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Luiz Felipe D’Avila: Candidaturas de Lula e Bolsonaro são ‘duas tragédias’

Postulante à Presidência pelo Novo diz que ambos representam era de atraso para o país e que o Brasil ficará pior com a vitória de qualquer um deles

Oferecimento de Atualizado em 4 jun 2024, 11h21 - Publicado em 29 jul 2022, 06h00
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  • Pré-candidato a presidente da República pelo Novo e com a quase impossível missão de furar a bolha da polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o cientista político e empresário Luiz Felipe D’Avila, de 58 anos, repete o previsível discurso de quem vem muito atrás nas pesquisas, dizendo acreditar em uma virada. Obviamente, fora o candidato, poucos acreditam nisso a menos de três meses do pleito. Oscilando na faixa entre zero e 2% das intenções de voto nas pesquisas, ele tem como base de seu discurso de campanha o alerta ao eleitorado sobre as agruras sociais, políticas, ambientais e econômicas promovidas pelos governos do PT (e do MDB) e pelo atual. Um dos possíveis integrantes da caravana da terceira via, o candidato atribui o fracasso do movimento às pretensões fisiológicas e personalistas de poder, que impediram a união dos candidatos em torno de um projeto para o Brasil. Em um escritório de coworking transformado parcialmente em comitê no Jardim Europa, área nobre de São Paulo, D’Avila, que chega e sai do local de bicicleta, recebeu a reportagem de VEJA para falar sobre os problemas do país, a difícil situação vivida pelo centro democrático, o risco de naufrágio da pauta liberal que o Novo defende e o desafio de manter o partido relevante depois de surpreender em 2018, quando o presidenciável João Amoêdo chegou em quinto lugar na estreia da sigla em uma disputa presidencial.

    Diante de tanta dificuldade de romper a polarização entre Lula e Bolsonaro, dá para acreditar na viabilidade de sua candidatura, levando-se em conta que nomes mais conhecidos naufragaram nessa tentativa? Claro que sim. O cenário é igual ao do governador do meu partido, Romeu Zema, em 2018. Ele tinha 1 ponto em julho e 2 em agosto, era o último colocado em Minas e venceu a eleição. Eu sempre pergunto às pessoas se a vida delas melhorou ou piorou nos últimos dez anos. A resposta quase unânime é que piorou. A realidade está muito difícil e o passado é uma tragédia. Os quatro governos petistas entregaram ao Brasil a maior recessão da história, com 13 milhões de desempregados e um pior resultado fiscal nas contas públicas. Depois, veio o governo Bolsonaro, com toda a crise mundial e a pandemia, e sua incapacidade de implementar as mudanças liberais que tinha prometido. O brasileiro não é masoquista e não votará em duas tragédias.

    Pelo andar das pesquisas, parece que votará nas duas, sim. As pessoas ainda não estão preocupadas com o voto. Elas estão preocupadas em sobreviver economicamente, em pagar boleto. Por outro lado, reconheço que a política está muito distante da realidade das pessoas. Ela se tornou algo de gabinete, fechado em partidos, sem conversar com as pessoas. Isso é fruto do radicalismo e da polarização. A política tornou-se um assunto tóxico.

    Por que a terceira via para a eleição presidencial não engrenou? Porque nunca teve união em torno de um projeto de país. O que sobra é fisiologismo político e conversa dos caciques partidários. Os partidos não se preocupam com eleições majoritárias por causa do Fundo Eleitoral. Rifam essas candidaturas em detrimento das eleições para deputado. O fundo deturpou a política.

    “A terceira via tornou-se uma cadeira elétrica. Quem se sentou ali foi fritado. Todos que passaram por lá: Sergio Moro, Eduardo Leite, Mandetta, João Doria, Rodrigo Pacheco”

    O senhor sonhou em ser o nome da terceira via? Esse tipo de política não interessa ao Novo. A visão imediatista, eleitoreira, sem pensar no país, fez com que a terceira via inexistisse. Falar que não é Lula nem Bolsonaro é muito pouco. A terceira via tornou-se uma cadeira elétrica. Quem se sento ali foi fritado. Todos que passaram por lá: Sergio Moro, Eduardo Leite, Mandetta, João Doria, Rodrigo Pacheco

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    Simone Tebet será a próxima? Não sei. Mas, se seguir em frente, será uma candidatura muito fragilizada pela história do MDB.

    Entre Lula e Bolsonaro, em um segundo turno, para quem vai seu voto? Eu anularei, como o fiz em 2018. Estou na campanha para combater o populismo e resgatar a democracia, que hoje está em risco. Não vou compactuar com um desses populistas que colocará a democracia em xeque, que colocará a economia em xeque. Eu não quero ter meu nome vinculado a duas candidaturas desastrosas.

    Como o senhor viu as falas de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas diante de embaixadores? Uma lástima. Foi o maior constrangimento na política externa que eu já vi na história do Brasil. Convocar embaixadores para deslegitimar o sistema eleitoral foi uma vergonha. O Brasil hoje é um pária internacional. No último encontro que o Bolsonaro participou no G20, nenhum chefe de Estado quis conversar com ele. Só sobraram os garçons para ele conversar. O mecanismo eleitoral eletrônico funciona há 25 anos, com eleições periódicas, limpas, transparentes e reconhecidas internacionalmente como um modelo.

