Foi um tiro na cabeça que matou Kadafi, afirma legista
Coronel estava ferido, mas vivo, quando foi capturado pelas forças rebeldes
O legista que examinou o cadáver de Muamar Kadafi assegurou nesta sexta-feira que a causa da morte do ex-ditador líbio foi um tiro na cabeça. “Kadafi estava ligeiramente ferido, mas vivo. Depois, recebeu uma bala na têmpora que saiu pela testa, e outra no estômago, que causou grandes danos”, explicou o médico Ibrahim Tika à rede de televisão Al Arabiya.
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Entenda o caso
- • A revolta teve início no dia 15 de fevereiro, quando 2.000 pessoas organizaram um protesto em Bengasi, cidade que viria a se tornar reduto da oposição.
- • No dia 27 de março, a Otan passa a controlar as operações no país, servindo de apoio às tropas insurgentes no confronto com as forças de segurança do ditador, que está no poder há 42 anos.
- • Após conquistar outras cidades estratégicas, de leste a oeste do país, os rebeldes conseguem tomar Trípoli, em 21 de agosto, e, dois dias depois, festejam a invasão ao quartel-general de Kadafi.
- • A caçada pelo coronel terminou em 20 de outubro, quando ele foi morto pelos rebeldes em sua cidade-natal, Sirte.
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Na quinta-feira, integrantes do Conselho Nacional de Transição (CNT) afirmaram que Kadafi foi detido vivo e que morreu quando era transportado para a cidade de Misrata. As circunstâncias da morte do ex-tirano não estão esclarecidas. Por isso, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu uma investigação. “A respeito da morte de Kadafi ontem (quinta-feira), as circunstâncias ainda não são claras. Nós consideramos que é necessária uma investigação sobre as questões sombrias relacionadas à morte”, declarou o porta-voz do Alto Comissariado, Rupert Colville, em referência aos vídeos que foram divulgados pelos meios de comunicação.
Imagens (confira vídeo abaixo – aviso: cenas fortes) mostram Kadafi ferido, mas vivo, sendo levado para um veículo pela multidão excitada. Ele desaparece em seguida, ao som de tiros. De acordo com fontes, o ex-tirano tentava fugir de Sirte a bordo de um comboio de veículos que foi alvo de um ataque da Otan – que admitiu não saber da presença do coronel lá. Mohamed Leith, um comandante de Misrata, afirmou que o ditador não resistiu aos ferimentos que sofreu durante sua prisão.
“Kadafi estava em um Jeep, os rebeldes abriram fogo contra o veículo. Ele saiu e tentou fugir. Então, se escondeu em um esgoto. Os rebeldes abriram fogo novamente e ele saiu carregando uma kalachnikov em uma mão e uma pistola na outra”, contou. “Ele olhou à direita e à esquerda, perguntando ‘o que está acontecendo’. Os rebeldes abriram fogo mais uma vez, feriram seu ombro e sua perna, e ele morreu em seguida”.
Mas as informações são divergentes até entre os integrantes do CNT. O chefe Executivo do Conselho, Mahmoud Jibril, por exemplo, já havia declarado que Kadafi foi morto com um tiro na cabeça, após “uma troca de tiros entre aliados e revolucionários e “continuou vivo até chegar ao hospital” de Misrata. “Eu desminto a informação de que demos a ordem para matar Kadafi”, acrescentou.
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Filho – O legista, que espera autorização do CNT para realizar a autópsia do corpo do coronel, referiu-se também a Mutassim, filho de Kadafi, que morreu pouco depois do pai. Segundo o médico, seu corpo apresentava marcas de bala a alguns centímetros do pescoço, nas costas e nos braços. Tika afirmou que o ferimento no pescoço parece ser de um projétil de arma pesada. Imagens divulgadas nesta sexta-feira pela Al Arabiya mostram Mutassim ferido, mas ainda vivo. Deitado numa manta, no que parece ser um quarto, o filho de Kadafi movimenta a cabeça e não se vê nenhum ferimento em seu pescoço.
Enterro – Oficialmente, o CNT diz que ainda não decidiu o que fazer com o corpo de Kadafi. Mas, segundo a rede de TV Al Jazira, o ex-ditador deve ser sepultado ainda nesta sexta-feira, em um local secreto e seguindo os rituais muçulmanos. Enquanto isso, os líbios esperam o anúncio oficial de “libertação” da Líbia, que deve ser feito até sábado.
“Kadafi será enterrado hoje mesmo (sexta), e não amanhã (sábado). Ele não merece um funeral oficial porque era um tirano”, declarou Mohammed Essayeh, membro do CNT. Essayeh disse que o lugar do enterro será mantido em segredo para “evitar qualquer risco de discórdia entre o povo líbio”. Kadafi, que dirigiu a Líbia com mão de ferro durante 42 anos, foi morto nesta quinta-feira em sua cidade natal, Sirte, e seu corpo foi conduzido a Misrata.
(Com agências EFE e France-Presse)