estatizante e reacionário, porém, não condiz com esse posicionamento. O que precisamos é juntar lideranças, inclusive jovens parlamentares, em torno de um projeto único. Caso lance três ou quatro candidatos, nosso campo corre sério risco de ficar fora do páreo. Foi o que aconteceu recentemente nas eleições do Peru, com o centro dividindo o eleitorado e morrendo na praia.

    O senhor prega união, mas não há nesse espectro muito cacique para pouco voto? Todo mundo acha que a construção de uma candidatura deve favorecer a si próprio. Vaidade sempre será um problema. Antes de tudo, precisamos reconhecer que é impossível chegar ao segundo turno sem São Paulo — não dá para excluir o governador João Doria do processo. Se daqui a seis meses Doria tiver recuperado a popularidade, é ele o candidato. Mas, dentro desse campo, outros devem participar, como Tasso Jereissati, Eduardo Leite, Rodrigo Pacheco e Luiz Henrique Mandetta.

    O senhor incluiria Ciro Gomes nesse balaio? A grande aliança para derrotar Lula e Bolsonaro passa, a meu ver, por um acordo entre PSDB e PDT. Só que, para isso, o Ciro precisa abrir mão de muita coisa que andou dizendo por aí, e também nós teremos de ceder para chegar a um ponto de equilíbrio. O discurso do centro está bonito, a carta conjunta assinada pelos pré-candidatos foi um passo importante, mas nada disso gerou certeza de união. Um fator que certamente atrapalha é a turma que se diz independente e insiste em apoiar o governo.

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    Em que medida isso é um freio de mão ao projeto de uma nova via? Esse é o grande gargalo. Não haverá candidatura de centro em 2022 se os deputados continuarem a priorizar sua reeleição e a embarcar no bolsonarismo em troca de cargos e liberação de verbas — ou mesmo em nome de uma agenda liberal, que não existe.

    A saída de Luciano Huck da corrida foi um baque? Estive na casa dele há um mês, com o Paulo Hartung (ex-governador do Espírito Santo) e o Mandetta. Ali já estava claro que não seria candidato. Luciano tinha potencial para crescer no Nordeste e no voto popular, mas Lula ocupou esse lugar. E ainda havia à mesa a saída do Faustão da Globo, que abriu a janela profissional que ele sempre buscou. Seria um bom nome, mas é a segunda vez que deixa a gente na mão. Sabe o que está nos faltando? Alguém que faça o papel de aglutinador.

    E quem seria? O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o nome ideal, do tipo “pode confiar”, mas infelizmente não dá sinais de que vá participar do processo na medida em que gostaríamos.

    Se o palanque ficar polarizado, uma banda do centro vai de Bolsonaro. E o senhor? Conheço a experiência dos governos do PT e do Bolsonaro, com seus defeitos e acertos. Não tenho dúvidas de que estamos vivendo um chavismo de direita. Piora o quadro ter no tabuleiro um filho como o Flávio (Bolsonaro), que nomeia gente para todas as instâncias de poder, até para o Supremo. Isso eu não posso aceitar.

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    Como avalia a CPI da Pandemia? É um tiro no coração do Bolsonaro. O escândalo das vacinas desmonta o discurso de que não há corrupção no governo. Mas é bom lembrar que um impeachment é movido por muitas variáveis, sendo a política a principal delas. E a relação do governo com sua base é boa. Pode ter certeza de que o Centrão não vai debandar só porque a avaliação do Bolsonaro anda baixa.

    Foi por não enxergar um ambiente político favorável que o senhor não pautou nenhum dos pedidos de impeachment contra Bolsonaro quando presidia a Câmara? Exato. Não tinha voto para ganhar e cairia no primeiro recurso. Se do ponto de vista político não há espaço para o encaminhamento de um pedido desses, não tem por que avaliar seu mérito. Na verdade, o poder do presidente da Câmara em relação a um impeachment é tão ilimitado que isso acaba dificultando as coisas. Qualquer conversa nessa direção soa como vingança pessoal. Cunha abriu o processo contra Dilma apenas porque três deputados do PT votaram contra ele no Conselho de Ética.

    A expulsão do DEM deixou mágoas? Foi uma violência, uma decisão que mostra claramente quão autoritária é a origem do ACM Neto, o presidente do partido. Ele está muito mais próximo do Bolsonaro do que eu considero razoável. Não dá para entender: como mantém na sigla um senador que foi pego com dinheiro na cueca (Chico Rodrigues-RR) e pune alguém como eu, só por criticá-lo, “o pequeno Torquemada”? Já tinha pedido a minha desfiliação e ele poderia ter me suspendido das atribuições partidárias, mas fez questão de me expulsar.

    “Estamos vivendo um chavismo de direita. Piora o quadro ter no tabuleiro um filho como o Flávio (Bolsonaro), que nomeia gente para todas as instâncias de poder, até para o Supremo”

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    ACM Neto afirma que não o traiu na eleição para presidência da Câmara, mas que o senhor insistia na candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) quando a bancada queria apoiar o Arthur Lira (PP-AL). É mentira. Ele mandava os deputados assinar a lista do Lira para dizer que não tínhamos maioria e assim liberar a votação da bancada. Mas não é tão esperto quanto imagina. Os deputados depois vêm contar tudo. Essa suposta esperteza é do tamanho da altura dele: 1,30 metro. Por inveja, implodiu um movimento que poderia impulsionar um projeto nacional nas próximas eleições. Fiquei vinte anos construindo algo que foi destruído em duas semanas.

    O senhor vai mesmo para o PSD, como foi ventilado? Ainda não bati o martelo, vou dar um tempinho para avaliar, mas é o mais provável. Meu grupo político, que inclui o Eduardo Paes, foi para lá.

    Na eleição para o governo do Rio, é realista pensar em um nome que lidere uma frente anti-Bolsonaro? Não será nada fácil. A disputa para esse posto está entre o preferido de Eduardo Paes, o presidente da OAB Felipe Santa Cruz, e o Marcelo Freixo (PSB), que faz hoje suas costuras. O Lula acena para ambos. Quando isso acontece, ele quer dizer: “Unam-se”.

    Depois de ser um dos homens mais importantes da República, como se sente longe do poder? Venho de uma família de políticos e já vi a roda-­gigante em cima e embaixo. É da vida. Tenho de me reorganizar, mas estou tranquilo. O que tive a chance de aprender na presidência da Câmara me dá muitos ativos para seguir firme no jogo do poder.

    Publicado em VEJA de 7 de julho de 2021, edição nº 2745

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