    O que Bolsonaro fará em caso de derrota? Teme algo parecido com o ocorrido nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio? Acredito que a tensão está subindo a um nível preocupante. Mesmo que não haja invasão no Congresso ou no Supremo, o grande problema é o não reconhecimento da vitória do vencedor. Em uma democracia, o telefonema mais importante é o do perdedor para o vencedor, para dar-lhe boa sorte e dizer que a partir daquele momento somos todos brasileiros. Isso não vai acontecer em caso de vitória de um deles.

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    Não há nada de positivo no governo Bolsonaro? Apesar de ter sido um governo trágico do ponto de vista institucional para a democracia, Bolsonaro aprovou projetos importantes, como o marco legal do saneamento básico, a independência do Banco Central, o marco das startups, a nova lei do gás. O Brasil avançou em temas importantes, apesar do governo.

    Bolsonaro terá ganho eleitoral com o aumento dos benefícios sociais às vésperas da eleição? Não sei qual impacto vai ter. No fundo, como o Lula diz, “pega o dinheiro do Bolsonaro e vota em mim”. Política tem a ver com emoção, com coração. E, nesse sentido, o Lula consegue atrair mais gente do que o Bolsonaro. Não é só dinheiro, é questão de empatia, de esperança. E essa é a primeira campanha que vejo desde a democratização em que a palavra esperança não existe. O que existe é votar em um mal menor.

    Pouco se fala na pré-campanha das crises social, econômica e ambiental. Por que o debate está tão raso? Porque a política não conversa com as pessoas. Se conversasse, os políticos perceberiam que esses são os assuntos que interessam para a população. Esse debate o Novo sempre promoveu.

    Pelo visto, tanto Lula quanto Bolsonaro não deverão seguir o teto de gastos. Qual a consequência disso? Será um risco tremendo, que trará consequências diretas para o bolso da população. Veja a situação em que a Argentina se encontra. O Brasil, se não tiver juízo fiscal e houver um risco de calote, vai virar uma Argentina.

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    Bolsonaro prometeu mais de cinquenta privatizações, mas entregou poucas, como a da Eletrobras. Por que é tão difícil desestatizar no Brasil? Porque o Bolsonaro não acredita nas privatizações. Nós vamos privatizar tudo: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Petrobras, Correios, absolutamente tudo. Nós acreditamos que privatização é aumento da concorrência. E, quanto mais promovemos a concorrência, melhor a qualidade do produto e menor o preço. Assim é no mercado do mundo todo.

    Uma eventual vitória de Lula enterraria de vez a pauta liberal no país? Não enterra, pois continuaremos lutando por essa pauta. Mas é evidente que o Lula, se for eleito, não vai aprovar nenhuma medida liberal. Isso significa que o Brasil vai continuar sendo um país pobre, desigual, com baixo desenvolvimento econômico. Com a pauta do Lula, não vamos recuperar nunca a capacidade de retomada do crescimento econômico, nunca vamos retomar a produtividade e a competitividade nacional. Vai continuar sendo o mesmo Lula de sempre: mais favor para os amigos e criação de campeões nacionais, que são um desastre.

    Quando estava no PSDB, o senhor coordenou a campanha de Geraldo Alckmin à Presidência em 2018. Como vê a mudança de lado dele? Vejo com tristeza. Ele tem grande história na política e acabou emprestando sua reputação ao Lula e ao PT, que sempre foram contrários às reformas.

    “É evidente que, se for eleito, Lula não vai aprovar nenhuma reforma liberal. O Brasil continuará sendo um país pobre, desigual e com baixo desenvolvimento econômico ”

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    Outra dificuldade que sua candidatura enfrenta é a desunião interna do Novo. Uma prova disso é a pouca visibilidade que a maioria dos deputados federais do Novo dá ao senhor nas redes sociais. O que era difícil fica mais complicado com a legenda rachada? O partido está completamente unido em torno do meu nome e eu, comprometido com as campanhas deles e de todos os outros pré-candidatos. Nas nossas convenções vemos que o apoio é total ao meu nome.

    Apesar de Zema dizer que o candidato a presidente dele é o senhor, ele não se descolou de vez de Jair Bolsonaro. Ele vai colocar o pé nas duas canoas agora e apoiar Bolsonaro no segundo turno? Eu não acho que ele fará isso. Todos os sinais e todas as declarações são no sentido de me apoiar, que ele está fechado com o Novo. Quem está se aproximando do Zema é o Bolsonaro, não o contrário. O presidente sabe que ele está fazendo uma gestão extraordinária em Minas.

    A aliança de Zema com o PP foi alvo de crítica interna no partido. O ex-pre­sidenciável do partido, João Amoê­do, por exemplo, disse que o acordo é um marco no processo de destruição do Novo. É a primeira reeleição do Novo e precisamos de alianças para garantir a governabilidade, ou seja, a maioria na Assembleia Legislativa. Se o Zema tivesse a maioria desde o início, teria mais facilidade para aprovar as reformas importantes. Até hoje a Assembleia não aprovou a renegociação da dívida com o governo federal por uma questão simplesmente eleitoral.

    Após a boa impressão deixada pelo Novo em 2018, a eleição seguinte foi ruim para o partido, que só ganhou uma prefeitura. A sigla encolheu? Os princípios e valores continuam firmes. Elegemos o governante da maior cidade de Santa Catarina, que é Joinville. Hoje o prefeito Adriano Silva tem 88% de popularidade e é mais uma vitrine importante para o Novo, além do Zema. O partido diminui, volta a crescer, isso é normal. O importante é que, quando chega ao poder, faz a diferença. A gente mostra o que é a política do Novo na prática, na gestão do orçamento, na atração de investimento.

    Publicado em VEJA de 3 de agosto de 2022, edição nº 2800

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